“O triunfo da
banalidade”
Reflexões sobre o Israel de Netanyahu e a mídia nativa,
inspiradas por Hannah Arendt e Janio de Freitas
(Por Mino Carta —
publicado 08/08/2014, em “Carta Capital”)
Hannah Arendt, a grande
filósofa judeo-alemã, escreveu um admirável ensaio a respeito da banalidade do
mal. Regressava de Israel, onde acompanhara o julgamento de Adolf Eichmann na
qualidade de enviada da revista New Yorker. Descobriu, e com contundente
precisão esclareceu, que o criminoso nazista não passava de um ser cinzento e
medíocre, funcionário de zelo extremado incapaz de perceber a maldade absoluta
da sua tarefa: entregar à insana fúria hitlerista milhões de judeus.
A pensadora não foi
perdoada, tanto em Israel quanto nos Estados Unidos, por sua análise do
processo e do réu, enfim condenado à morte por enforcamento, pequeno indivíduo
perdido na trama monstruosa como um lambari preso em uma rede de mar alto.
Hannah Arendt não pretendia, obviamente, diminuir a responsabilidade de
Eichmann, e sim traçar-lhe o perfil e mostrar como o mal se torna banal em
certas circunstâncias. Foi execrada, no entanto, e até perseguida.
Há, no episódio, claros
aspectos de brutal intolerância, de descabida prepotência. Não é incomum,
contudo, que os homens não saibam aproveitar as lições da história. O Israel de
Netanyahu e Lieberman porta-se com subdoloso pretexto e desvairada violência no
revide desproporcional aos mísseis do Hamas e no ataque a Gaza. De início, logo
após a invasão, o Ocidente assistiu impassível, quando não com a aprovação de
alguns governos, ou a tênue, protocolar contrariedade de outros, sem contar o
apoio de boa parte da mídia, empenhada em valorizar na comparação a presença de
Putin por trás do conflito ucraniano.
Deste ponto de vista, a
The Economist está acima de qualquer suspeita: de hábito subscreve as posições
israelenses. Nesta semana, surpreende ao publicar farto texto sobre a imagem
negativa que o Israel de Netanyahu e Lieberman está construindo mundo afora. O
semanário inglês alinha também outros resultados da pesquisa GlobeScan/Pipa,
realizada entre 2013 e 2014 em 21 países. Por exemplo, até nos Estados Unidos a
desaprovação a Israel fermenta entre os cidadãos entre 18 e 40 anos. Os
eleitores republicanos ainda apresentam maioria a favor, mas o contrário se dá
com os democratas. No mundo todo, as ações israelenses estão em baixa, e tendem
a cair mais.
De outro gênero de
banalidade, aquela frequentada com sofreguidão pela mídia nativa, fala com
maestria Janio de Freitas na edição de terça 5 da Folha de S.Paulo. A meu
respeito, Janio de Freitas disse, algo em torno de 50 anos atrás, que se
chegasse um marciano ele, certamente, se chamaria Mino. Alguns moços de bem
liam então publicações fundamentais, Bolinha e Luluzinha, e ali de vez em
quando surgia um marciano de nome Mino, justamente. Não tive até hoje o prazer
de conhecer Janio de Freitas, mas leio frequentemente seus textos com muito
apreço.
“O banal faz escândalo”
é o título da coluna a que me refiro, e que enxergo como aula de jornalismo, de
aprendizado impossível, está claro, para outros colunistas do mesmo jornal.
Trata das duas CPIs montadas, como diz o autor, “a pretexto da Petrobras, de
dose dupla cujo despropósito denuncia a sua finalidade de apenas ajudar
eleitoralmente a oposição”. E exploradas com manchetes retumbantes pela mídia,
inclusive pela Folha.
Comenta Janio de
Freitas que as lideranças oposicionistas, dos baixios de sua preguiça crônica,
ficam à espera das pretensas denúncias midiáticas, como, nos últimos dias, no
caso dos depoimentos de funcionários da estatal. Clama-se contra o corriqueiro,
banal na condição de useiro. Ocorre, porém, que o jornalismo pátrio se aplique
até a medula para abastecer de argumentos os candidatos anti-Dilma. Por mais
banais, até a insustentabilidade. Haverá, entretanto, quem repare?
É o triunfo da
banalidade. Quanto ao mal, presta-se a exibir faces variadas. A hipocrisia, a
desfaçatez, a mistificação são algumas delas.
(Eduardo Hirata)
Que diferença há entre a Alemanha nazista de Hitler e o Israel sionista
de Netanyahu? Hitler queria exterminar judeus, Netanyahu quer exterminar
palestinos... Hitler matou crianças, Netanyahu mata crianças... Hitler usou
câmara de gás, Netanyahu usa ultra moderníssimos sofisticados F-16, F-18 americanos, mira a
laser e outras formidáveis maravilhas da indúsyria de guerra de Tio Sam...
Que diria Hanna Arendt deste Israel sionista de Netanyahu, em que se
encaixaria sua teoria da “banalidade do mal” no genocídio do povo palestino?
Mas não há espaço tampouco tempo para debater estas “frescuras filosóficas”
como me disse fervorosa defensora do sionismo israelensse, pois para Israel, e
as gentes e o mundo que o apoiam, o que importa em aniquilar Gaza, exterminar
@s palestin@s, “cortando o mal pela raiz, e de uma vez por todas”...
E aí, como queria Hitler, implantar o seu “império de mi anos”...
Com o mal tão banal, há espaço para “Paz na Palestina, Paz em Gaza, Paz
em Israel”?
Não, será uma “paz banal”, também...
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