(Informe de Eduardo Hirata, pelaa Secretaria Executiva do
Fórum DCA Açailândia – Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmen Bascaran)
Mais uma vez (a terceira, em menos de dois anos?) audiência
ou reunião levanta e discute os gravíssimos problemas do “transporte coletivo
público” de Açailândia, que agora, como admitiu o diretor do DMTT, “...há
cinquenta e oito dias, é um cáos, com a retirada da empresa OAM-São
Francisco...”. Não se tratou especificamente desta “retirada, unilateral”, mas
abordou-se outras questões atinentes à problemática do transporte público
municipal, inclusive na área campesina. Concluiu-se que o direito de ir e vir
está sendo pisoteado, e que sobretudo alguns segmentos populacionais, como
pessoas idosas, com deficiência, estudantes, trabalhadores(as), sofrem muito
mais as consequências.
E mais uma vez, não se chegou a conclusão alguma, o que soma
á desconfiança, o descrédito e a desilusão de boa parte da sociedade com a
“eficácia das audiências/reuniões públicas”, como tem acontecido com as últimas
(as das prestações de contas/lei da responsabilidade fiscal; as do
reassentamento do povo do Piquiá do Baixo; as dos horários de funcionamento de
bares, festas, “lei do silêncio”; as das filas e atendimento bancário; a do
enfrentamento á violência sexual contra Crianças e Adolescentes, etc, etc.).
E isso tudo graças ao “Poder Público”, o “sistema
público-administrativo municipal”, incapaz de cumprir com sua obrigação de
planejar, executar, monitorar, fiscalizar, avaliar, intervir, corrigir,coibir,
reprimir, responsabilizar, punir... Como reclamam tantos e tantas cidadãos e
cidadãs “... é muito blá-blá-blá, conversa fiada, promesseiro, e pouca ação... e
de boas intenções, o inferno anda entupido...”.
A participação da Promotora de Justiça Camila Gaspar foi
decidida, dura, objetiva, e deu o tom das discussões, levantando dissabores dos
“concessionários” dos táxis-lotação, uma prestação de serviço individual que
por artes politiqueiras acabou por se tornar “serviço público” nesta terra de
João Mariquinha...Para mim, a Promotora de Justiça deu um verdadeiro “show” e
uma aula de Cidadania e Direitos Humanos, e deixou mais que bem claro qual o
papel do Ministério Público Estadual e das Promotorias de Justiça neste imbróglio
todo... E considera, sim, ao contrário
da explicação oficial da prefeitura, que a “retirada da empresa de ônibus”
entre outros fatores, deve-se à concorrência discutível dos táxis-lotação... Ela reforçou o que o advogado Ernos Sorvos,
Presidente da Seccional Açailândia da OAB/Ordem dos Advogados do Brasil,
salientou na audiência pública da manhã do dia 13/05, na mesma Câmara de
Vereadores, que tratou da “situação da violência sexual contra Crianças e
Adolescentes”: a lei existe para ser
respeitada e cumprida, e o que está escrito é prá valer...
Realmente, no quadro atual, nenhum empresário, como bem
frisou o presidente da ACIA/Associação Comercial e Industrial de Açailândia e
representante do CEA/Centro Empresarial de Açailândia, Vanderlei Trombela, virá
“investir em transporte coletivo”, com a concorrência desleal dos táxi-lotação
e as precaríssimaa condições estruturais de trafegabilidade. No capitalismo em
que vivemos, Trombela está corretíssimo: o lucro é a alma do negócio... Enfatizou ainda Trombela que é necessária uma
“reorganização total” no “sistema de transporte público”, sob pena de
aprofundar o cáos...
O Major PM Eurico Alves, em sua fala, destacou um “Plano de
Mobilidade Urbana”, e como sempre muito técnico, mas objetivo, deixou muito
claro que é preciso, e urgente, uma mudança, com o Poder Público usando de sua
autoridade e poder, e cumprindo a lei.
Os “táxis-lotação”, que acabaram sendo “o centro das atenções
da audiência pública...” tentaram se justificar, alegando pesados investimentos
(veículos novos, na maioria, etc), mas não deixaram de admitir que “a coisa tá
feia...”, com “muito clandestino, boa parte de municípios vizinhos, e alvará
demais, distribuídos com objetivos eleitoreiros”. Não pegou o argumento de que
não têm culpa alguma, pois já estavam a muito tempo “prestando bons serviços à
população”, antes da OAM/São Francisco, que “expulsara” a Expresso Açailândia.
Como não “colou” também o posicionamento “oficial” da
prefeitura, de que a culpa de todo o transtorno e caos do “sistema de
transporte público municipal”, deve-se unicamente à decisão ilegal, espúria e unilateral
da empresa OAM/São Francisco em não respeitar o contrato, a concessão, firmado
com o município.
Fora da audiência pública propriamente dita, soubemos que “oficialmente”
são seis (06) os ônibus emergências particulares, circulando nas rotas
tradicionais Vila Ildemar e Piquiá, mas quem seria proprietário de quatro
desses seis ônibus, ameaça categoricamente deixar o serviço, pois a prefeitura
não estaria cumprindo acordo, de pagar os “vales-transporte”. Disse ele que já
tem mais de seis mil e setecentos nas mãos, sem saber o que fazer, pois não
quer (a prefeitura) pagar, e também já deve mais de três mil reais em
combustível. Quanto à irregularidade no horário dos ônibus, alegou que aguardava
um posicionamento do presidente da UESA/União dos Estudantes Secundaristas de
Açailândia, que determinaria os horários, principalmente nos “horários de pico”.
Um dos líderes comunitários do Piquiá, relatando os imensos sacrifícios
impostos aos estudantes que dependem de Açailândia, questionava: se antes a
passagem era R$ 2,50, como é que agora cobram R$2,00, e eles rodam quase sem
passageiros? Tem algum acordo de compensação com a prefeitura?
O Procurador do Município Idelmar Mendes disse ainda que o
novo edital para licitação/contrato para o transporte coletivo não foi “baixado”
visto a preocupação em incluir a transporte coletivo para os assentamentos,
para a zona rural. Ele admitiu que os ônibus que atualmente servem os
assentamentos e povoados rurais são particulares.
Para João Luis Soares, liderança da comunidade das pessoas
com deficiência, externava sua indignação com o absolto descaso, a absoluta
falta de transporte público para cadeirantes, e pessoas com deficiência em
geral, também com acessibilidade reduzida.
O líder sindical bancário Francisco Sousa buscava respostas
urgentes, para já “como fica o transporte coletivo para os(as) estudantes e
para os trabalhadores(as)”? Dependentes da precariedade do serviço “emergencial
de ônibus” estão sendo tremendamente prejudicados(as) nos estudos, no trabalho.
Mas ninguém teve respostas concretas... Apenas desculpas,
justificativas, intenções, os habituais compromissos de fazer sem falta para
faltar como sem dúvida, por parte do Poder Público municipal, responsável
direto pela oferta desse serviço e pelo cumprimento do direito essencial de ir
e vir...
Enfim, adiou-se mais uma vez encaminhamentos concretos para
tentar resolver os problemas no sistema público de transporte coletivo.
Mais sobre a audiência pública em matéria e fotos do blog
Wilton Lima, a seguir.
TRANSPORTE PÚBLICO:
Prefeitura de Açailândia realiza audiência pública para discutir problemas do
setor
(Por Wilton Lima)
“Precisamos respeitar a
hierarquia das leis brasileiras, e a lei federal transpõe a lei municipal,
portanto, o serviço de lotação de táxis é irregular no município de Açailândia,
disse a promotora da defesa do consumidor Camila Gaspar na audiência pública. E
caso não haja diálogo para solução do problema do transporte público em
Açailândia, a promotora prometeu ajuizar ações para o cumprimento da lei
federal.
Através do Departamento
Municipal de Trânsito (DMT), a prefeitura de Açailândia realizou na noite desta
segunda-feira (19), na câmara de Açailândia, uma audiência pública para tratar
do problema instalado no município no setor do transporte público, por conta da
quebra unilateral de contrato administrativo pela detentora da concessão desse
serviço, OAM Transporte Ltda (Viação São Francisco).
A prefeita Gleide
Santos (PMDB) determinou a realização da audiência pública, principalmente, em
virtude da falta de interesse de outras empresas do ramo de participarem de um
certame licitatório para concessão do serviço de transporte coletivo do
município – As alegações são as mesmas da empresa desistente, desequilíbrio
econômico/financeiro.
Com a retirada de todos
os ônibus da empresa São Francisco, a prefeitura decretou situação de
emergência e abriu espaço para que outra empresa prestasse o serviço de
transporte coletivo até que se realizasse uma nova licitação e outra empresa
fosse contratada para prestação do serviço – A atual prestadora do serviço de
transporte público não tem atendido toda a demanda da população como já era
esperado, haja vista, tratar-se apenas de um serviço emergencial.
A prefeitura de
Açailândia impetrou com ação judicial com pedido de antecipação de tutela
(liminar) contra a empresa OAM Transporte Ltda, para que essa retornasse
imediatamente os serviços até que se restabelecesse a normalidade do transporte
coletivo no município – A ação foi julgada procedente com a estipulação de
multa diária, mas a Viação São Francisco preferiu pagar os valores determinados
pela justiça do que colocar novamente os ônibus nas ruas – A multa que é de R$
600,00 por dia pode ser majorada, tendo em vista um novo pedido judicial da
prefeitura de Açailândia, como forma de pressionar a empresa a retomar a
prestação dos serviços.
Audiência Pública
Na audiência pública os
atores envolvidos direta ou indiretamente no cerne da questão fizeram uma
explanação detalhada, na visão de cada classe ou ente público, mas foi a
participação da promotora de justiça da comarca de Açailândia, Camila Gaspar,
que provocou uma discussão mais acirrada sobre assunto ao se colocar que ela [promotora]
na condição de defensora pública precisa estar ao lado da população, do lado do
usuário do serviço de transporte coletivo.
Drª Camila foi mais a
fundo e disse que a sua função não é a de agradar classe A, B ou C, mas sim de
defender o direito da população ao transporte público, que é um direito
constitucional, e disse que, na sua visão o problema do setor no município está
exatamente não falta do cumprimento da Lei que determina que o serviço de táxi
é individual e não de lotação, apesar de existir uma lei municipal que
regulamenta esse serviço. “Precisamos respeitar a hierarquia das leis
brasileiras, e a lei federal transpõe a lei municipal, portanto, o serviço de
lotação é irregular no município de Açailândia”, disse.
A promotora de justiça
fez um questionamento a todos os presentes: “Porque só em Açailândia uma
empresa de transporte coletivo não tem lucro, já que o que se tem notícia é que
todos os empresários desse ramo ganham muito dinheiro”? “Porque só em
Açailândia nenhuma empresa quer participar da licitação para a concessão desse
serviço”?
A própria promotora
respondeu: “É porque aqui a empresa de transporte precisa além de pagar todos
os seus impostos, ainda ter de transportar de forma gratuita os idosos e
conceder meia passagem para estudantes, então precisa arcar com todos esses
custos que afetam diretamente as suas planilhas, enquanto que, os “táxis
lotações” não precisam arcar com isso, por isso os empresários têm razão em
dizer que há um desequilíbrio econômico/financeiro, e dessa forma ninguém vai
querer prestar esse serviço no município”.
Para finalizar Drª
Camila enfatizou que vem tentando ao longo do tempo, para que através do
diálogo possa ser encontrada uma solução para esse impasse, e, caso isso não
aconteça, irá ajuizar ações de inconstitucionalidade da lei municipal que
autoriza os “táxis lotação” em Açailândia, bem como fazer cumprir a lei federal
que determina que todos os táxis que prestem esse serviço nas cidades com mais
de 50 mil habitantes, possuam e façam uso do taxímetro.
Ao final da audiência
pública ficou decidido que todas as classes envolvidas no problema apresentarão
até o próximo dia 26 de maio, propostas de soluções para o impasse que será protocolado
no Departamento Municipal de Trânsito de Açailândia. Os atores envolvidos no
processo se reunirão em seguida para a discussão dessas propostas e uma nova
audiência pública já ficou marcada para o dia 02 de junho, na mesma câmara
municipal, no mesmo horário, para que daí se saia com um documento de
compromisso para uma definitiva solução do problema do transporte público no
município de Açailândia.
Compuseram a mesa na
audiência pública realizada nesta segunda-feira (19) além de representantes do
executivo municipal como o diretor do DMT, Rivaldo da Silva Sousa; o Secretário
de Infraestrutura, Wagner Nascimento; a Secretária de Educação, Ivanete
Carvalho; e o Procurador Geral do Município, Dr. Idelmar Mendes. Representando
o Legislativo se fez presente a presidente da casa, Lenilda Costa (PMN); o
membro da comissão de transportes da câmara, vereador Fânio Mania; e a
vereadora Fátima Camelo. As entidades de classe estiveram representadas pelo
Presidente do Sindicato dos Taxistas, Francisco das Chagas Santos; o Presidente
da ACIA, Wanderley Trombela; representando o Centro de Defesa da Vida e dos
Direitos Humanos, Eduardo Hirata; e Francisco Ayres representando a classe
estudantil. A polícia militar esteve muito bem representada pelo comandante da
5ª CI de Açailândia, Major Eurico; e a promotoria pública pela Drª Camila
Gaspar.
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