(Em 11 de Setembro de
2014 by mairakubik – território de maíra)
Pernas abertas, calcinha aparecendo,
blusa levantada. Se fossem modelos adultas, estaríamos discutindo aqui no blog,
mais uma vez, a objetificação do corpo mulheres. Mas são crianças e as fotos,
do ensaio “Sombra e água fresca”, publicado pela revista Vogue Kids em
setembro, praticamente falam por si.
“Muitas vezes quando pensamos em
pedofilia imaginamos um tio pervertido ou em um cara se escondendo atrás de um
computador, ou de algo escondido, secreto. Mas a gente não fala de uma cultura
de pedofilia, que está exposta diariamente, onde a imagem das crianças é
explorada de uma forma sexualizada.
A Vogue trouxe um ensaio na sua edição kids
com meninas extremamente jovens em poses sensuais. Alguns podem dizer que é
exagero. Que é pelo em ovo. Eu digo que enquanto a gente continuar a tratar
nossas crianças dessa maneira, pedofilia não será um problema individual de um
‘tarado’ hipotético, e sim um problema coletivo, de uma sociedade que
comercializa sem pudor o corpo de nossas meninas e meninos”, afirmou a
roteirista Renata Corrêa, uma das primeiras a criticar publicamente a revista.
A arquiteta Tuca Petlik conta que
ficou chocada quando viu a matéria. Foi ela quem tirou as fotos acima –
editadas para preservar a identidade das meninas. “Como ninguém que trabalhou
na matéria questionou? Produtor, maquiador, fotógrafo, diagramador, revisor,
diretor de arte, editor de texto, direção…
Ninguém se ligou que estava um pouco
demais? Que dureza ver que ainda temos um caminho tão longo para percorrer em
busca de uma sociedade que valorize a infância, que proteja nossas crianças,
que não veja a mulher e seu corpo como mercadoria, que amplie os ‘modelos de
beleza’. etc… É triste”. Tuca é mãe de Maya, de dois anos. “Como mulher, como
mãe, como mãe de uma menina, eu sinto revolta”.
Yolanda Domínguez, artista plástica
espanhola que já realizou performances no Brasil questionando a indústria da
moda, afirma que “é alarmante a sexualização prematura a que as meninas são
submetidas por meio de bonecas (Brads, Barbies…), desenhos animados e agora, a
moda. Essas imagens possuem uma clara conotação sexual: meninas com pernas
abertas, deitadas, levantando a camiseta ou trazendo um peixe para a boca. As
meninas aprenderão que atitude se espera delas”. Yolanda, que é editora do site
Strike the Pose, avalia que a Vogue cometeu um erro enorme e defende que a
revista “deveria pedir desculpas imediatamente”.
Jornalista e analista de moda, Vivi
Whiteman lembra que “a moda tem como regra trabalhar com meninas muito novas,
que começam com seus 13 anos. Não sei quantos anos têm as moças das fotos, mas
tenho certeza de que foram autorizadas pelos pais”. Para Vivi, a moda não é exatamente o mais ético dos mundos
e não tem pudores com nenhum tipo de sensualidade. “Ao longo dos anos temos
grandes obras que abordam o tema da sexualidade infantil, de Freud a Nabokov. A
questão é que num ensaio de moda feito para vender produtos e comportamento não
há espaço para teoria, nem para discussão, nem para aprofundar nada. Não é
questão de demonizar a revista, mas de fato é o caso de ampliar o debate sobre
essa questão. Não é moralismo, mas a constatação de que essas imagens geram
certas reações, elas não são neutras nem existem num universo ideal. Os pais
precisam se colocar e parar de fingir que esse tema não existe. A revista é só
mais um exemplo de um comportamento que está na mídia e também na educação”.
O blog apurou que algumas pessoas já
fizeram denúncias ao Ministério Público e que instituições de defesa da criança
e do adolescente preparam-se para uma ação coletiva. Mas segundo a Ferraz
Assessoria de Imprensa, que cuida da conta da revista, até o momento não há
nada a declarar porque “não chegou nenhuma notificação. Tudo o que existe são
burburinhos na internet”.
Dizer o quê, com um
fato patife como esse? É a nossa sociedade de consumo, egoísta e hedonista,
nosso modus vivendi competitivo... A definitiva coisificação do ser feminino...
E assinar embaixo o
artigo da Maíra!
Eduardo Hirata
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