Eu confesso, eu me
rendo! Sou um excluído tecnocibernético, ou coisa que o valha! Hoje mesmo
fiquei boquiaberto, espantado, em uma praça, um menino e uma menina não mais de
dez anos, “operando” um celular (não é celular, moço, é um smartphone...) e um tablet.
Meu filho baixa filmes na “netfix” e assiste
no computador, e minha filha lava roupas na máquina de lavarnovinha “curtindo um som” que sai do seu celular, em
fones de ouvidos...
E já tentou me explicar
mil vezes o que é o “whatsapp”, mas não entra em minha cabeça dura...
Minha caçula me deu seu
celular, já meio defasado, mas devolvi, nunca aprendi a usar, passava vergonha,
pedindo prá outras pessoas “pode ver essa mensagem prá mim?”.
Como vive dizendo o
Faustão (que saudades dele do tempo improviso na Band, ops, digo TV
Bandeirantes...), “... eu sou daquele tempo!...”.
E sou mesmo! Um velho
custoso de se adaptar ao ADMIRÁVEL MUNDO NOVO! Tempos globalizados,
pós-históricos, a tecnologia dominante... onde ainda vamos chegar! Eu pelo menos, não chego longe,
para mim bastou, não tenho pique prá acompanhar...
(Eduardo Hirata)
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COMO VIVÍAMOS
SEM?
Como era possível viver num mundo sem
essas coisas todas que existem hoje?
(Por Alberto Villas — publicado na “Carta
Capital”, 17/07/2014)
No meu tempo não tinha televisão!
Essa frase me perseguiu durante toda a minha infância. O meu pai dizia isso
toda vez que percebia uma novidade no ar ou via uma pontinha de progresso
entrando pela porta da sala da nossa casa.
Durante décadas e décadas, ouvimos
que quando ele era menino, o sucesso era um rádio GE que ficava no saguão do
hotel do seu pai, meu avô. Era dali que saiam as notícias da guerra, a
sonoplastia bizarra das radionovelas, a voz de Aracy de Almeida cantando
Palpite Infeliz e os gritos de gol de Oduvaldo Cozzi.
O meu pai parecia se orgulhar de ter
vivido num mundo sem televisão. Quando os seus filhos se reuniam para ir ver Os
Jetsons na casa da vizinha, ele achava que o mundo estava acabando, que
aquela invenção era a maldição do século, século passado.
Quando começávamos a comentar os
programas como Bola Murcha, Agarre o que puder, quando começávamos a imitar os
personagens da Rua do Ri Ri Ri ou Times Square, ele sempre voltava com aquela
história de que no seu tempo não tinha televisão, não tinha essas bobagens.
Outro dia fui fazer uma palestra no
interior do Paraná e as pessoas arregalaram os olhos quando comecei a listar as
coisas que não existiam no meu mundo juvenil.
Vivíamos sem micro ondas, por
exemplo. A comida era esquentada uma a uma no fogão. No meu tempo não tinha
protetor solar. A lembrança que tenho dos nossos verões na Cidade Maravilhosa é
de bolhas no corpo inteiro e muito Caladryl.
Fui revelando pra eles que não havia
celular, apenas um telefone preto e fixo que ficava geralmente na sala. Não
havia supermercado, as compras eram feitas em mercadinhos e se você quisesse um
quilo de feijão, tinha que pedir ao vendedor.
- Um quilo de feijão, por favor!
Contei que no meu tempo não tinha
controle remoto e nós ficávamos esperando alguém levantar para pedir.
- Aproveita que está de pé e muda o
canal!
Não havia leite longa vida.
Comprávamos leite todo dia e colocávamos pra ferver logo, porque senão
azedava rapidinho. Imagine que não havia cerveja em lata, só em garrafas de
vidro e das grandes. Acredita que vivíamos sem código de barra?
Não havia cartão de crédito, nem
caixa eletrônica. Se precisasse de algum dinheiro, era preciso ir ao banco,
enfrentar uma fila enorme, entregar o cheque pro caixa, esperar ele ir lá
dentro conferir o saldo e a assinatura numa ficha de cartolina.
No meu tempo não havia selfie. Lembro
do meu pai reunindo toda a família, colocando a Rolleiflex dele num tripé,
apertando o botãozinho e correndo pra poder sair bem na foto.
Não havia compra pela Internet. Em
Belo Horizonte, a minha mãe ligava pra Drogaria Araújo e o cara vinha de
fusquinha trazer o Benzetacil. Aquilo era o progresso, o começo de tudo.
Numa outra palestra no interior de
Minas Gerais, quanto mais eu ia enumerando coisas que não havia no meu tempo de
jovem, mais velho ia me sentindo. Quando eu fui explicando que vivíamos sem
Instagram, sem Easy Taxi, sem e-mail, sem Google, sem Facebook, sem tudo isso,
uma jovem levantou o dedo e perguntou:
- Não tinha Netflix?