(Por: Luciano Gomes dos Santos, sociólogo, publicado no “Portal da ANDI”,
12/06/2014)
A Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil promoveu, neste ano, a Campanha da Fraternidade sobre
Tráfico Humano, que é o cerceamento da liberdade e o símbolo do desprezo do ser
humano. A vida é reduzida a produto que pode ser negociado. O mau explora as pessoas
em diversas atividades: construção, confecção, entretenimento, sexo, serviços
agrícolas e domésticos, doações ilegais, remoção de órgãos e outras. Essa é uma
discussão muito oportuna, especialmente em função da Copa do Mundo no Brasil. O
tráfico humano gera, por ano, aproximadamente, R$ 65 bilhões no mundo. É uma
cifra espantosa. As pessoas são atraídas por trabalho, porém, quando chegam ao
destino, descobrem que serão exploradas, terão que se prostituir. O tráfico
está vinculado à migração. Milhares de estrangeiros deixam suas culturas em
busca de dignidade e, quando se encontram no novo país, tornam-se
"escravos" em diversos trabalhos, principalmente se estiverem vivendo
de forma ilegal.
No Brasil, temos nos
deparado com a exploração de mulheres, crianças e adolescentes tanto no mercado
do sexo quanto nas atividades produtivas agrícolas ou urbanas, nesta última, na
confecção de roupas. Os traficantes se aproveitam da fragilidade econômica e
social dos indivíduos em processo de migração para aliciá-los. Nessa
perspectiva, o tráfico humano é crime que deve ser denunciado e eliminado de
nossa sociedade. A pessoa é desonrada em sua dignidade, ferida em seus
sentimentos. A sua vida é subtraída nos aspectos físicos e psicológicos.
Destacam-se como formas de tráfico humano exploração no trabalho, exploração
sexual, extração de órgãos e doação ilegal de crianças e adolescentes. Esses
crimes aumentaram nos últimos anos devido à competição econômica e à
mercantilização do trabalho. O Brasil, como sede da Copa do Mundo neste ano,
torna-se vulnerável ao tráfico humano, principalmente no que diz respeito às
explorações sexual e do trabalho. Milhares de brasileiros e estrangeiros
estarão circulando pelas principais capitais do país. Nesse contexto, abrem-se
diversas possibilidades para a exploração do ser humano. A Copa deve ser a
oportunidade para denunciar e combater o tráfico humano, pois bilhões de
pessoas estarão sintonizadas nos jogos no Brasil. A mídia, a política, a
família, a escola e a religião devem unir forças para combater esse crime que
vem destruindo a vida de milhares de pessoas em todo mundo. O período dos jogos
da Copa poderá ser utilizado por todos nós, cidadãos brasileiros, buscando
identificar causas, vítimas e causadores do tráfico humano.
Também podemos
reivindicar programas de reinserção dessas vítimas na vida familiar e social,
além de cobrar e promover ações de prevenção e de resgate da cidadania das
pessoas em situação de tráfico. O tráfico humano deve ser combatido por toda a
sociedade. O ser humano possui em si o pertencimento ao seu ser, nasceu livre e
deve permanecer livre para construir sua vida no seio da humanidade. Ninguém
merece ser reduzido a mercadoria. A pessoa é valorativa em si mesma e não pode
valer por utilitarismo. Extirpar o tráfico humano deve ser o grande projeto da
humanidade neste início do século 21. A Copa torna-se o grande espaço para
promover não apenas os jogos e a interação de diversas culturas, mas o lugar da
promoção da vida que se encontra na vulnerabilidade social.
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