Intolerância religiosa exige diálogo e ação do
poder público
Aqui em Açailândia do
Maranhão, sessão da Câmara Municipal inicia com leitura de versículo bíblico (de
qual Biblia mesmo?)...
A mesma Câmara já recusou
título de utilidade pública a um terreiro de candomblé, e pressionada por
pastores evangélicos pentecostais, não aprovou criação do “Conselho Municipal
da Diversidade Sexual”.
Conselhos Municipais
(inclusive o Tutelar, que começa o dia de trabalho com um sessão de oração
conjunta...), e alguns programas e serviços públicos também “oram/rezam”,
sempre inspirados pela Bíblia...
Isso , de certa maneira, “contribui”
alimentando as diferenças e as discordañcias entre “igrejas e religiões”, ao
mesmo tempo que, tudo junto e misturado, torna a política (e politicagem mesmo...)
irmã siamesa da religião e vice-versa, como aconteceu na desastrada e
desastrosa “administração de excelência de GLS/Gleide Lima Santos” (janeiro de
2013 a julho de 2015).
Passou da hora de separar “as
coisas” e o que é de Deus a Deus, e o que é de público/político-administrativo,
aos homens (e mulheres cidadãs...) cidadãos...
(Eduardo Hirata)
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Intolerância religiosa exige diálogo e ação do poder público
A ignorância em relação à
espiritualidade e à cultura de origem africana seria bem menor se houvesse a
efetiva aplicação da Lei 10.639/03.
(Por Ivanir dos
Santos*, do Rio de Janeiro-RJ. 30/07/15)
(No jornal “Brasil de Fato”, SP)
Casos recentes de intolerância religiosa fizeram
com que o ministro Pepe Vargas, da Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República, promovesse uma audiência pública na cidade do Rio de
Janeiro.
Exigem amplo debate e atitude, principalmente por
parte do poder público, fatos como o da yalorixá Mildreles Dias Ferreira (Mãe
Dedé), que morreu de infarto em Salvador (BA) após uma “vigília” realizada por
membros da Casa de Oração Ministério de Cristo.
Teve, ainda, o caso da menina Kailane Campos, de 11
anos, que foi atingida por uma pedrada na cabeça porque usava roupas do
Candomblé, na Vila da Penha, aqui no Rio de Janeiro, e o da Mesquita Iman Ali,
localizada em Ponta Grossa (PR), templo muçulmano que foi alvo de vândalos.
Na audiência o ministro ouviu de diversas
lideranças da sociedade civil relatos de carências que vão da falta de preparo
de entes e servidores públicos à necessidade de planos e programas específicos
para enfrentar o desrespeito de origem religiosa.
A Comissão
de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) foi uma das entidades presentes ao
encontro com Vargas. Desde 2008 o grupo pede ao Governo a adoção de um Plano
Nacional de Combate à Intolerância Religiosa que seja fruto de um debate amplo
e aberto. Políticas para esse tipo de atividade exigem o trabalho integrado de
órgãos de diferentes áreas governamentais.
IGNORÂNCIA
Muitas ocorrências de ataque a pessoas e a espaços
de práticas religiosas são motivadas por ignorância. Outra parcela surge do
racismo ou a ele está associada.
Uma minoria
de evangélicos neopentecostais age com intolerância e desrespeito, inclusive
com o uso de meios de comunicação, tendo como propósito alcançar ou manter
poder político, o que é um risco para a democracia.
A ignorância em relação à espiritualidade e à
cultura de origem africana seria bem menor se houvesse a efetiva aplicação da
Lei 10.639/03, que obriga a inclusão, em toda a rede escolar e em todos os
níveis, do ensino de História Africana e Cultura Negra.
É cada vez mais urgente, no Brasil, o diálogo entre
pessoas de todas as religiões e também ateus. Isso pode ajudar a evitar
conflitos como os que ocorrem na Nigéria ou massacres como o que aconteceu há
poucas semanas em uma igreja evangélica em Charlestom, na Carolina do Sul, nos
Estados Unidos.
A omissão e
a negligência no combate à intolerância religiosa só aumentarão o número de
vítimas.
*Ivanir dos Santos
é interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa