Por: Maria Helena
Masquetti*, no “Blog da ANDI”, 01/08/2017
Conforme
amadurecemos, nossa noção de mundo se amplia, passando daquilo que nossa vista
alcançava quando pequenos até chegar ao seu tamanho físico real. Com o decorrer
do tempo, muita coisa muda em nossas vidas, mas o que vivemos e sentimos na
infância não deixa de existir por isso. Válido para as experiências boas ou
não.
“O mundo é
maravilhoso!” ou “O mundo é ruim!” são exclamações comuns de se ouvir, mas que,
muitas vezes, podem não referir somente ao mundo presente e, sim, àquele que
esteve um dia bem próximo de nós e com o qual interagíamos. Um mundo restrito,
mas que falava com a gente e com o qual também podíamos falar. Ou, na pior das
lembranças, um mundo onde só ele falava sem se importar com o que se passava
com a gente. Quem associou com o que o marketing faz hoje com nossas crianças,
o fez com razão.
Assim, o mundo para
as crianças não chega a ser muito maior do que o espaço que engloba sua casa,
sua família, seus vizinhos e a escola. Caso nos esqueçamos disso de vez em
quando, é importante ter em mente que o marketing nunca esquece, além de
pesquisar continuamente para saber como as crianças percebem o seu entorno.
Basta observar alguns comerciais dirigidos à infância onde um grupo de três ou
quatro crianças, usando certo produto, é suficiente para justificar o apelo
final do filme: “Todo mundo está comprando, todo mundo está usando, só falta
você!”. Considerando que as crianças acreditam no que ouvem e veem, aquelas
poucas crianças do comercial representam mesmo todo o mundo para elas. E é esta
convicção que leva tantas crianças ao desespero enquanto suplicam que os pais
lhe comprem o objeto anunciado.
“Todo mundo tem
celular, só eu que não!”. Embora este tipo de queixa seja muito comum entre as
crianças e adolescentes, uma família não consumista em sintonia com a escola, e
vice-versa, pode mostrar aos pequenos que esse “todo mundo” está, isto sim,
pintando, criando, lendo, correndo, explorando espaços e brincando lá fora em
lugar de se prostrar diante das telas.
Se as crianças
puderem observar, por exemplo, que, na comunidade da qual fazem parte, todos
usam os calçados que julgam mais confortáveis independentemente de marcas ou
modelos, não terão porque sofrer tanto se não puderem ter um tênis de marca.
Se, na escola, todas as crianças consumirem sucos naturais e as cantinas
oferecerem alimentos saudáveis, elas não estarão expostas à estratégica
tentação visual das tranqueiras e refrigerantes.
Embora refletir
sobre isso não tenha sido suficiente para inibir as ações do marketing
infantil, pode, no entanto, ajudar os pais, os responsáveis e as escolas a
confiar no quanto a comunidade unida e os exemplos saudáveis que podem dar são
seus melhores aliados na educação das crianças.
“Mas, e quando a
criança crescer e passar a interagir com o mundo em sua real dimensão?”. Quem
já ouviu a frase: “A primeira impressão é a que fica”, pode considerá-la válida
também para esta primeira noção de mundo que as crianças têm. O modo como ela
percebia seu mundo é o que prevalece. É muito mais fácil para um jovem se sentir
aceito em seus grupos e resistir à compulsão consumista quando esteve protegido
do assédio comercial até amadurecer para compreender e julgar as manobras de
vendas.
Aprendendo com a
vida no campo, quando o broto de café se torna um pequeno arbusto, o agricultor
já não precisa cuidar dele como nos primeiros dias, porque suas raízes já se
fincaram no solo, tornando-o mais resistente às intempéries e aos ataques
daninhos. Assim também, em lugar de desejar tantas coisas pela indução do
marketing, nossas crianças precisam justamente ser protegidas dele até que
possam construir melhor sua identidade. Depois disso, serão escolhas feitas por
pessoas mais seguras e provavelmente melhor convencidas, pela experiência grata
da infância, de que o mundo todo pode ser mais feliz sem a pressão do consumo.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
(*) Maria
Helena Masquetti é graduada em Psicologia e Comunicação Social, possui
especialização em Psicoterapia Breve e realiza atendimento clínico em consultório
desde 1993. Exerceu a função de redatora publicitária durante 12 anos e hoje é
psicóloga do Alana.
[Fonte: Envolverde]
· Fica o alerta: o poder
do marketing, o poder da propaganda, sobretudo às Crianças! E como temos, em
nosso dia, na mídia, nas ruas, nas conversas, ‘marketing-propaganda-merchandising
e coisa que valha’, inflacionando as mentes das Crianças e distorcendo “suas
vontades, valores e desejos”.
·
· É a era plena do consumismo, do
individualismo, do capitalismo selvagem e predatório, do valor em dinheiro!
·
· Neymar e futebol, a
meninada quer ser como ele, ir pra
Europa, olha quanto dinheiro, quanta fama, quanta coisa bacana, quanta garota
bonita, gata! Celular? Hoje não dá prá viver sem ele! Como sabe saber onde meu
filho está, o que faz, com quem, se ele não tem celular? E por aí vai, assim,
estamos ‘educando’ nossas Crianças, preparando “as futuras gerações”...
·
· Em tempo: além de
outras regulamentações no setor “propaganda para Crianças”, o CONANDA/Conselho
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, baixou a Resolução n.º
163/2014, que normatiza o que se deve considerar propaganda abusiva para Crianças.
(Eduardo
Hirata)
************************************************************