E o povo foi para a rua... (e aqui em Açailândia do Maranhão,
certamente vai, na tarde do dia 20/06...)
Só que como as manifestações estão sendo feitas por
gente, o resultado de tudo isso ainda é inalcançável. Tudo pode acontecer
(Jornal ‘Brasil de Fato’,18/06/2013)
(Por Elaine Tavares, jornalista)
A luta de classe, já dizia o velho Marx, é isso
mesmo: luta.
Uma batalha
entre aqueles que detêm os meios de produção contra os que são oprimidos por
eles.
Nesse
confronto, as forças geralmente são desiguais porque os que dominam têm também
o controle das forças armadas, a força bruta, a repressão.
Por isso
que, para vencer, os oprimidos só podem usar o que têm: "seus corpos
nus", como dizia o grande repórter Marcos Faermann.
Então, sem o recurso das armas só quando muitos
corpos se unem numa mesma luta, é possível vencer a força bruta. Assim, a
revolução!...
Mas, a revolução tampouco é coisa que nasce do nada.
Ela é o acúmulo de anos e anos de medos, dores, ódios, amores, mortes,
violências.
As coisas
vão acumulando nas camadas mais pobres da população, entre os oprimidos, até
que um dia, um motivo torpe, uma coisa de nada, acende o estopim, e tudo
começar a arder.
Quem não se
lembra de 1968, na França, quando uma manifestação estudantil contra a divisão
de dormitórios, acendeu o pavio de um movimento gigantesco, que mudou a cara do
mundo no que diz respeito aos costumes, à cultura e até à política.
Não chegou a ser uma revolução, mas alavancou
transformações importantes.
Ontem, no Brasil, a população viu o que não via há
tempos. Multidões nas ruas, reivindicando, exigindo direitos, protestando.
Começou como
um dos tantos protestos contra o aumento de tarifas, teve uma reação fora de
propósito pela polícia paulista e gerou uma onda incontrolável de
manifestações. É um estopim.
Muitos analistas falam da falta de foco do
movimento. Cada um protesta por uma coisa diferente.
As
reivindicações são difusas e não convergem para um propósito único, capaz de
provocar uma fissura realmente considerável no sistema.
Isso de fato é verdade. Há uma gana por dizer a
palavra, há tantas coisas a reivindicar e isso tende a diluir as vitórias.
Só que como
as manifestações estão sendo feitas por gente, o resultado de tudo isso ainda é
inalcançável. Tudo pode acontecer.
Tive a oportunidade de acompanhar algumas das
grandes manifestações que ocorreram no mundo nos últimos anos. Estive na
Grécia, nas greves gerais, quando milhões de pessoas saíram às ruas contra os
"ajustes" impostos pelos bancos que levaram o país a bancarrota.
Estive na
Praça do Sol, na Espanha, vendo milhões a caminhar contra o arrocho provocado
pela mesma crise que atingiu a Grécia.
Estive na cidade do Cairo quando a multidão saiu às
ruas para celebrar um ano da queda de Mubarack.
Em cada um
desses lugares, os milhões de manifestantes ( e tantos mortos) lograram poucas
mudanças.
A Grécia
segue aprofundando as medidas de recessão, a Espanha elegeu um presidente da direita
que também penaliza as gentes e o Egito ainda segue tentando garantir alguma
transformação.
Em todos esses momentos também foi possível
observar as reivindicações difusas, as divisões internas, a intervenção
"providencial" da direita.
Porque a luta de classe é assim mesmo: batalha de
duas concepções divergentes.
E quando as gentes ocupam as ruas, a classe
dominante sabe que também tem de sair, usurpando bandeiras e confundindo as
mentes.
Quando a
força bruta perde eficácia, a classe dominante usa a confusão, usa a alienação
mental potencializada pela mídia comercial a seu serviço, infiltra gente para
fazer ações de desestabilização ou incita a que as façam.
A batalha é feroz.
Mas, tudo isso não pode fazer com que o sentido da
revolta seja diminuído.
Num mundo onde as pessoas são diuturnamente
bombardeadas com informações alienantes e desestruturastes, seja na escola, na
mídia, nos diversos grupos sociais, é natural que os desejos de transformação
sejam parciais, difusos, variados.
Todo o
sistema funciona no sentido de manter a mente das pessoas prisioneira da
ideologia de que no capitalismo, em algum momento, se elas trabalharem
direitinho, chegarão "lá".
O que
significa chegar a um nível de consumo capaz de satisfazer todos os desejos de
vida boa e bonita.
Mas, no capitalismo, esse chegar lá é individual,
depende de cada um. Daí a sua sedução.
E essa
mentira, repetida tantas vezes, em todos os veículos de transmissão da
ideologia da classe dominante, vai se fazendo realidade.
A classe
dominante aprova e incentiva a formação de grupos diversos, para que as
reivindicações fiquem mesmo difusas: negros, mulheres, LGBT, funcionários
público, trabalhadores privados, familiares de presos, ecologistas, pela
liberação da maconha, contra a corrupção.
Assim,
divididos e sem um corte de classe definido, fica bem mais fácil de controlar.
Só que chega um dia, como ontem, que essas gentes
divididas entre tantas reivindicações segmentadas se juntam e caminham em
uníssono.
É onde nasce
a possibilidade do ainda-não. É um momento único de explosão da consciência de
classe.
De alguma
forma, todos ali na caminhada são oprimidos, estão enfrentando o mesmo aparato
repressor, se enfrentam com um única classe dominante. É a luta de classe.
O que pode acontecer depois desses momentos de
elevação da consciência de classe não há como saber.
Pode ser apenas um momento de acumulação de força,
de crescimento da consciência, de reconhecimento sobre quem é a elite dominante
e como age para manter o controle.
O fato é que a consciência de classe só pode brotar
desses instantes únicos, de comunhão, de povo unido na rua.
Ela não pode
ser incutida pelo discurso, pelos cursos de formação. Ela só pode brotar assim,
na práxis, no enfrentamento da vida mesma.
As ruas do Brasil se encheram ontem, de jovens, de
velhos, de trabalhadores, de crianças, de gente querendo mudanças.
Como um dia,
num passado bem próximo, se encheram pela anistia, pelas diretas, pela queda de
Collor. Foi um momento lindo, bonito de se ver e viver.
Agora, nos palácios, governantes e aqueles que os
governam, já ensaiam sua reação. Que virá.
As tarifas
vão baixar e eles esperarão para contabilizar os estragos, para observar as
rachaduras no muro ideológico, sempre com o cimento na mão.
Para nós, que estamos do outro lado, também será
tempo de observar onde avançou a consciência de classe e seguir, sempre prontos
para o combate.
(meu comentário:
Aqui em Açailândia, está previsto um movimento para o final
da tarde da quinta-feira. Como todos os atuais, “um movimento de gente”, sem
liderança expressa, designada, mas sem dúvida resultado de reclamos muitos, de populações
que sofrem na carne e na mente, no dia, as angústias e dissabores da vida
moderna, pós-derrubada do muro de Berlim mas da era dos muros levantados pelo
judeus para “protegê-los” dos palestinos, ou dos Estados Unidos da América para
“defendê-los” dos latinos sulistas...
Aqui, certamente muitas reinvidacações serão as “nacionais”:
o transporte público, absurdamente caro diante da precariedade da baixa
qualidade do serviço “concessionário” oferecido aos(as) trabalhadores(as),
estudantes e demais “segmentos” que dele necessitam todo santo dia, tantas e
tantas vezes..
Diante do descaso estatal, com sua política de transporte e
e tráfego que privilegia o individual (o automóvel, a moto), dando uma “banana”
e um aqui, ó”, para o “público” o que se espera?
Que todos e todas se comportem como cordeirinhos(as), ao depararem
com os leitos da rua serem arrumados para o trânsito de veículos enquantos os
pontos de ônibus caem aos pedaços? Ou se orgulhem de pagar R2,50 pelo coletivo;
R3,00 o táxi-lotação urbano; ou R4,00 pelo mototáxi roteiro mais barato?
Nesse caso do transporte, mote maior para o tsunami de
protestos que tomou conta do país, a elite política, econômica, social, não tem
nem aí pro sofrimento e a injúria do povo, afinal eles tem seus carrões do ano,
blindados, motoristas particular, pagos com os lucros exorbitantes frutos de
superexploração no trabalho, trabalho escravo ou outras violações típicas aos
direitos trabalhistas... e nos caso dos políticos, tudo pago com recursos
públicos, desse mesmo povo escorroçado...
Aqui em Açailândia do
Maranhão, se tem um magote de motivos outros: a “remoção” do Pequiá de Baixo,
aquele povo submetido a décadas a uma poluição e um processo de morte
inconcebível, e que aguardam as “providências” do poder para solução de seu
estado de destruição física e moral; o trabalho escravo e a exploração do
trabalho, infantil e adulto, que teima, como bem demonstra caso recente tratado
pelo Centro de Defesa da Vida dos
Direitos Humanos Carmen Bascaran; o abuso e a exploração sexual de Crianças e
Adolescentes, como se presume a partir do caso da Delegada de Polícia da Mulher
Clenir Reis; a educação e a saúde
públicas, com muita propaganda, tiros de festim, e pouca ação e concretude; a
falta de saneamento básico e todas as poluições (do ar, da água, do solo, a
sonora) que adoecem o povo; as prioridades questionáveis do governo, resultando
em elefantes brancos e dinheiro e recursos jogados fora (para que serve mesmo aquela
construção da Praça do Patizal, e que
deveria estar servindo prá alguma coisa o povo, desde 1º de janeiro de 2013?),
e por aí vai...
Ah, a rede DCA também deveria manifestar-se, afinal, deixar
cortar duas vezes a energia do COMUCAA/Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente, em cinco meses, devem ter um significado e uma
explicação, que não a Absoluta Prioridade que determina a Constituição, artigo
227, tratando-se do mais importante órgão de defesa dos Direitos da Criança e
do Adolescente do município...
Por essas e por muitas outras, Açailândia tem que entrar “nesse
tsunami de manifestações”. É momento da cidadania, não nos deixemos alienar por
Copa das Confederações e coisas e lousas do gênero...
Eduardo Hirata)
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