Publicidade de cerveja viola proteção à criança, diz estudo
( Da revista “Exame”, em 20/08/2015)
Um estudo realizado no Departamento de Psiquiatria da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp) e na University of Connecticut (UConn), nos
Estados Unidos, apontou para uma série de violações ao Código Brasileiro de
Autorregulamentação Publicitária cometidas pela publicidade de cerveja no
Brasil, em especial ao princípio da proteção a crianças e adolescentes.
A pesquisa Propaganda de bebidas alcoólicas e relação com o público
adolescente, conduzida por Alan Vendrame com o apoio da FAPESP, concluiu que as
regras estabelecidas pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária
(Conar) não foram cumpridas pelas propagandas avaliadas. Foram analisados cinco
anúncios de grandes marcas de cerveja, selecionados entre os 30 veiculados na
mídia brasileira de novembro de 2010 a março de 2011.
A metodologia utilizada para
investigar o cumprimento das regras envolveu a aplicação de questionários a um
grupo de 150 alunos da rede pública de ensino do estado de São Paulo e a 35
profissionais de diferentes áreas que atendem crianças e adolescentes, entre
médicos, promotores de justiça, educadores e outros. Cada uma das diretrizes do
Conar foram traduzidas em perguntas e as respostas dos grupos permitiram aos
pesquisadores cotejar as peças de publicidade com as normas do Código. Os
adolescentes e profissionais participantes da pesquisa foram questionados, por
exemplo, se a mensagem veiculada pelos anúncios aparentava ser dirigida a
menores de idade, o que contraria as normas do Conar.
No entendimento de 79% dos integrantes
do grupo de profissionais, uma das campanhas viola essa regra, e o mesmo
julgamento foi feito por 81% dos adolescentes consultados. Também foi
perguntado aos participantes se as propagandas avaliadas associam o consumo de
álcool à direção de carros e motocicletas, avaliando se as peças violam o
princípio do consumo com responsabilidade social. Uma das campanhas
publicitárias fez tal associação no entendimento de 61% dos profissionais e 57%
dos adolescentes. “As normas foram estabelecidas para que a publicidade de
bebidas alcoólicas promova seu produto de forma socialmente responsável.
Mas, de acordo com as respostas dos adolescentes e dos profissionais que
participaram do estudo, a conclusão é que ocorre uma violação sistemática
delas, expondo o público ao risco de iniciar o consumo precoce de álcool e a
todos os prejuízos decorrentes disso”, disse Vendrame.
Segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), o consumo de álcool está relacionado a 3,3 milhões de mortes por
ano.
Dessa forma, afirmou Vendrame, o controle eficiente da propaganda de
cerveja entre crianças e adolescentes é uma questão de saúde pública. “A
proteção de populações vulneráveis, como crianças e adolescentes, é uma das
estratégias globais para reduzir o consumo nocivo de álcool. Adequar a
publicidade das bebidas alcoólicas de modo a não incentivar seu consumo entre
menores de idade terá impacto também nas gerações futuras.”
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