E aqui em Açailândia do
Maranhão , que respostas governo e sociedade damos à juventude? Que formas de relacionamento
temos com ela?
Políticas públicas de
assistência social, educação, saúde, trabalho... lazer, cultura-arte, esporte,
segurança, transporte, comunicação?
Debatemos e avaliamos
suas realidades, buscamos efetivamente sua qualidade de vida e seu presente (Juventude
é aqui e agora, e como Criança e Adolescente não é “coisa” de e pro futuro,
não...)?
No descaso e na
omissão, temos que é a mais assassinada, a mais desempregada, a menos
assistida, a menos considerada, a mais envolvida e submetida à violência que
extermina e contamina...
Menos mal que agora
pode contar com um “Conselho Municipal” (que não seja mais um, inoperante e
inócuo, como a maioria da dezena e meia que já temos...), criado no apagar das
luzes de 2013, e que pelo menos poderá levantar o debate, incluir a juventude
na pauta...
(Eduardo Hirata)
(Foto revista Carta Capital. Imagens da web)
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Das ruas aos shoppings, as mesmas
respostas à juventude
Enquanto as formas de
se relacionar com os jovens forem bombas e a porrada, continuaremos a construir
uma sociedade marcada pela violência, intolerância e preconceito
(por Gabriel Medina —
revista Carta Capital, 16/01/2014)
As jornadas de junho, que se
estenderam por alguns meses do Brasil foram o melhor e maior acontecimento do
ano de 2013. Jovens do Oiapoque ao Chuí ocuparam as ruas, reivindicando o
direito à mobilidade, melhoria nos serviços públicos e o direito à participação
política, questionando o modelo da democracia tupiniquim.
Se por um lado, os
benefícios sociais alcançados na última década tenham tido impacto nessa nova
geração, de outro se evidenciou a necessidade de aprofundar e dar mais
velocidade às transformações em curso, pois os brasileiros querem muito mais.
O custo alto com o
transporte foi o ponto de partida das manifestações em 2013, mas seu combustível
inflamável foi a violência policial, reação de governos com dificuldade de
constituir canais de diálogo e construção conjunta de alternativas com a
juventude.
O ano de 2014 começa
com as cenas brutais de violência em Pedrinhas, no Maranhão, uma clara afronta
aos direitos humanos, mas, sobretudo, a expressão mais clara de falência do
sistema penal e carcerário brasileiro. Extermínio da juventude, encarceramento
em massa, condições desumanas em presídios, criminalização da ocupação da rua e
violação permanente dos direitos humanos são práticas instituídas em nossas
polícias e anunciam problemas que estruturam a existência de um apartheid
social.
O fenômeno social dos
“rolezinhos”, iniciado no final de 2013, virou a pauta principal do país.
Jovens, na sua maioria menor de idade, moradores da periferia, definem os
shoppings como território de encontro e confraternização. Estão ali para se
socializar, arrumar uma namorada, beijar na boca e serem vistos como indivíduos
que desejam e que reivindicam seu lugar na sociedade.
Os “rolezinhos”
causaram espanto, mas é de desconhecimento da maioria que os “incômodos”
pancadões (bailes funks de rua) são alvo de intensa violência policial nas
periferias da cidade. Sem opções de lazer e cultura nos bairros e com dificuldade
de circular e usufruir as opções privadas disponíveis na intensa vida noturna
de São Paulo, jovens fazem suas festas onde e como podem. Abrem os porta-malas
dos carros, com sons potentes e organizam festas. É uma alternativa às boates
da Vila Olímpia – entre outras baladas consideradas ‘legítimas’ – onde, muitas
vezes, também há drogas e sexo. Cabe aqui a reflexão: por que algumas
manifestações de jovens são permitidas e outras não? O recorte de classe e de raça pode nos
indicar uma resposta. Os “rolezinhos” são discriminados, porque deles
participam jovens negros, pobres e fazem isso na rua.
A liminar que proibiu o
acontecimento dos “rolezinhos” nos shopping legitimou o uso da força policial e
da violência, mesmo que não houvesse atos ilícitos registrados. Teve como
conseqüência à organização de duas portas de entrada em um estabelecimento
privado, mas aberto à freqüência pública, prática discriminatória e
indefensável. Como definir pela idade,
cor da pele, estilo de roupa, se este ou aquele estão proibidos de freqüentar?
Com que direito oficiais de justiça e policiais cadastram jovens potencialmente
perigosos, práticas da época da ditadura militar?
Enquanto não mudar a
forma de olhar, entender e conversar com a juventude, as respostas trarão medidas
paliativas, que escamoteiam uma discussão de fundo que temos que construir. A
juventude precisa ser considerada como sujeito de direitos e principalmente ter
o direito aos bens culturais e sociais da cidade.
É também necessária a
construção de um modelo de desenvolvimento que ultrapasse os limites de uma
sociedade de consumo, que recupere a dimensão pública da vida, que
desmercantilize as formas de convívio e contribuam para a formação de cidadãos
críticos e ativos.
O Brasil demanda uma
série de reformas ainda não realizadas, como a política, a democratização das
comunicações. Contudo, um tema central que precisa ser respondido imediatamente
é a superação do modelo policial construído na ditadura militar e a afirmação
de um projeto de segurança pública cidadão, com respeito aos direitos humanos.
Enquanto as formas de se relacionar com os jovens forem bombas e a porrada,
continuaremos a construir uma sociedade marcada pela violência, intolerância e
preconceito.
* Gabriel Medina é coordenador da Juventude da
Prefeitura de São Paulo
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