Estudo confirma danos à saúde dos moradores de Piquiá de Baixo
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Mais de vinte anos – vinte anos! – de luta do bravo povo do
Piquiá de Baixo, ‘distrito industrial’ (que ironia – esse povo já tinha o lugar
como moradia tantos anos antes da primeira indústria chegar, da AMZA, do
projeto Grande Carajás, da estrada de ferro, da Vale ainda Valeriodoce estatal,
bem antes de Açailândia ‘emancipada’...) de Açailândia do Maranhão.
A ‘banalidade do mal’ de que trata Hanna Arendt está toda
estampada naquela comunidade devastada pelo capital predatório das riquezas das
‘veias abertas da América Latina’.
Apesar de dezenas, centenas de reuniões, audiências, protocolos,
compromissos, acordos, termos, denúncias, dezenas e dezenas de ‘visitas e
inspeções demagógicas de parlamentares municipais, estaduais e federais,
principalmente e naturalmente às vésperas de eleições, parlamento algum de
verdade tomou alguma providência pertinente a “resolver” a situação escabrosa e
desumana de existência de mais de mil seres humanos.
Tampouco a justiça (estadual, federal; promotorias, etc) não
conseguiram levar ação a bom final, efetivando a tal ‘justiça’, mas todos os
Direitos Humanos básicos e ‘especiais’ foram acintosa e desaforadamente
violados.
Direitos à vida, à saúde, à conviv~ebncia familiar e comunitária,
à moradia., ao meio ambiente saudável e sustentável, à educaçãoi, ao trabalho,
ao lazer e ao esporte, à segurança, à ‘justiça’...
Tanta gente – bebês, crianças, adolescentes, jovens, mulheres,
homens, idosos(as) – sofreram, adoeceram,’ comeram o pó que o diabo expeliu’,
agonizaram e morreram, sob os braços cruzados
e os olhares complacentes das ‘’excelentissimas autoridades judiciárias’, nem
aí para as leis que deverim fazer cumprir.
Os governos (federal, estadual, municipal) sempre ajoelharam
diante dos interesses empresariais, locupletando-se em nome do tal “progresso”.
Revoltante a maioria do “não tô nem aí” pro Piquiá de Baixo, mas
nada surpreendente nesta nossa nação que “não tá nem aí pro caso de um menino
assassinado porque ousou ‘frequentar’ a Habib’s – e poderia ser o Bob’s, ou a
MacDonald’s, ou o Kings Burger...- ou que tira selfies e abraça um assassino
como Bruno, e a imprensa ainda repercute em manchete e clubes de futebol o
querem de volta jogando bola e defendendo gols... OU nada surpreendente em uma
cidade em que três mil ‘casas populares’ estão sendo ‘construidas a mais de
cinco anos e nem se sabe quando serão entregues...
Mas há um alento, e a esperança move o povo do Piquiá de Baixo e seus/suas apoiadores(as): a
Justiça nos Trilhos, os combonianos como Padre Dario, que escreve a matéria a seguir,
que reproduzo homenageando na figura deste, sim, este sim, herói, todo o bravo
povo do Piquiá de Baixo.
E que o “resto” tome vergonha na cara, sobretudo os que tem dever de ofício para ‘resolver”
aquela situação abominável e respeitar os Direitos Humanos do povo violado.
(Eduardo Hirata)
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Estudo confirma danos à saúde dos
moradores de Piquiá de Baixo
(Da ‘Justiça nos Trilhos – Imprensa . 02/03/2017)
O caso da comunidade de Piquiá de Baixo (Maranhão, Brasil) foi
tema de estudo e debate no Seminário “Poluição provocada por instalações
siderúrgicas e saúde respiratória” organizado pelo Istituto dei Tumori de Milão
e realizado no dia 1 de março, com significativa presença de médicos,
pesquisadores e estudantes do Instituto.
A técnica de laboratório Carla Valenti apresentou a metodologia
utilizada para o estudo: ao longo de vinte dias de trabalho, em 2013, foram
aplicados 220 exames de espirometria junto a moradores e moradoras dessa
comunidade afetada por atividades de empresas de mineração e siderurgia, para
avaliar a capacidade pulmonar das pessoas e eventuais consequências provocadas
pelas emissões industriais.
A médica pneumologista Alessandra Busia apresentou o estudo
resultante, “Doenças respiratórias e poluição ambiental causada por
empresas siderúrgicas: o caso de Piquiá de Baixo, Brasil”. Suas
conclusões detectaram situações patológicas em 28% das pessoas examinadas,
sendo essas doenças respiratórias de tipo restritivo ou obstrutivo.
Joselma de Oliveira, membro da Associação Comunitária dos
Moradores do Pequiá, participou do encontro oferecendo seu testemunho: “Há mais
de vinte anos estamos denunciando os impactos da poluição sobre nossa
comunidade, mas nossa voz é silenciada ou desconsiderada. Não há dados
consolidados sobre a saúde dos moradores, talvez porque essas informações
viriam a contestar o licenciamento ambiental dessas empresas. As pesquisas
internacionais têm a liberdade e a competência para demonstrar os verdadeiros
impactos da mineração e da siderurgia sobre nossas vidas”.
Mais informações sobre o
caso:
Piquiá de Baixo é um povoado de cerca 1.100 habitantes, no
Estado do Maranhão, onde empresas de mineração e produção de ferro-gusa e aço
operam ao lado das casas há cerca de trinta anos.
Os moradores são vítimas de doenças respiratórias, aos olhos e à
pele, câncer e diversos tipos de incidentes provocados por atividades industriais
que não respeitam medidas de cuidado com a saúde e a segurança.
Nos últimos dez anos, a comunidade de Piquiá de Baixo está
lutando por imediata reparação, mitigação da poluição e reassentamento coletivo
numa área limpa e em boas condições de saúde.
Esse é também o objetivo de Joselma de Oliveira, apoiada pela
rede Iglesias y Minería, que está realizando uma série de encontros na Europa
em nome da Associação Comunitária dos Moradores do Pequiá. Encontrou-se no dia
27 de fevereiro em Genebra (Suíça) com as equipes dos Procedimentos Especiais
das Nações Unidas atuantes nesse caso desde 2014 e com a Missão Permanente do
Brasil à ONU.
( Por Dário Bossi)
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