(Eduardo Hirata)
Começou com o
assassinato de três jovens israelenses e intensificou-se com o sequestro e a
morte do adolescente palestinoamericano? Não, vem há muito tempo.
É um lento, gradual e seguro
“holocausto” palestino, cometido pela barbárie israelita, uma força desproporcional
e covarde, diante da cumplicidade mundial das “grandes
potências”, Brasil inclusive, que somos grande sim.
Chega ao absurdo do
pronunciamento do secretário geral da ONU condenar explicitamente o lançamento
dos foguetes do Hamas (que não mataram nenhum/a israelense nestes dias de
desvarios, diga-se de passagem ...) e recomendar moderação a Israel em seus
ataques aéreos (que já mataram mais de cem palestinos/as, muitos/as crianças,
mulheres, pessoas idosas...).
Certamente a copa do
mundo de futebol aqui no Brasil ajuda a “encobrir”, camuflar o horror de mais
uma agressão israelense contra o povo
palestino.
Israel, principalmente
com apoio estadunidense, continua se achando um Estado acima de todos,
desrespeitando direitos e resoluções da ONU, no seu afã de exterminar da face
da terra seus inimigos.
Aliás, se acham heróis,
paladinos da justiça salvadores da terra
e da humanidade, como seus patronos estadunidenses: eles arrebentaram o Japão,
com as duas únicas bombas atômicas usadas na história, matando e contaminando
centenas de milhares, e Israel continua matando, cirurgicamente (com o detalhe
do repórter da Tv Globo, de “tamanha precisão”, que o ataque reduziu a pó a
residência de um chefe do Hamas, matando-o, mas preservou inteiramente uma
escola ao lado...)
Como no demonstra o artigo a seguir, publicado no “Brasil de
Fato”.
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• Sequestro
de israelenses e mortes de palestinos criam situação política sem precedentes
Assassinato do jovem palestino
Mohammad Kdheir abre debate sobre as graves violações de direitos humanos sob a
ocupação militar
(Por Sâmia Gabriela Teixeira, jornal “Brasil
de Fato” –SP., 08/07/2014)
(Foto
de Anna Ferensowicz/Pacific/Barcroft)
Desde o dia 12 de junho, data do
sequestro de três colonos israelenses, ativistas e organizações de direitos
humanos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza têm relatado a escalada de violência
contra palestinos, em uma dura campanha de busca pelos desaparecidos.
O primeiro-ministro israelense,
Benjamin Netanyahu, acusou o Hamas de ser o responsável pelo sequestro, embora
o grupo tenha negado a ação.
A repressão militar ganhou mais peso
depois de os corpos dos israelenses serem encontrados na Cisjordânia, próximo a
Hebron, no final do mês de junho.
Desde então, 830 palestinos foram
presos, vilas foram invadidas durante incursões noturnas do exército israelense
e o ódio de colonos israelenses foi manifestado em passeatas espontâneas que
tomaram as ruas de Jerusalém Ocidental, com a participação de jovens que pediam
“morte aos árabes”.
Segundo a imprensa local, a polícia
teve de impedir oito tentativas de linchamentos de palestinos.
Embora a situação tenha ganhado os
olhares da comunidade internacional, a tensão vivida na Cisjordânia e na Faixa
de Gaza não é de hoje e é cotidiana. Agora, com a repercussão do caso, fica
evidente também a situação dos palestinos que vivem nos territórios de 1948,
com a expansão constante dos assentamentos israelenses e a crescente presença
de civis israelenses armados.
Para o ativista palestino Hasan
Zarif, do Movimento Palestina Para Todos, de São Paulo, é recorrente, tanto na
imprensa quando na opinião pública, a incompreensão ou o desinteresse sobre o
cotidiano dos palestinos que vivem nesses territórios, especialmente em Hebron.
“Nada justifica o sequestro e as
mortes dos três israelenses, mas é necessário abrir o debate para tentar
entender o que motivou o ocorrido. Os palestinos desta região são hostilizados
e humilhados diariamente. Além dos residentes dos assentamentos ilegais, há os
colonos israelenses que agem como milícias, e que andam fortemente armados
aterrorizando os palestinos”, exemplifica.
Das mortes de hoje
Desde a descoberta dos corpos dos
três colonos israelenses, nove pessoas morreram vítimas de bombardeio aéreo em
Gaza. Segundo autoridades israelenses, no dia 2/7, o jovem Mohammad Abu Khdeir
(16) foi sequestrado em Israel por seis judeus. O adolescente foi queimado vivo
e seu cadáver foi encontrado em um bosque horas depois de seu desaparecimento.
A causa da morte foi confirmada em
autópsia, que revelou sinais de carbonização nas vias respiratórias, indicando
que o garoto estava vivo no momento em que atearam fogo em seu corpo.
Até o momento, seis suspeitos do
assassinato foram detidos, e as investigações seguem em curso, assim como a
revolta popular na Cisjordânia e em Israel.
“A situação levanta uma questão
política importante que é o fracasso dos Acordos de Paz. A Autoridade Nacional
Palestina tem sido cada vez mais questionada e a percepção dos que vivem sob o
governo de Mahmoud Abbas é a de que não se fala sobre a violência e os crimes
da ocupação, de que o governo palestino é omisso e cúmplice”, salienta Zarif.
Das mortes da última década
Apesar de o assassinato do
adolescente palestino ser tratado como ato de vingança pela morte dos três
israelenses, os dados de organizações de direitos humanos sobre o número de
mortes de crianças palestinas são alarmantes. Zarif frisa que “segundo informações
da Associação Internacional Palestina em Defesa das Crianças, a cada três dias
morre uma criança palestina vítima da ocupação militar. Esta é a estimativa
rotineira”.
O primo do mártir nas garras da
ocupação
Durante o funeral de Khdeir, ocorrido
no dia 7/7 em Jerusalém Oriental, enquanto milhares de palestinos marchavam
carregando o corpo para o local do enterro, o primo da vítima, Tariq Abu
Khdeir, foi detido e espancado por soldados israelenses. A ação foi
supostamente filmada e divulgada amplamente nas redes sociais, e ganhou maior
proporção ao constatar que Tariq (15) possuí nacionalidade norte-americana.
Diante deste constrangimento,
Netanyahu chegou a declarar posição enérgica para punir qualquer terrorista,
“esteja ele do lado que estiver”. Mas, a história revela que a atitude
demonstra muito mais uma preocupação de relações com os Estados Unidos do que
uma posição sincera e comprometida. “Este garoto não é o primeiro. Teve sorte
de ser americano. Na última década a ocupação prendeu cerca de sete mil
crianças. Todas elas sofrem tortura, agressão física, psicológica. Este caso
isolado ganhou atenção, gera atrito diplomático, mas o fato é que as violações
são constantes”, ressalta Zarif.
A mãe de Tariq, Suha Tariq, em
entrevista ao Washington Post, declarou estar “revoltada e pronta para tomar
providências legais”, porque o que aconteceu com seu filho acontece todos os
dias com os palestinos. “Ele teve a oportunidade de estar na mídia do mundo
inteiro, mas os outros palestinos nunca tiveram esta chance. Nunca tiveram
voz”, concluiu.
Novos olhares sobre o tema
Com espaço na mídia internacional,
sobretudo em veículos norte-americanos de grande influência, como o New York
Times e Washington Post, é notável a abertura para um novo debate sobre a questão
Israel x Palestina, principalmente nos Estados Unidos, onde a opinião pública
tende a ser mais favorável ao lado israelense do que ao palestino. “É
importante aproveitar a atenção que se dá para estes casos de violência e
aprofundar as discussões sobre direitos humanos na Palestina ocupada. Os jovens
gritam nas manifestações que o que virá é uma nova Intifada. Este limite merece
um olhar mais crítico e aberto da sociedade, e também da imprensa”, finaliza.