O FUTURO DOS
JOVENS EM RISCO?
(Daniel
Cerqueira e Rodrigo Leandro de Moura, pesquisadores)
Desde sempre se fala que os jovens são o futuro da nação. Mas o que nós
estamos fazendo com os nossos jovens no Brasil? Os dados sobre mortalidade
violenta juvenil mostram uma realidade trágica. Por exemplo, em Alagoas a taxa
de vitimização violenta letal de homens de 20 anos ultrapassou o incrível
patamar de 456 por grupo de 100 mil indivíduos. A violência perpetrada contra
jovens é, porém, um fenômeno disseminado no País e que tem crescido
substancialmente nas últimas décadas. A cada ano, uma maior proporção de jovens
é assassinada. Mais do que isso, as vítimas são cada vez mais jovens: a idade
da taxa máxima de homicídios que era de 25 anos em 1980 passou para 21 anos em
2010. Qual o perfil desses jovens vitimizados? São tipicamente homens, pardos,
com 4 a 7 anos de estudo, mortos nas vias públicas, por armas de fogo, nos
períodos onde há maior interação social.
Extremamente preocupante também são as mortes ocasionadas por acidentes
de transporte. Nos anos 2000, com o aumento da renda do brasileiro e o aprimoramento
do mercado de crédito, sobretudo para aquisição de veículos automotores, muitos
indivíduos tiveram acesso a automóveis e motocicletas. Provavelmente, tal
fenômeno colaborou para que a taxa de óbitos em acidentes de trânsito
envolvendo jovens aumentasse 44,6% na última década. Nesse caso a vítima típica
é de jovens, brancos e com maior nível de escolaridade.
São incomensuráveis as perdas dessa tragédia, em termos de dor,
sofrimento, e desestruturação familiar. Por outro lado, esses óbitos geram perda
de expectativa de vida e, consequentemente, um custo econômico de bem-estar
para a sociedade que pode ser expresso monetariamente. Nossos cálculos
mostraram que as violências podem fazer reduzir a expectativa de vida ao nascer
em até quase três anos para os homens, dependendo do estado. Economicamente, o
custo anual com a vitimização violenta dos jovens pode corresponder até 6% do
PIB estadual (no caso de Alagoas). No geral, a morte prematura de jovens devido
às violências custa ao País cerca de R$ 79 bilhões a cada ano, o que
corresponde 1,5% do PIB nacional. O que fazer para reduzir a mortalidade?
Trata-se de uma tarefa complexa, que passa por um maior comprometimento
político das autoridades, reestruturação completa do nosso combalido sistema de
segurança pública e melhoria educacional, não apenas em anos de estudo, mas
também em qualidade. Investir no jovem é fundamental, não apenas para reduzir a
dramática taxa de vitimização violenta, mas para garantir o futuro da nação,
com indivíduos mais educados e produtivos.
O artigo acima é baseado no estudo preliminar "Custo da Juventude Perdida
no Brasil", realizado pelos pesquisadores e divulgado em
seminário sobre juventude realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Centro de Pesquisa
para o Desenvolvimento Internacional (IDRC, Canadá) e o Centro de Estudios
Distributivos Laborales y Sociales (Cedlas).
Daniel Cerqueira
Pesquisador do IPEA-RJ
Rodrigo Leandro de Moura
Pesquisador do IBRE/FGV-RJ