Não pegou bem o
bate-boca entre os ministros do STF, Joaquim Barbosa e Luís Roberto Barroso. Negue
quem quiser se fazer de cego, mudo e surdo, mas Joaquim Barbosa realmente
perdeu o controle e as estribeiras, saiu
da linha, comportamento indigno de um presidente do Supremo Tribunal Federal.
Aliás, essa AP 470,
pelo que vem apresentando de “divergências e contradições”, está cheirando mal
a muito tempo, fedendo podre e carniça... Dia desses, um amigo, fanático
acusador da “quadrilha do PT”, responsável pelos descaminhos do Brasil, admitiu
que está repensando o assunto, pois a corrupção, mesmo com a ‘turma
quadrilheira’ (que agora não é mais, com a decisão do STF...), continua
correndo solta, firme e forte, em todo o país, e que na verdade não é só gente
do PT, ou do PTB do Roberto Jefferson, que corrompe ou é corrompida... E que
falta um montão de político e de empresário fazerem companhia a Dirceu,
Delúbio, Genoíno, Valério... inclusive gente do sacrossanto PSDB...
Para contribuir no
debate “sadio”, o artigo do Luís Nassif, a seguir.
(Eduardo Hirata)
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Joaquim Barbosa e o
exemplo do Tea Party
O destempero do
presidente do STF é a prova maior do fundo do poço em que o Tribunal foi
colocado pelas intenções políticas de alguns ministros
(Por Luis Nassif —
publicado 28/02/2014, revista Carta Capital)
O destempero do
presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa contra seu colega
Luís Roberto Barroso - pelo fato de ter proferido um voto contrário ao seu
entendimento - é prova maior do fundo do poço em que o Tribunal foi colocado
pelas intenções políticas de alguns ministros.
Quem conhece Joaquim
Barbosa de perto, assegura: não é desonesto, não é malicioso, não se mete em
negócios obscuros nem em más companhias, como seu colega Gilmar Mendes. Mas é
um completo desequilibrado.
Dia desses conversava
com um ex-conselheiro do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Dizia ele que, se
Barbosa entrar em um recinto e ver duas pessoas cochichando, imediatamente
armará encrenca, supondo que estejam falando dele.
Na sessão do STF – que
deliberou sobre a acusação de formação de quadrilha para os réus da AP 470 –
Barbosa interrompeu várias vezes Barroso, foi grosseiro, atropelou todos os
códigos de conduta, ao insinuar que o colega teria negociado seu voto para conseguir
o cargo. Mas quem vai tirar o piloto do
Boeing em pleno vôo?
Tempos atrás, o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso alertou para os riscos da aventura
Joaquim Barbosa. Mostrou sua falta de tato, de cintura política, a intolerância
a qualquer opinião contrária.
Ocorre que o mito
Barbosa surgiu impulsionado pelo clima de radicalização, de criminalização da
política, do denuncismo desvairado que a oposição levantou a partir de 2006 e,
especialmente, a partir da era José Serra.
Trouxeram de volta para
a cena política o macartismo, abusaram da religiosidade, despertaram os piores
demônios existentes no tecido social brasileiro, aqueles que demonizam as leis
e propõem o linchamento, transformaram a disputa política em um vale-tudo.
Não valia denunciar
aparelhamento da máquina, a política econômica, apontar erros na gestão
pública, como em qualquer disputa política civilizada.
Repetiram nos mínimos
detalhes a radicalização da política norte-americana, o movimento da mídia e do
Partido Republicano dos Estados Unidos adotando o discurso virulento de
ultra-direita do Tea Party.
Durante toda a campanha
eleitoral nos EUA, comentaristas vociferantes espalhavam toda espécie de boatos
contra Barack Obama. A campanha viciou o eleitorado republicano nas catarses do
Tea Party e o partido terminou refém da radicalização. Hoje em dia, as vozes
mais preparadas e ponderadas dos republicanos têm enorme dificuldade em
reconduzir o partido para o caminho da moderação e da responsabilidade
política.
Por aqui, caminha-se
para o mesmo desfecho. Só que esse espaço catártico, que Serra preparou para
ele próprio, foi ocupado por um jacobino autêntico. Serra era um simulacro de
radical, Barbosa é um radical em estado bruto.
Na semana passada, em
visita a São Paulo, Aécio Neves relembrou figuras referenciais mais nobres do
PSDB, como Mário Covas e Franco Montoro. Tenta, de alguma forma, recuperar os
valores partidários, destroçados na era Serra.
O próprio Serra andou
dando entrevistas minimizando a crise econômica, tentando (inutilmente) ocupar
um espaço de racionalidade que um dia foi seu. Ou – o que é mais factível –
tentando prejudicar o candidato que ocupou um lugar que era seu por direito
divino.
2014 não está cheirando
bem.