Brasil sem
rumo? Avanço do obscurantismo e da perda da generosidade.
(Um artigo
de Luis Nassif, publicado em Claudio Maranhão, 22/11/2013)
(Prá ajudar entender estes
complicados tempos brasileiros, maranhenses, açailandenses, onde chafurdamos no
lamaçal...Posso não concordar com tudo que está escrito, mas que dá prá pensar,
dá...Eduardo Hirata)
O Brasil
atravessa um momento complicado, de perda de rumo.
Nos últimos anos, a orquestração da opinião
pública dependeu de dois discursos polarizadores: o da presidência da República
e o da chamada velha mídia (os quatro grupos jornalísticos do eixo Rio-São
Paulo que dominaram o mercado de opinião nas últimas décadas, assumindo o papel
da oposição).
Essa
orquestração se dava em cima de uma partitura de fácil assimilação: a luta do
“bem” contra o “mal”.
Do lado da mídia, o "mal" era
representado por um governo que ameaçava o país com o "chavismo", o
"castrismo", o "bolivarianismo" e outros mitos da guerra
fria. Do lado do governo e do PT, um país ameaçado pelo que ficou batizado como
o PIG (Partido da Mídia Golpista), com pitadas conspiratórias de forças externas.
Aí ocorre a
implosão dos sistemas de controle no mercado de opinião e no Parlamento. No
mercado de opinião, devido à explosão das redes sociais; no Parlamento, devido
à falta de coordenação política e à formação de maioria a qualquer preço.
Hoje em dia, os sinais da falta de rumo estão
em todos os pontos. No governo Dilma Rousseff, a não ser a bandeira das
políticas sociais, não se percebe um rumo político, não apenas nas políticas
econômicas erráticas, mas em relação a temas políticos, morais, a políticas de
direitos humanos contemporâneas.
O senso de
sobrevivência política se sobrepôs a qualquer princípio político. Na oposição
midiática, não se vislumbra o mais leve sinal de propostas alternativas, apenas
a crítica destemperada, radical, caricata de uma legião de Beatos Salú prevendo
o fim do mundo e o extermínio do mal e o fim das políticas sociais.
O resultado
é o advento de propostas obscurantistas de todos os naipes.
O Senado está a ponto de comprometer quinze
anos de batalhas pela educação inclusiva.
Basta uma manifestação ruidosa de defesa dos
animais, para o Congresso colocar em risco todas as pesquisas de vacinas do
país, anunciando a votação, em regime de urgência, de lei que proíbe testes
clínicos em animais.
Na Comissão de Direitos Humanos, um pastor
homofóbico conduz os trabalhos e os mais ruidosos homofóbicos – como esse
inacreditável Silas Malafaia – são disputados por políticos de todos os
partidos.
Por modismo, ganha força um movimento
ambientalista contra qualquer forma de exploração racional de energia na
Amazônia.
Na disputa
partidária, há uma ausência de grandeza, de generosidade, que transformou a
disputa política em uma arena de gladiadores sem escrúpulos.
Vendo Fernando Henrique Cardoso celebrar a
desgraça dos adversários, à luz do calvário de José Genoíno, veio-me à memória
Mário Covas. Se vivo fosse, provavelmente Covas sairia de São Paulo, iria até
Brasília e, desavenças políticas à parte, levaria seu abraço a Genoíno.
E todo militante tucano estufaria o peito, de
orgulho do seu líder, como os petistas, quando Lula abraçou FHC no velório de
dona Ruth.
É uma fase
de transição. O país não é mesquinho como parece ter se tornado nos últimos
tempos.
É questão de tempo para que novos ventos
surjam trazendo de volta o discurso da mudança, da solidariedade e da pacificação
nacional.
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