A importância do “nome”,
de um “nome”. E a importância da conquista desse “nome”, significado de
liberdade e de justiça, pelo próprio povo, protagonista de sua história.
Condutor, e não
conduzido.
Padre Dario Bossi nos
contempla com essa reflexão e nos aponta
um caminho, e nos dá o significado para esse “nome”, a ser escrito por seu
povo.
(Eduardo Hirata)
Qual é teu nome?
(Padre Dario Bossi.
Comboniano)
“Qual é teu nome?” – pergunta Jesus
ao demônio que tinha se apoderado de um homem na cidade de Gerasa. Numa outra
ocasião, na sinagoga, é o próprio demônio que tenta apavorar Jesus, dizendo-lhe
publicamente: “Eu sei quem você é: o Santo de Deus!”
Parece que conhecer o nome de uma
pessoa é como possuí-la, poder dispor dela.
O nome é a essência de um indivíduo
ou de uma localidade. Eu faço questão de perguntar às crianças quem escolheu o
nome delas, e por quê.
É importante que cada pessoa conheça
sua origem. E o nome de um local contém toda sua história.
Quando trabalhava no movimento por
moradia na zona leste de São Paulo, a ocupação urbana em que vivíamos há vários
anos tinha nomes bonitos visíveis em cada esquina: “Rua dos Trabalhadores”,
“Rua do Povo”, “Rua da Árvore”, “Rua padre Ezequiel”... Cada nome recolhia em
si símbolos e testemunhos de luta e resistência.
Da noite pro dia, de repente, a
administração municipal trocou todas as placas substituindo-as com nomes
desconhecidos de personalidades japonesas. Nada contra nossos irmãos do Extremo
Oriente, mas foi a pior violência contra as raízes e a cultura de nosso povo. E
visava enfraquecer sua resistência e organização.
Hoje vivo no município de Açailândia,
Maranhão profundo. E testemunho de novo o ataque à essência da vida e da
história.
Às portas da cidade está escrito, em
caracteres cubitais, “Bem-vindos à Cidade do Aço”. Que saudade dos açaís que
batizaram nossa cidade pouco mais de trinta anos atrás! Arrancados pelo
latifúndio e as siderúrgicas, tornaram-se espécie rara.
Em compensação, cartazes e outdoor
nas avenidas principais ressaltam com insistência que estamos na “Cidade que
mais cresce no Maranhão”.
A propaganda, no melhor dos casos, é
sempre meia verdade. A siderurgia e o ciclo de mineração nos permitiram, de
fato, crescer. Faltaria porém complementar: “Açailândia cidade que mais cresce,
que mais separa e menos partilha”.
A riqueza traz egoísmo, precisa
cancelar a memória do passado comum e impõe sua própria narração da história.
Camufla seus impactos tentando criar novos significados, sugerir outros valores
e distorcer nossos sonhos.
Açailândia tem um bairro em processo
de luta, de afirmação de sua dignidade e de fuga da poluição.
Seu nome é Piquiá. Temos orgulho
desse nome, que desponta alto como uma castanheira na floresta.
O povo de Piquiá também se levantou
em busca de justiça. Suas denúncias chegaram a comover muitos no Brasil e no
mundo.
Finalmente, estamos a um passo do
reassentamento: um novo bairro, planejado junto aos moradores, virá a ser
construído numa área livre da poluição.
Dessa vez, caberá à comunidade (e não
aos “patrões da história”) dar o nome ao novo bairro. Nesse nome, se condensará
toda a caminhada de resistência e toda a carga de esperança de uma nova vida, já
concebida e agora quase pronta para nascer!
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