O evento teve a presença do escritor, teólogo e
professor Leonardo Boff, que trouxe ao debate a sua experiência política,
social e filosófica sobre a importância da manutenção da democracia e do
levante popular. (Foto: Carlos Pereira)
Os desafios e perspectivas
da participação popular mediante a conjuntura nacional e regional foi a agenda
de discussão que mobilizou representantes dos mais de 38 conselhos estaduais a
se reunirem durante o 3° Interconselhos do Maranhão, na tarde de terça-feira
(1°), no auditório da Assembleia Legislativa do Maranhão, em São Luís.
O evento, promovido pela
Secretaria Estadual de Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop), teve
a presença do escritor, teólogo e professor Leonardo Boff, que trouxe ao debate
a sua experiência política, social e filosófica sobre a importância da
manutenção da democracia e do levante popular.
O secretário estadual de
Direitos Humanos e Participação Popular, Francisco Gonçalves da Conceição,
falou sobre a função dos conselhos na atual conjuntura política nacional. “O
Interconselhos foi criado para ser um espaço de articulação das demandas da
sociedade civil junto ao poder público. Não se muda a realidade de pobreza do
estado sem o empoderamento dos movimentos sociais. Na história da democracia brasileira,
os conselhos de direitos se tornaram um símbolo da participação popular e o
debate de hoje é uma posição política do governo do Estado na defesa
intransigente da democracia brasileira”, disse.
Na abertura do evento, a
presidente do Conselho Estadual da Mulher, Lúcia Gato, cantou o hino nacional
acompanhada de percussionista que executou ritmos da cultura popular e
afro-brasileira, sugerindo ao debate um pensamento e debate regional para
questões nacionais. “Temos uma grande missão que é trabalhar sem descanso para
que as políticas públicas fiquem de pé. Estamos aqui em nome daquilo que a
sociedade civil reivindica e quer executar: nenhum direito a menos”, pontuou
Lúcia Gato.
Marta Bispo,
representante do Conselho Nacional dos Bispos do Brasil, saudou as mulheres,
comunidades, pastorais e educadores, ressaltando o valor da manutenção da
democracia por meio da participação popular. “Nós continuamos a resistência em
favor dos direitos e da participação popular, da democracia e da liberdade.
Estão nos tirando o direito de ser cidadão no país”, falou Marta Bispo.
O
desafio da crise nacional
O teólogo iniciou a palestra destacando a importância pedagógica
e social da crise política nacional como uma oportunidade de repensar o modelo
de desenvolvimento do Brasil. “A crise sempre aparece de tempos em tempos
quando o povo adquire consciência de direitos”, disse Boff.
Para o escritor, três
grandes sombras marcam a história brasileira: o genocídio indígena, a
escravidão negra e forma violenta de colonização descrita no livro “Casa Grande
e Senzala”, do historiador Gilberto Freire. “O Brasil se transformou numa
empresa que reproduz a casa grande e senzala com concentração de renda a uma
oligarquia que controla as políticas econômicas pautado num modelo patrimonialista”,
explicou Boff.
Leonardo Boff propôs
também a observação de pensar um novo modo de desenvolvimento social para o
Brasil, considerado a 7ª economia do mundo, a partir da conjuntura geopolítica
mundial, com os novos acordos políticos com a China e o BRICS e as estratégias
de dominação dos Estados Unidos no controle territorial do Atlântico Sul. “Uma
estratégia imperialista é desestabilizar todos os governos progressistas com o
golpe parlamentar”, alertou.
A mensagem final do
escritor foi a busca de caminhos e soluções que quebre com a hierarquia
estabelecida. “Não esperem nada de cima. Inaugurem uma nova forma de democracia
participativa, com a autoprodução e a cooperação de todos. Para viver com
dignidade é necessário trabalho e renda para todos e os movimentos sociais
poderem elaborar um novo projeto de Brasil”, finalizou.
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(Trecho de entrevista de Leonardo Boff a “Homem de vícios antigos” - Leonardo Boff: Estamos indo ao encontro de alguma convulsão
social,
,
publicada no DCM/Diario do Centro do
Mundo, 03/08/2017. BOFF simplesmente se define como ‘“teólogo, filósofo, articulista semanal
do Jornal do Brasil online e escritor”. Deixou de fora outros predicados, num
gesto de desapego coerente com suas escolhas religiosas e políticas.)
...
Você
visita São Luís para participar do 3º. Interconselhos, o Encontro de Conselhos
do Estado do Maranhão, reunindo diversas instâncias de participação popular.
Conselhos de Direitos são uma importante conquista na democracia no que se
refere à participação popular. Qual a importância destes espaços na atual
conjuntura?
Não podemos esperar nada de cima, do Parlamento e dos
que controlam as finanças e manipulam o mercado. Estes não estão interessados
num projeto de nação, mas de garantir a natureza de sua acumulação, que é uma
das maiores do mundo.
Apenas 77.400
biliardários controlam grande parte de nossas finanças (0,05% da população). As
mudanças vêm daqueles que precisam delas, que são as classes oprimidas,
subalternalizadas no campo e na cidade, com os aliados que não sendo da mesma
classe, assumem sua causa.
Eu espero que
esses movimentos se articulem, ganhem as ruas e praças, pressionem os poderes
centrais de Brasília e consigam uma reforma política com outro tipo de
democracia participativa, onde eles, os movimentos, ajudem a formular os
investimentos, a realizá-los e a controlá-los.
Aí sim, teríamos um outro Brasil, o Brasil das maiorias.
Os neoliberais brasileiros querem um Brasil menor, para uns oitenta milhões
apenas. Os outros, os 125 milhões que se lasquem.
95% dos
brasileiros avaliam mal o governo de Michel Temer, mas esta insatisfação
generalizada não consegue extrapolar as redes sociais. Na atual conjuntura,
qual o papel dos movimentos sociais, de defensores de direitos humanos, enfim,
da militância, de modo geral?
Talvez
uma frase do maior pensador cristão e africano, Santo Agostinho, do século V,
nos dê a resposta: alimentar esperança, mas atender às suas duas belas irmãs: a
indignação e a coragem. A indignação para rejeitar as coisas ruins. A coragem
para mudá-las.
Hoje os
movimentos devem se indignar e mostrar isso nas manifestações, nas praças, nas
redes sociais, nas rádios comunitárias e jornais dos movimentos e principalmente
ter coragem para as mudanças que devem ser feitas na estrutura social. Esta é
uma das mais injustas do mundo.
Isso se faz pela
política, participando, elegendo representantes confiáveis e querendo ter lugar
nas decisões de governo, pois, a democracia implica participação.
Sem isso ela é
sua própria negação, senão uma farsa. Desenvolvi estas ideias no livro Virtudes
para um outro mundo possível[Editora Vozes, 2005], em
três pequenos volumes.
·
* Quando em tempos de
tantas e tantas criticas negativas pela ‘falta de participação popular, de
controle social’, na política pública social de Açailândia do Maranhão – como bem
se constatou na assembléia agosto do COMUCAA/Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente, quinta-feira, 03/08, e também na assembléia agosto do
Fórum DCA, 05/08 - , município com mais de vinte “conselhos’ criados legalmente
e bem menos de dez funcionando aos trancos e barrancos, na maioria desvirtuados
e desviados de suas verdadeiras atribuições e funções, a um custo bem caro aos
cofres públicos, seria bom tom aprendermos e apossar-nos do que foi o 3º
Encontro Interconselhos do Maranhão, com representantes açailandenses nos
Conselhos Estaduais, e da sabedoria e
dos ensinamentos de Leonardo Boff.
(Eduardo Hirata)
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