sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Adianta reduzir a maioridade penal?








Transformar os jovens infratores em bodes expiatórios não vai resolver o problema da segurança no Brasil


(Por Miguel Martins — publicado em “Carta Capital”-SP,  22/08/2014)

(Foto de Marcos Santos / USP Imagens : Jovens da Fundação Casa. Sistema pune muito, mas pune mal, diz analista)


A julgar pelas pesquisas de opinião, o Brasil é um país majoritariamente conservador. Em 2013, o instituto Datafolha aferiu que 48% dos brasileiros julgavam-se de direita ou de centro-direita, ante 30% da população que se identificava com pautas progressistas. Tal distância entre os espectros reflete em parte a opinião dos cidadãos com relação a alguns temas. O casamento gay é rechaçado por 49,7% da população, segundo pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes. São contrários ao aborto 71% dos brasileiros, de acordo com o Datafolha. Três quartos dos brasileiros, de acordo com a Universidade Federal de São Paulo, dizem ser contra a legalização da maconha. Essa tendência conservadora acentua-se de forma descomunal quando o tema é a proposta de redução da maioridade penal para 16 anos, aprovada por 89% da população, segundo pesquisa realizada por Vox Populi e CartaCapital no ano passado.

Embora criticada por juristas e especialistas em políticas públicas voltadas à criança e ao adolescente, a proposta tem ganhado fôlego no Congresso. Criada em 2011, a Frente Parlamentar pela Redução da Maioridade Penal conta com o apoio de mais de 200 deputados. A Proposta de Emenda Constitucional que defende o novo limite, de autoria do senador tucano Aloysio Nunes, candidato a vice-presidente de Aécio Neves, deve ir a plenário ainda este ano. Na outra ponta, o PT, tradicionalmente contrário à mudança, cede à tentação de agradar à parcela conservadora da sociedade, por cálculos eleitorais ou para tentar diminuir o estrago que a medida poderia causar. Como opção à PEC de Nunes, um grupo encabeçado pelos parlamentares Humberto Costa e Eduardo Suplicy, com participação da ministra dos Direitos Humanos, Ideli Salvatti, estuda apresentar um projeto que aumenta o tempo de pena para jovens infratores reincidentes em crimes graves, entre eles homicídio, latrocínio e estupro.

Ambas as propostas parecem ignorar a exaustão do sistema carcerário brasileiro, que convive com superlotação nas prisões comuns e nos centros de atendimento socioeducativo. A redução da maioridade penal poderia inflar ainda mais a população carcerária, atualmente superior a 550 mil presos, responsável por posicionar o Brasil entre os quatro países com maior número de presos no mundo. A situação poderia ser pior. Segundo um levantamento do Conselho Nacional de Justiça de 2012, há mais de 500 mil mandados de prisão não cumpridos, o que poderia dobrar a população carcerária brasileira. Na outra ponta, a proposta do PT esbarra na falta de espaço nos centros destinados à criança e ao adolescente. Em São Paulo, 90% das unidades da Fundação Casa apresentam superlotação.

Para Pedro Serrano, professor de Direito Constitucional da PUC, o Brasil atravessa um momento em que o clima político, cultural e midiático estimula o “punitivismo”: as soluções escolhidas para enfrentar a violência passam sempre pelo endurecimento das penas. “Acredita-se que há impunidade no Brasil, mas não é verdade. Punimos muito, mas punimos mal.” Segundo o jurista, as condições insalubres dentro das prisões impedem o maior controle por parte do Estado. “Isso estimula o surgimento do crime organizado. Ao se colocar na cadeia um usuário de drogas como se fosse um traficante, ele pode se tornar mais à frente um homicida.” Serrano menciona o caso dos Estados Unidos, onde se estima que 250 mil jovens são processados, sentenciados ou encarcerados como adultos todo ano. Em 17 estados, não há idade mínima para um jovem ser julgado na Justiça Comum. Apesar de as taxas de criminalidade terem caído no País desde os anos 1990, um estudo do Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC) estimou que jovens presos ao lado de adultos têm 34% mais chance de voltar a cometer crimes.

Fabio Paes, representante da ONG Aldeias Infantis e integrante do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, afirma que a formulação das perguntas sobre o tema nas pesquisas de opinião pode levar a distorções. “Quando o enunciado consiste entre ser a favor ou contra uma pauta que envolve punição, o cidadão tende a se posicionar favoravelmente.” Essa postura talvez ajude a explicar as diferenças entre os levantamentos realizados recentemente por Vox Populi e Datafolha. Enquanto o primeiro questionou se o cidadão concordava ou não com a redução, o segundo perguntou se os adolescentes que cometem crimes devem ser punidos como adultos ou precisam ser reeducados. Segundo o Datafolha, 74% defenderam a primeira opção. Uma proporção bem mais próxima daqueles que se opõem à legalização da maconha e do aborto.

Paes afirma que a adesão à proposta é motivada pelo desconhecimento da população das políticas públicas desenvolvidas pelo Ministério do Desenvolvimento Social e pela Secretaria de Direitos Humanos. O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, programa da SDH criado em 2012, busca garantir nacionalmente o cumprimento de modalidades previstas na legislação da criança e do adolescente que escapem à mera aplicação da punição. Há oito medidas que deveriam complementar a internação, entre elas a inclusão em programas comunitários, o tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico e a participação dos jovens em programas para alcoólatras e dependentes químicos.

Embora ofereça recursos e assistência metodológica, o Sinase foi adotado por poucos estados, constata Paes. Muitos deles nem sequer entraram com um projeto para captar a verba. Não por menos, 0,1% dos jovens em regime de restrição e privação de liberdade cumpre medidas socio-educativas no País, segundo a SDH. Antes de cogitar investir em soluções ineficazes como a redução da maioridade penal, é importante dar uma chance para aquilo que está à disposição, mas não é aplicado.


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(De Eduardo Hirata, pela Secretaria Executiva do Fórum DCA Açailândia – Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmen Bascarán)


E aqui em Açailândia do Maranhão, prá maioria da população adianta sim reduzir a maioridade penal, vai reduzir  e muito, a violência e a criminalidade... E para a maioria, se viesse “acoplada” à pena de morte, melhor ainda: ainda acabava de vez com a bandidagem dos “menores”...

Embora as instituições de proteção e defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes, a mais de um ano, tenham assumido em Brasília, lideradas pelo CONANDA/Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente , Conselho Nacional de Juventude e Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, uma “campanha”, em parcerias ampliadas e potencializadas com outras,  contra a redução da idade penal, a “onda pró-redução” parece um “tsunami”...

Aqui em nosso município, as principais instituições de proteção e defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente – os Conselhos Municipal/COMUCAA e Tutelar/CONTUA, tem se mantido em “obsequioso” silêncio, apesar das tentativas do Fórum DCA/dos Direitos da Criança e do Adolescente e do CDVDH-CB/Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmen Bascaran de uma agenda para sensibilização e debate com a sociedade açailandense.

O “Plano Municipal de Atendimento Socio-Educativo”, o “SINASE municipal”, por lei deveria ser aprovado e iniciado sua implementação, agora em dezembro de 2014, mas sequer se iniciaram os estudos, pesquisas e discussões sobre o tema, e que deveriam ser “puxados” justamente pelos dois órgãos públicos municipais, defensores dos DCA ( o COMUCAA, órgão de caráter político, de atuação  “no atacado”, e o CONTUA, órgão de atendimento resolutivo mas situações de ameaças e violações dos DCA, órgão de atuação “no varejo”).

Enquanto isso, o noticiário local continua inflacionado com as “ocorrências envolvendo adolescentes e jovens, em escala cada vez maior, assustadora mesmo”.

Como inexistem “programas, serviços – políticas públicas competentes, eficazes – de prevenção”, dá no que dá, como recente episódio divulgado pelo blog “rei dos bastidores” (“Policia Militar revoga a Constituição e aplica pena de constrangimento em jovens”, 19/08/2014, e “OAB vai se posicionar, sobre o caso dos possíveis excessos da PM em Açailândia contra jovens”, 22/08/2014).
Ou no desabafo do Major PM Eurico Alves, em recente evento público, reclamando justamente desta falta/ineficácia de políticas públicas (programas, serviços, projetos, atividades, órgãos...), o que leva a sociedade a remeter para a PM a “solução de todos os problemas sociais” (“rebeldia juvenil”, bullying escolar, carências-fragilidades-incompetências- conflitos familiares,  drogadição e tráfico, “pequena criminalidade”, vandalismo...).

Mas enquanto a sociedade açailandense, em sua, admitimos, esmagadora maioria, aliada a grande parte do governo municipal (seus órgãos, serviços, programas...) “exige” a redução da idade penal (... ideal se conjugada á pena de morte...), escamoteia, varre para debaixo do tapete a verdade incontestável de que muito pouco, para não dizer quase nada, tem feito e faz, para implementar o ECA/Estatutuo do Criança  e do Adolescente, Lei Federal n.º 8.069/90, que tanto combatem mas de fato desconhecem e não respeitam...

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