Nestes tenebrosos
tempos em que “a imprensa açailandense” deixa de lado sua missão mais
importante, que é a de informar, esclarecer, contribuir na formação de
opiniões, e no nosso caso brasileiro, fortalecer a cidadania e a democracia, a
entrevista com o escritor e jornalista Fernando Morais, publicada no jornal “Brasil
de Fato”, deveria nos servir para a reflexão, o debate e o compromisso.
“Lavando a roupa suja
em nosso tanque ou máquina de lavar...”, assim em público e às escancaras, que
coisa feia, que “deseducação” e mau exemplo... Comunicadores, blogueiros,
engalfinhados em querelas politiqueiras, e chamuscando-se em fogueiras de
vaidades, disputas partidárias eleitoreiras, passionalismos de todo naipe...
Que se assuma “posições”,
tudo bem, mas sem paixões e assanhamentos, e ataques destemperados como vêm
sendo...
“Jogar mais gasolina na
fogueira...” vai servir prá quê?
(Eduardo Hirata)
***************************************************
“A grande imprensa age como partido
político”
(Por Ricardo Rabelo, no
jornal “Brasil de Fato”, SP, 26/06/2014)
Nessa entrevista,
Fernando Morais confirma que não vai mais escrever biografias: “Dá muito
trabalho e pouco dinheiro. Assim que terminar o livro que estou escrevendo
sobre o ex-presidente Lula, penduro as chuteiras”, assegura
Fernando Morais é um dos jornalistas
mais engajados politicamente no Brasil. Nascido em 1948, na cidade mineira de
Mariana, fez carreira em São Paulo atuando nas redações do Jornal da Tarde, da
Veja, da Folha de S. Paulo e da TV Cultura. Nessa entrevista, ele confirma que
não vai mais escrever biografias. “Dá muito trabalho e pouco dinheiro. Assim
que terminar o livro que estou escrevendo sobre o ex-presidente Lula, penduro
as chuteiras”, assegura. Fernando fala ainda sobre vários temas: política,
governo Dilma, regulação da mídia, marco civil da Internet, espionagem
americana e utopias.
Você acha que Dilma fez
um bom ou mal governo?
Fernando Morais - Fez, sim, um ótimo
governo. Tenho objeções pontuais com relação à descontinuidade de políticas
importantes implantadas por Lula, como a política externa e a democratização da
aplicação dos recursos de publicidade das empresas estatais.
A mídia conservadora é
desonesta?
Toda generalização é perigosa. Eu
diria que muitos veículos da mídia conservadora se converteram em partidos
políticos. Disfarçados, mas partidos políticos. Mas acho que devemos tratar de
maneira diferente os veículos de papel daqueles que são fruto de concessão
pública. Não devemos perder de vista que a imprensa está sempre a serviço dos
interesses e da ideologia de quem paga as contas no final do mês. Seja em
Washington, em Havana, no Rio ou em Beijing. No caso dos meios eletrônicos de
comunicação, como o rádio e a TV, no entanto, é preciso ressaltar que se trata
de uma propriedade social, uma concessão pública que não pode, por exemplo, ser
colocada a serviço de interesses antinacionais.
O que pensa sobre a
regulação da mídia?
Sou e sempre fui a favor. Jornais,
revistas e TVs vêm envenenando e confundindo a opinião pública ao associar
regulação à censura. Regulação, como existe em outros países, é impedir
propriedade cruzada: quem é dono de concessão de TV não pode ser concessionário
de rádio nem dono de jornal e revista; é proibir parlamentares e seus parentes
de enésimo grau de serem concessionários de rádio e TV; é discutir com a
sociedade a renovação das concessões de rádio e TV. Nada de censura.
Como vê a regulação da
mídia na Argentina?
O modelo da Argentina foi muito bem
sucedido. Lá a Ley de Medios atacou fundo a propriedade cruzada. O império
encabeçado pelo jornal Clarín foi obrigado a se desfazer de ativos para
continuar sendo concessionário de meios eletrônicos.
A grande imprensa age
como quarto poder?
Não. Age como partido político. Meio
envergonhada, porque não tem coragem de assumir isso, mas age como partido
político. De direita.
O que pode ser feito
para incentivar a pequena imprensa?
Primeiro que ela seja boa, legível e
que traga notícias que são escamoteadas pela grande imprensa. As medidas
implantadas pelo ministro Franklin Martins, no governo Lula, pulverizando as
verbas de publicidade estatais entre milhares e milhares de veículos – verbas
que antes eram destinadas apenas à mídia conservadora - foram uma transformação
importante na democratização das comunicações.
Como viu a espionagem
americana revelada recentemente?
A bisbilhotice planetária por parte
dos Estados Unidos é mais velha que a Sé de Braga. No final dos anos 90, quando
o FBI prendeu cinco cubanos na Flórida, condenando-os a penas enormes (um deles
pegou duas perpétuas), Fidel Castro reagiu: “É assombroso que os Estados
Unidos, o país que mais espiona no mundo, acusem de espionagem justamente a
Cuba, o país mais espionado do mundo. Não há chamada telefônica minha para qualquer
dirigente político no exterior que não seja captada e gravada por satélites e
sistemas de escuta dos Estados Unidos”.
Qual será o papel de
Lula nestas eleições?
A presença de Lula na campanha será
importante não só porque ele se converteu na mais expressiva liderança popular
do Brasil. O governo Dilma é a continuação do seu governo. Tenho acompanhado o
ex-presidente em suas andanças pelo Brasil e pelo mundo, como parte do trabalho
de campo de um livro que escreverei sobre ele e seu governo. Nas eleições
municipais de 2012 a presença dele em palanques regionais arrebatava multidões
e alterava as pesquisas de opinião locais. Ter o apoio de Lula é um handicap
(vantagem) cobiçado por todo candidato de esquerda.
Confere que não vai
mais escrever biografias?
Confere. Como dizem os tucanos,
cansei. Dá muito trabalho e pouco dinheiro – ao contrário do que imagina o
Roberto Carlos. Assim que terminar o livro que estou escrevendo sobre o
ex-presidente Lula, penduro as chuteiras.
Quais são seus
projetos?
Estou desenvolvendo com o cineasta
Claudio Kahns um canal internacional de notícias para a internet. Vamos ver se
dá certo.
Tem alguma utopia?
A de sempre: a construção do
socialismo.
**********************************************************