Às vezes, basta uma
oportunidade
·
Prá ver e sentir a importância
do esporte e do lazer para nossas Crianças e Adolescentes. Como política
pública social, educacional ou de lazer, nossa Açailândia do Maranhão deixa a
desejar.
·
Instalações esportivas inseguras
e insalubres, deterioradas e abandonadas, não adequadas às atividades de
Crianças e Adolescentes, sejam quadras, ‘ginásios’, campos de futebol, etc.
·
As “escolinhas de futebol”,
que são muitas e com perto de mil Crianças e Adolescentes, quase nenhuma
atenção recebem do ‘poder público’, sendo a mais regular financiamentos há anos
seguidos pelo FIA/Fundo Municipal para a Infância e a Adolescência, deliberado
pelo COMUCAA/Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
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Até que o ‘orçamento público
municipal’ “contempla” as escolinhas de futebol/futebol de base, mas ‘orçamento
público’ é mesmo uma peça de ficção, como diz o povo, “... conversa prá boi
dormir...”.
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Mas como santo de casa nunca
fez, nunca faz e jamais fará milagres, vejamos o artigo a seguir, de um bom
exemplo, uma boa prática por este Brasilzão afora...
(Eduardo
Hirata)
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Às vezes, basta uma
oportunidade
por Ana Luiza Basilio — na “Carta
Capital”, 15/09/2017
A chegada de um
centro de iniciação esportiva em Franco da Rocha mudou a vida das adolescentes
Tainara e Ane
Tainara Souza
Ribeiro e Ane Carolina Silva Ramos têm mais a compartilhar do que a predileção
pela jogadora Marta e pelo craque argentino Lionel Messi. Amigas desde a infância e moradoras do bairro
Vila Palmares, no município paulista de Franco da Rocha, as duas sempre
perseguiram a paixão pelo futebol.
As peladas no campo
de terra da região nunca foram problema, nem as caminhadas de 40 minutos que as
separavam do local. Tudo em nome da inspiração. “O futebol me acalma”, assegura
Ane. “Quando jogo, sou outra”, afirma Tainara.
Em junho de 2016,
no entanto, a distância das garotas até o hobby começou a se
encurtar. Às vésperas das Olimpíadas, foi inaugurada em uma das ruas do bairro Chácara
São José uma volumosa construção em local conhecido, mas evitado pelos
moradores até então, por ser ponto de apoio ao tráfico de drogas.
Por ali, a
ilegalidade parecia chegar ao fim. Quadras, arquibancadas, mezanino, vestiário,
academia... Concretizava-se o Centro de Iniciação ao Esporte (CIE), segundo
equipamento esportivo a ser inaugurado em Franco da Rocha desde 1979.
Um convite ao
esporte e uma tentativa de ampliar o repertório dos quase 147 mil habitantes,
que, apesar da melhora dos indicadores sociais nas últimas décadas, circulam
por uma das mais pobres regiões da Grande São Paulo.
O CIE oferece 20
modalidades esportivas olímpicas e não olímpicas. Tainara e Ane seguem
convictas com o propósito de jogar futebol. Deixaram de jogar simples peladas e
partiram para treinos oficiais semanais. As adolescentes de 16 e 17 anos,
respectivamente, agora pertencem ao time de futebol feminino de Franco da
Rocha.
As amigas se
distanciaram um pouco, é verdade, mas só durante os treinos e jogos.
Tainara é atacante e, inclusive, detém a marca do gol mais bonito pela segunda
divisão do campeonato regional do ano passado, de bicicleta. Ane, por sua vez,
prefere construir as jogadas como meia ou lateral esquerda.
Elas se somam à
lista dos 1,2 mil atendimentos feitos, em média, por mês no CIE. E não há só
jovens no espaço, mas também crianças e idosos. Não há restrição de idade e a
participação requer apenas o cadastro prévio e a liberação médica para a
atividade escolhida.
Há ainda exercícios
orientados para mulheres grávidas de baixa renda encaminhadas pelas unidades
Básicas de Saúde e para 40 crianças da rede escolar com síndrome de Down,
dificuldade motora e déficit de atenção.
O objetivo é
possibilitar um amplo acesso a atividades esportivas e também mirar as
competições. Segundo o treinador de handebol da cidade e administrador do CIE,
Marcos Machado, aliar a formação inicial com a competição garantiu projeção
esportiva a Franco da Rocha. “Estamos em evidência e temos sido procurados por
vários outros municípios para fazer o intercâmbio dessa experiência.”
Para Silmara
Ciampone, secretária-adjunta de Cultura, Esporte e Lazer, o percurso é
significativo, sobretudo para Franco da Rocha, município que sempre recebeu
mais presídios e cadeias do que equipamentos de lazer e cultura.
O CIE é mantido por
20 professores de Educação Física, além de gestores e profissionais de serviços
gerais. A unidade de Franco da Rocha, que contou com repasse do governo federal
de 3,8 milhões e contrapartida de 300 mil do município, é a única entregue das
220 previstas em todo o País pelo Programa de Centros de Iniciação ao Esporte
(CIE), do Ministério do Esporte.
Os CIE compunham o
tal “legado” das Olimpíadas, mas, como sempre, quase nada restou. Com
investimento total de 787,5 milhões, o programa prevê a entrega de outras 95
unidades até dezembro de 2018.
Os demais contratos
estariam em fase de ajustes de projetos e licitação. Por ora, as luzes estão
sobre Franco da Rocha. Os desafios também. “O CIE é um atrativo, mas ganhar a
guerra contra o tráfico é das tarefas mais difíceis. Ainda precisamos de
suporte social para enfrentar essa questão”, reconhece Ciampone.
Enquanto
isso, a estratégia do município tem sido a de ancorar o Centro nas
leis e garantir a sua continuidade, independentemente da gestão atuante, hoje
nas mãos do petista Kiko. É o caso do Plano Municipal de Esportes, aprovado
pela Lei Complementar nº 271, que orienta as ações esportivas de Franco da
Rocha pelos próximos dez anos e determina que o CEI só pode ser utilizado para
atividades esportivas.
Nada mal para um
espaço que tem encurtado distâncias: Tainara e Ane também foram sondadas para
integrar o time de futebol feminino do Centro Olímpico de São Paulo. Além
disso, Ane tem a possibilidade de integrar a equipe feminina de uma instituição
privada de ensino superior e, em contrapartida, ganhar uma bolsa de estudos.
(Fotos: Orlando Junior,
Prefeitura de Franco da Rocha)
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