sexta-feira, 11 de julho de 2014

• Sequestro de israelenses e mortes de palestinos criam situação política sem precedentes





(Eduardo Hirata)

Começou com o assassinato de três jovens israelenses e intensificou-se com o sequestro e a morte do adolescente palestinoamericano? Não, vem há muito tempo.

É um lento, gradual e seguro “holocausto” palestino, cometido pela barbárie israelita, uma força desproporcional e  covarde, diante  da cumplicidade mundial das “grandes potências”, Brasil inclusive, que somos grande sim.

Chega ao absurdo do pronunciamento do secretário geral da ONU condenar explicitamente o lançamento dos foguetes do Hamas (que não mataram nenhum/a israelense nestes dias de desvarios, diga-se de passagem ...) e recomendar moderação a Israel em seus ataques aéreos (que já mataram mais de cem palestinos/as, muitos/as crianças, mulheres, pessoas idosas...).

Certamente a copa do mundo de futebol aqui no Brasil ajuda a “encobrir”, camuflar o horror de mais uma  agressão israelense contra o povo palestino.

Israel, principalmente com apoio estadunidense, continua se achando um Estado acima de todos, desrespeitando direitos e resoluções da ONU, no seu afã de exterminar da face da terra seus inimigos.

Aliás, se acham heróis, paladinos da justiça  salvadores da terra e da humanidade, como seus patronos estadunidenses: eles arrebentaram o Japão, com as duas únicas bombas atômicas usadas na história, matando e contaminando centenas de milhares, e Israel continua matando, cirurgicamente (com o detalhe do repórter da Tv Globo, de “tamanha precisão”, que o ataque reduziu a pó a residência de um chefe do Hamas, matando-o, mas preservou inteiramente uma escola ao lado...)

Como no demonstra  o artigo a seguir, publicado no “Brasil de Fato”.

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•         Sequestro de israelenses e mortes de palestinos criam situação política sem precedentes



Assassinato do jovem palestino Mohammad Kdheir abre debate sobre as graves violações de direitos humanos sob a ocupação militar



(Por Sâmia Gabriela Teixeira, jornal “Brasil de Fato” –SP., 08/07/2014)

(Foto  de Anna Ferensowicz/Pacific/Barcroft)



Desde o dia 12 de junho, data do sequestro de três colonos israelenses, ativistas e organizações de direitos humanos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza têm relatado a escalada de violência contra palestinos, em uma dura campanha de busca pelos desaparecidos.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, acusou o Hamas de ser o responsável pelo sequestro, embora o grupo tenha negado a ação.

A repressão militar ganhou mais peso depois de os corpos dos israelenses serem encontrados na Cisjordânia, próximo a Hebron, no final do mês de junho.

Desde então, 830 palestinos foram presos, vilas foram invadidas durante incursões noturnas do exército israelense e o ódio de colonos israelenses foi manifestado em passeatas espontâneas que tomaram as ruas de Jerusalém Ocidental, com a participação de jovens que pediam “morte aos árabes”.

Segundo a imprensa local, a polícia teve de impedir oito tentativas de linchamentos de palestinos.

Embora a situação tenha ganhado os olhares da comunidade internacional, a tensão vivida na Cisjordânia e na Faixa de Gaza não é de hoje e é cotidiana. Agora, com a repercussão do caso, fica evidente também a situação dos palestinos que vivem nos territórios de 1948, com a expansão constante dos assentamentos israelenses e a crescente presença de civis israelenses armados.

Para o ativista palestino Hasan Zarif, do Movimento Palestina Para Todos, de São Paulo, é recorrente, tanto na imprensa quando na opinião pública, a incompreensão ou o desinteresse sobre o cotidiano dos palestinos que vivem nesses territórios, especialmente em Hebron.

“Nada justifica o sequestro e as mortes dos três israelenses, mas é necessário abrir o debate para tentar entender o que motivou o ocorrido. Os palestinos desta região são hostilizados e humilhados diariamente. Além dos residentes dos assentamentos ilegais, há os colonos israelenses que agem como milícias, e que andam fortemente armados aterrorizando os palestinos”, exemplifica.

Das mortes de hoje

Desde a descoberta dos corpos dos três colonos israelenses, nove pessoas morreram vítimas de bombardeio aéreo em Gaza. Segundo autoridades israelenses, no dia 2/7, o jovem Mohammad Abu Khdeir (16) foi sequestrado em Israel por seis judeus. O adolescente foi queimado vivo e seu cadáver foi encontrado em um bosque horas depois de seu desaparecimento.

A causa da morte foi confirmada em autópsia, que revelou sinais de carbonização nas vias respiratórias, indicando que o garoto estava vivo no momento em que atearam fogo em seu corpo.

Até o momento, seis suspeitos do assassinato foram detidos, e as investigações seguem em curso, assim como a revolta popular na Cisjordânia e em Israel.

“A situação levanta uma questão política importante que é o fracasso dos Acordos de Paz. A Autoridade Nacional Palestina tem sido cada vez mais questionada e a percepção dos que vivem sob o governo de Mahmoud Abbas é a de que não se fala sobre a violência e os crimes da ocupação, de que o governo palestino é omisso e cúmplice”, salienta Zarif.

Das mortes da última década

Apesar de o assassinato do adolescente palestino ser tratado como ato de vingança pela morte dos três israelenses, os dados de organizações de direitos humanos sobre o número de mortes de crianças palestinas são alarmantes. Zarif frisa que “segundo informações da Associação Internacional Palestina em Defesa das Crianças, a cada três dias morre uma criança palestina vítima da ocupação militar. Esta é a estimativa rotineira”.

O primo do mártir nas garras da ocupação

Durante o funeral de Khdeir, ocorrido no dia 7/7 em Jerusalém Oriental, enquanto milhares de palestinos marchavam carregando o corpo para o local do enterro, o primo da vítima, Tariq Abu Khdeir, foi detido e espancado por soldados israelenses. A ação foi supostamente filmada e divulgada amplamente nas redes sociais, e ganhou maior proporção ao constatar que Tariq (15) possuí nacionalidade norte-americana.

Diante deste constrangimento, Netanyahu chegou a declarar posição enérgica para punir qualquer terrorista, “esteja ele do lado que estiver”. Mas, a história revela que a atitude demonstra muito mais uma preocupação de relações com os Estados Unidos do que uma posição sincera e comprometida. “Este garoto não é o primeiro. Teve sorte de ser americano. Na última década a ocupação prendeu cerca de sete mil crianças. Todas elas sofrem tortura, agressão física, psicológica. Este caso isolado ganhou atenção, gera atrito diplomático, mas o fato é que as violações são constantes”, ressalta Zarif.

A mãe de Tariq, Suha Tariq, em entrevista ao Washington Post, declarou estar “revoltada e pronta para tomar providências legais”, porque o que aconteceu com seu filho acontece todos os dias com os palestinos. “Ele teve a oportunidade de estar na mídia do mundo inteiro, mas os outros palestinos nunca tiveram esta chance. Nunca tiveram voz”, concluiu.

Novos olhares sobre o tema

Com espaço na mídia internacional, sobretudo em veículos norte-americanos de grande influência, como o New York Times e Washington Post, é notável a abertura para um novo debate sobre a questão Israel x Palestina, principalmente nos Estados Unidos, onde a opinião pública tende a ser mais favorável ao lado israelense do que ao palestino. “É importante aproveitar a atenção que se dá para estes casos de violência e aprofundar as discussões sobre direitos humanos na Palestina ocupada. Os jovens gritam nas manifestações que o que virá é uma nova Intifada. Este limite merece um olhar mais crítico e aberto da sociedade, e também da imprensa”, finaliza.

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