segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

RETROSPECTIVA DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES DE AÇAILÂNDIA-MA: 13 FATOS QUE MARCARAM 2013 (5) V – O ATENDIMENTO ÀS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS





RETROSPECTIVA DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES DE  AÇAILÂNDIA-MA: 13 FATOS QUE MARCARAM 2013 (5)

V O ATENDIMENTO ÀS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

       Recordando cinco postagens no “eduardohirata,blogspot.com”, entre muitas sobre o tema:

1ª - CEDCA MA reprova espaços oferecidos pelo Estado a jovens em cumprimento de medidas socioeducativas
(Da Secretaria Executiva do Fórum DCA Açailândia, com informações da Agência Matraca de Notícias da Infância, São Luís, 19/03/2013. Postagem em 24/03))

O Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do Estado do Maranhão (CEDCA-MA, responsável pela promoção de políticas públicas para infância e adolescência, encaminhou à governadora Roseana Sarney um documento que expõe os motivos para a reprovação dos locais indicados pelo governo estadual para transferência dos adolescentes internos no Centro de Juventude Esperança (CJE). (obs.: o CJE é a antiga e funesta Maiobinha...)

Após vistoria às instalações sugeridas nos bairros Areinha e Anil, o CEDCA-MA constatou que ambas edificações não possuem condições estruturais para o acolhimento dos jovens em cumprimento de medida socioeducativa de internação.

Dentre os motivos expostos, foi relatado que os locais não possuem ventilação, iluminação, salas de aula, salas para oficinas, espaço para atendimento psicossocial e de saúde, como é estabelecido pelo Sinase (Lei Federal º 12.594 que regulamenta a política de atendimento socioeducativo).) (obs.: SINASE/Sistema Nacional de Atendimento Sócio-Educativo)

 Ainda foi constatado que o espaço no bairro da Areinha possui arquitetura ao molde previsto para o “sistema carcerário adulto” e não favorece a proposta pedagógica para o desenvolvimento pessoal, relacional, afetivo e social do adolescente em cumprimento em medida socioeducativa.

As condições estruturais da Casa situada no bairro do Anil foram classificadas como “boas”, entretanto, o parecer indica que o espaço precisaria de reforma para instalações de medidas de segurança e algumas adequações para um centro de socioeducação.

A situação do descumprimento do Sinase, por parte do Estado tem se prolongado há bastante tempo.

 Recentemente, o Ministério Público deliberou pela remoção dos adolescentes internos para o cumprimento de medida socioeducativa em semiliberdade ou liberdade assistida, pois desde agosto de 2012 o CJE está interditado pela Justiça por funcionar de maneira insalubre tanto para os jovens, quanto para os socioeducadores da unidade de internação que funcionava precariamente, expondo a saúde em risco de todos.

No documento, o CEDCA solicita que a situação seja regularizada em conformidade com a Lei Federal e que o Governo do Estado providencie soluções para a situação dos 18 jovens que estão sob a responsabilidade do Estado para que exista proteção integral às crianças e adolescentes.
*
Quatro (04) jovens açailandenses encontraram  seu fim, assassinados, entre 2004 e 2010, quando cumpriam penas- medidas sócioeducativas – na antiga Maiobinha.

Sem contar que, pelas minhas contas, sete jovens e uma jovem morreram igualmente de forma violenta, pouco tempo após regressarem dos “cuidados” da FUNAC.

As famílias nunca tiveram reparação alguma, a não ser pedidos de desculpas, ou condolências, os corpos dos filhos trazidos para cá...

Mas não se diga que, nos nossos casos, o descaso é só culpa do Estado (governos estaduais), mas se atribua também ao descaso, negligência e incompetência dos governos municipais, e da própria sociedade...

Agora mesmo temos outra jovem, recém egressa de medida sócio-educativa na capital novamente nas ruas, brs e entroncamentos da cidade, nas mesmas situações e condições (de exploração sexual, tráfico de drogas, criminalidade...) que a levaram a cumprir, por quase um ano, medida sócio-educativa privativa de liberdade...

Como na crônica anunciada de Garcia Marques, e tantas outras já anunciadas dantes, aguarda-se também o triste fim desta jovem, diante da inércia do sistema (COMUCAA, CONTUA, CREAS/Assistência Social, Judiciário., Ministério Público, Defensoria Pública, Educação, Saúde, Segurança, etc, etc).

E ainda um bocado de gente se atreve querer pena de morte  para adolescentes e jovens!


2ª - CEDCAMA VISTORIA UNIDADES DE ATENDIMENTO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS  DE IMPERATRIZ
(Da Agência Matraca, São Luís, 08/05/2013. Postagem em 09/05)

Uma comissão do CEDCA-MA (Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do Maranhão), visitou nesta terça-feira, 07/05/2013, as unidades da FUNAC (Fundação da Criança e do Adolescente) órgão do governo estadual responsável pelo atendimento a adolescentes em conflito com a lei, e que na cidade de Imperatriz atendem a demanda de praticamente toda a região centro-sul do estado.

 O objetivo das visitas é efetivar o registro de entidades de atendimento sócio-educativo, como as unidades da FUNAC para conhecer a realidade das unidades, o atendimento prestado aos (as) adolescentes, os (as) profissionais envolvidos, os problemas, as dificuldades, as carências, e os casos e situações exitosas.

A comissão foi constituída pelas Conselheiras Maria Ribeiro (Presidenta do Conselho, representante do Centro de Defesa Padre Marcos Passerini); Maria Betânia ( do Conselho Regional de Serviço Social, representando ainda a 2ª Vara da Infância e da Juventude de São Luís); Nelma Silva ( da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, e o Conselho Regional de Psicologia), e Eduardo Hirata (do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmen Bascaran, de Açailândia).

 Ainda contou com o acompanhamento das representantes da FUNAC, a presidenta  Anailde Serra e a diretora técnica Magdail  Vasconcelos;  o presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Imperatriz, Ariston de França, e o Conselheiro Ciro Rodrigues Martins, além do Conselheiro Tutelar José dos Reis Gomes.

Durante a manhã foi visitado o Centro de Juventude Semear, que atende na modalidade (medida socioeducativa), atualmente atendem 16 adolescentes do sexo masculino, sendo que sua capacidade são de 20 adolescente no setor masculino e 6 no setor feminino. À tarde foi a vez do Centro de Juventude Cidadã, que atende adolescentes que cumprem medidas no regime semiaberto, apenas aos adolescentes do sexo masculino, tem a capacidade de atender até 15 adolescentes, atualmente estão sendo atendidos 2 adolescentes.  A comissão demonstrou preocupação com a quantidade de adolescentes vindos da região de Balsas, que há meses já superou Açailândia (que no momento não tem nenhum adolescente cumprindo medido socioeducativa em Imperatriz).

A Presidenta da FUNAC, Anailde Serra, anunciou que foi lançado o Edital para a construção da nova unidade da FUNAC em Imperatriz, que atenderá as duas medidas socioeducativas atuais,  e mais a internação, hoje oferecida apenas em São Luís. Essa unidade da FUNAC já é aguardada há muitos anos, tendo sido objeto de discussão em duas audiências públicas, uma em Imperatriz e outra em Açailândia, nos últimos três anos.



3ª – Audiência Pública discute o atendimento socioeducativo no MA
        (Por Marcelo Vieira, Agência Assembléia, 28/06/2013.Postagem em 02/07)

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e da Minoria da Assembleia Legislativa realizou, na tarde desta quinta-feira (27), uma audiência pública para discutir o Sistema de Atendimento Sócioeducativo (Sinase). Entre os assuntos mais discutidos, a situação precária da Fundação da Criança e do Adolescente (Funac), a falta de investimentos do Governo do Estado e a redução da maioridade penal. O encontro aconteceu no Plenarinho da Casa e contou com a participação do Poder Judiciário, representantes da Funac e dos mais diversos órgãos ligados à defesa da criança e do adolescente.

Abordando a situação das unidades de atendimento para cumprimento de medida sócio-educativa, a promotora da Infância de São Luís, Fernanda Helena Ferreira, defendeu, entre outras melhorias, que o governo invista na implantação de novas unidades regionais para desafogar a unidade da capital, que sofre com a super lotação e falta de estrutura . Ela também criticou a postura de alguns juízes que não analisam corretamente os casos e a primeira medida é mandar a criança e adolescente para cumprir medidas em São Luís.

O defensor público Murilo disse que já está cansado de participar de audiências públicas para falar as mesmas coisas, dar as mesmas respostas e ouvir as mesmas reclamações. Para ele, os problemas envolvendo a infância no Estado só serão amenizados quando o governo resolver abrir o cofre e efetivamente fazer os investimentos necessários. Caso contrário, a situação continuará como está e piorando.

A deputada Eliziane Gama anunciou que irá pedir uma audiência com a governadora Roseana Sarney, para que possa receber o movimento da infância. Ela também informou que irá convidar o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente no Maranhão (Conanda) para acompanhar de perto a situação da infância no Estado. “Vamos cobrar do governo que cumpra a decisão judicial que já foi tomada com relação à Funac, que está interditada por uma decisão judicial, e o governo possa de fato promover aquilo que foi determinado, que inclui as reformas e a adequação dentro das exigências da Sinase. Tudo isso vamos encaminhar nesta segunda-feira de forma que venhamos a trazer resultados importantes para infância”, defendeu a deputada.
MAIOR IDADE PENAL
Sobre a redução da maioridade penal, o promotor Marcio Tadeu chamou a atenção para o fato de que existe uma tendência forte no judiciário a favor da redução maioridade penal. Segundo levantamento recente,  quase 60 por cento dos juízes e mais de 90% da população querem a redução da maioridade penal. Segundo ele, isso é preciso informar a população para que essa redução não aconteça.  

A deputada Eliziane Gama disse que será preparado um documento para enviar ao Congresso Nacional, tratando da redução maioridade penal que, segundo ela, é uma grande preocupação.

Ela defendeu ainda que os movimentos unam forças para uma manifestação pró-infância na Assembleia Legislativa.

·         (Eduardo Hirata):
A FUNAC já anunciou a construção de novas unidades em Imperatriz, que deverão atender o sul do Maranhão.

Mas não é o bastante. Por exemplo, os municípios precisam fazer sua lição de casa, tratando da implementação do SINASE, ampliando, fortalecendo, qualificando o atendimento das medias socioeucativas em meio aberto.

Combater a redução da maioridae penal é um imperativo e uma missão, começando que não é possível nem pensar em punir um(a) adolescente como se adulto(a) fosse, no sistema penal que temos no Brasil, e sobretudo aqui no Maranhão.

E adolescentes e jovens na prática são condenados é a morte, como acontece aqui em Açailândia.

Nunca nos esqueçamos que perdemos quatro, assassinados em motins e ocorrências em São José do Ribamar e São Luís, quando cumpriam suas penas, pagavam suas culpas junto a sociedade,  em regimes de privação de liberdade, e outros oito, egressos ou evadidos delas. Isso é muita coisa, para menos de dez anos. É um verdadeiro extermínio.
PELO CUMPRIMENTO AO SINASE! NÃO À REDUÇÃO DA IDADE PENAL!

4ª - MPMA pede interdição das unidades Canaã e Alto da Esperança
       (Redação: Eduardo Júlio, CCOM-MPMA, 06/09/2013.Postagem em 09/09)

Em razão do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA) não ter concedido registro de funcionamento ao Centro de Juventude Canaã (CJC), unidade de internação provisória situada no Vinhais, e ao Centro de Juventude Alto da Esperança (CJAE), unidade de internação definitiva situada na área Itaqui-Bacanga, ambas coordenadas pela Fundação da Criança e do Adolescente (Funac), a 6ª Promotoria de Justiça da Infância e Juventude formulou, em 28 de agosto, duas Representações à Justiça contra o Estado do Maranhão e a Funac. A primeira pede a interdição do Canaã e a segunda reitera o pedido de interdição do Alto da Esperança, já feito em Representação de agosto de 2012. As manifestações foram assinadas pela promotora de justiça Fernanda Helena Nunes Ferreira.

O MPMA solicita ainda a transferência de todos os adolescentes sentenciados ao cumprimento de medida socioeducativa de internação definitiva para medida em meio aberto de liberdade assistida, nas Comarcas de origem de seus pais ou responsáveis, salvo os domiciliados em São Luís e em Imperatriz, que devem ser encaminhados às unidades de semiliberdade. “Se o Estado não exerce o seu dever de garantir a execução,na forma legal, deve ser promovida a readequação da medida, que é substituível a qualquer momento, por outra adequada”, ressalta a promotora de justiça. Já os adolescentes que cumprem medida socioeducativa de internação provisória devem ser postos em liberdade, sob o cuidado dos pais ou responsáveis, mediante termo de entrega e com o compromisso de se apresentarem às autoridades sempre que forem solicitados. Fernanda Helena enfatiza que estes adolescentes ainda não foram sentenciados. Por isso, podem ser postos em liberdade. A promotora sugeriu à Justiça, a concessão de um prazo ao estado e à Funac, conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente, para sanar as irregularidades das unidades, antes do deferimento dos pedidos formulados.
IRREGULARIDADES
Desde quando começou a funcionar, o Centro de Juventude Alto da Esperança nunca recebeu o registro do CEDCA, por falta de regularização de documentos (regimento interno), proposta pedagógica e adequação da infraestrutura, conforme prevê o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase). Um registro provisório chegou a ser concedido no começo de 2012. Na época, foi dado um prazo de 90 dias para a regularização dos problemas, mas em inspeção realizada no mês de abril do mesmo ano, foi atestado que as irregularidades não tinham sido sanadas.

O Centro de Juventude Canaã funcionava antes da criação do Sinase, mas não se adequou posteriormente às normas legais. Por isso, não recebeu o registro do CEDCA. Ambas as unidades necessitam também de reforma e ampliação, com a realização de reparos nas redes elétricas e hidráulicas e nas quadras e alojamentos.

De acordo com o Sinase, as unidades de cumprimento de medidas socioeducativas só estarão aptas a funcionar, após registro concedido pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente. Sem os registros, estes centros permanecem irregulares perante a lei.
SUPERLOTAÇÃO
Outra grave ilegalidade constatada pelo Ministério Público foi a superlotação do CJC e do CJAE, o que resultou no encaminhamento pela Funac de adolescentes sentenciados à internação definitiva para o Canaã, unidade de internação provisória. Fato considerado pela promotora de justiça como uma total afronta às normas legais.
RECORRENTE
Após vistorias coordenadas pelo MPMA, foi recomendada a regularização dos documentos e a reforma e ampliação das unidades de cumprimento de medidas socioeducativas, com a realização de reforma na infraestrutura. Mesmo assim, as medidas foram insuficientes ou insatisfatórias.
SERVIDORES
Devido ao estado de insalubridade verificado nas unidades de cumprimento de medida socioeducativa de internação definitiva, provisória e de semilibardade (masculina e feminina), e na sede da Funac (Madre Deus), o MPMA solicitou, em 2 de setembro, ao Ministério Público do Trabalho a adoção de medidas judiciais e extrajudiciais com o objetivo de garantir os direitos e a integridade física dos servidores públicos que trabalham nos locais.

·         (Eduardo Hirata):
Do jeito que está hoje a situação do atendimento sócioeducativo no Maranhão, “oficialmente” não existem “adolescentes internados(as)”, pois as unidades da FUNAC que atendem (deveriam atender) essa medida socioeducativa – a de internação- encontram-se judicialmente interditadas.

A questão é como o governo estadual, as autoridades judiciárias e a sociedade estão “cuidando” das situações que exigiriam a medida de internação: mantendo adolescentes em centros de custódia ou presídios?  Reaplicando outras medidas socioeducativas em meio aberto? Os municípios estão preparados, tem estrutura para atender, e atendem com qualidade e eficiência essas medidas em meio aberto?

Outra grande indagação: Açailândia tem sido, infelizmente, município “grande cliente e usuário da medida de internação”, tanto que tivemos em nove, quatro adolescentes e jovens assassinados quando cumpriam a medida privativa de liberdade, e outros oito egressos, adolescentes e jovens  egressos “recém-liberados” de internações ou custódias/internações provisórias, e uma jovem, também mortos violentamente.
E como está a situação de custódia/semi-liberdade/internação provisória de adolescentes e jovens?
Como a Polícia Civil, o Ministério Público, o Judiciário, estão tratando essas situações,  e para onde estão “encaminhando”? Têm acompanhamento do Conselho Tutelar, zelador de Direitos de adolescentes conforme o ECA? E têm os próprios adolescentes e jovens, e suas famílias, a devida atenção social do município, através do CREAS ou dos CRAS?
Ou tudo isso não compõe o processo de “recuperação/ressocialização” desses(as)  adolescentes e jovens, de acordo com o SINASE?

5ª - MENOR DE IDADE BOM É MENOR DE IDADE PRESO?

O que explicaria o clamor tão grande  em Açailândia do Maranhão e no Brasil, pelo encarceramento de adolescentes  infratores e pela redução redução penal? O ano de 2013 encerra com o debate da questão, cada vez mais exacerbado e radicalizando perigosamente...

E aqui no nosso Estado, a situação é ainda mais terrível, com o que vem acontecendo no sistema prisional, uma verdadeira barbárie.

E no fato de que “oficialmente” não se pode “internar” adolescentes infratores, pois as unidades de internação estão judicialmente internadas, e sem registro de funcionamento,concedido pelo CEDCA-MA/Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente.

E é preciso ressaltar que a situação não é de hoje, e é sempre preciso lembrar aos (as) açailandenses que defendem o encarceramento prisional e a redução da idade penal (quase sempre em “integração” com a pena de morte...) que quatro adolescentes foram assassinados cumprindo pena de internação, aos cuidados do Estado (e também da sociedade, que tem responsabilidades, sim) e nove adolescentes e jovens quando egressos dessa penalidade também tiveram abreviadas violentamente as suas vidas.

Pior ainda é que por aqui há um “verdadeiro pavor” em debater o assunto, por parte das instituições e autoridades mais diretamente vinculadas à questão, e que experiências  positivas tanto no Brasil como no mundo, tenham sido abandonadas, como a “criação” de uma Justiça Juvenil Restaurativa, a implantação de Práticas Restaurativas e a participação açailandense nas atividades da Rede Maranhense de Justiça Juvenil.

Por aqui, não temos plano, política de atendimento, e o ECA/Estatuto da Criança e do Adolescente é flagrantemente pisoteado. Aliás, falando no ECA, é um absurdo que se queira mudar (fazer outra) a lei e reduzir a idade penal, encarcerando adolescentes nos presídios/penitenciárias “comuns”, quando em 23- vinte e três- anos do ECA., praticamente nada se fez e se faz para cumpri-lo, o que com toda certeza propiciaria outro quadro nacional?


Para encerrar 2013, e começar 2014 com essa pauta, “esperando” que nosso SGD/Sistema de Garantia de Direitos  e rede de atendimento” enfim reúna, sente, converse, se articule e mobilize para cumprir o ECA,  a “Lei do SINASE/Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo”, como é de sua obrigação,

Segue artigo publicado na revista Carta Capital, uma das muitas contribuições ao debate e busca de soluções (menos a redução da idade penal, que não é solução alguma...(Eduardo Hirata)
·         MENOR BOM É MENOR PRESO” (Por Rodrigo  Martins, 27/12/13)
Nove em cada dez brasileiros são favoráveis à redução da maioridade penal, a despeito da oposição do governo federal, de juristas, da Igreja Católica e de organizações de direitos humanos.

 No início de abril, o universitário Victor Hugo Deppman, de 19 anos, foi abordado por um rapaz armado na porta de casa, em São Paulo. Mesmo após entregar o celular, sem esboçar qualquer reação, acabou executado com um tiro na cabeça. A morte brutal logo ganhou destaque na mídia e reacendeu um debate que se arrasta há mais de duas décadas no Brasil, sempre de volta à baila quando a classe média se vê vítima de novo ato de barbárie: a redução da maioridade penal. O assassino, soube-se mais tarde, era um adolescente infrator reincidente. Ele assumiu a autoria do crime, ocorrido três dias antes de completar 18 anos. Como não havia atingido a idade para a responsabilização criminal, voltou a cumprir medida socioeducativa na Fundação Casa. Antes dos 21 anos, deve estar solto, como determina o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Diante da repercussão na mídia e em meio aos protestos convocados por amigos e familiares, o instituto Datafolha saiu às ruas para aferir a opinião da população quanto à possibilidade da redução da maioridade penal, prevista em mais de 50 projetos em tramitação no Congresso. O resultado: 93% dos paulistanos mostraram-se favoráveis à responsabilização criminal de jovens a partir dos 16 anos, e não mais aos 18, como determina a atual legislação. A adesão maciça à ideia poderia ser influenciada pelo calor dos acontecimentos.


Mas, passados dois meses, o Vox Populi voltou às ruas com a mesma pergunta, dessa vez em uma pesquisa de abrangência nacional. A conclusão foi estarrecedora: 89% dos entrevistados acham necessário encarcerar os adolescentes infratores. Um consenso popular que desafia as políticas públicas em voga na sociedade. O resultado das pesquisas contraria a posição defendida pelos governos Lula e Dilma, a opinião de juristas que enxergam na proposta um “populismo penal”, o entendimento da Igreja Católica e de incontáveis organizações de defesa dos direitos da criança e do adolescente, a vislumbrar na redução da maioridade penal mais malefícios que benefícios.

Curiosamente, nenhum outro tema polêmico da agenda nacional mobiliza tamanha concordância da população. Segundo diferentes pesquisas, proposições como pena de morte e casamento gay, por exemplo, costumam dividir a população ao meio. Ao menos um quarto defende a legalização da maconha ou a descriminalização do usuário de drogas. O que explicaria, então, o aparente paradoxo lógico? Por que boa parte da população que se mostra liberal em temas igualmente polêmicos é tão taxativa quando se trata de prender adolescentes como bandidos comuns?

 “Não se pode dizer que todos os que apoiam a redução da maioridade penal são conservadores ou reacionários. Dentro de um universo tão amplo, há seguramente cidadãos com posições progressistas em relação a direitos civis e individuais, mas que se sentem acuados pela violência e seduzidos por soluções mágicas”, avalia o cientista político Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi. “No mundo todo, há uma predisposição da opinião pública a acreditar que a violência só vai reduzir com mais repressão, mais prisões e penas mais duras. E não há uma defesa enfática do argumento contrário.

Com a espetacularização dos crimes cometidos por menores na televisão, quem se dispõe a dizer abertamente que a prisão para os adolescentes não é justa?” Especialistas, ONGs de direitos humanos e organismos internacionais bem que tentam demonstrar as falácias da proposta. “Os adolescentes são mais vítimas que autores de violência. Em 2011, eles foram responsáveis por, aproximadamente, 1,8 mil homicídios, 8,4% do total. No mesmo ano, 4,3 mil jovens entre 12 e 18 anos incompletos foram assassinados.


Mas quando um garoto negro é morto na periferia poucos dão atenção. A mídia costuma dar destaque apenas quando cidadãos de classe média ou alta são as vítimas”, critica Mário Volpi, coordenador do programa de Cidadania dos Adolescentes do Unicef, ligado às Nações Unidas.“Em 2011, os homicídios cometidos por menores representaram 3,7% do total de casos no Brasil. Nos EUA, onde diversos estados tratam adolescentes como adultos, inclusive na eventual aplicação de pena de morte ou prisão perpétua, eles foram responsáveis por 11% dos assassinatos.”

Na avaliação do advogado Rafael Custódio, da ONG Conectas, o que está em jogo é a política penal que o Brasil pretende adotar. Se o foco é punitivo, o País tende a seguir o exemplo americano de encarceramento em massa. Trata-se de uma abordagem distinta do direito restitutivo, que preconiza a recuperação dos infratores para a futura reinserção social. “É impossível de isso ser feito num presídio comum, ainda mais com a atual superlotação. Hoje, a população carcerária brasileira é superior a 550 mil detentos, e há um déficit de 200 mil vagas. O Estado não garante a segurança dos presos, eles são alvo de extorsões do crime organizado. Para sobreviver nesse ambiente hostil, muitos se associam a facções criminosas.”

De fato, não parece fazer sentido jogar os 60 mil jovens que cumprem medidas socioeducativas em presídios convencionais se o objetivo é tirá-los do crime. Ainda que 43,3% deles sejam infratores reincidentes, no encarceramento adulto a média é ainda pior. Sete em cada dez presos que deixam o sistema penitenciário voltam ao crime, uma das maiores taxas de reincidência do mundo.

 Mas não deixa de ser legítima a preocupação da população com sua própria segurança, afirma Renato Janine Ribeiro, professor de Ética e Filosofia da Universidade de São Paulo. “Se a redução da maioridade penal não é boa, qual é a melhor opção? Deixar tudo como está? Estamos perdendo tempo com esse sim ou não para a mesma proposta, e os chamados ‘setores progressistas’ não apresentam alternativas.”

O filósofo teme que a solução simplista de reduzir a idade penal apenas sirva para antecipar a prática delituosa entre os adolescentes. Caso a maioridade passe a valer a partir dos 16 anos, por exemplo, o que garantiria que o tráfico não passasse a aliciar jovens de 13 ou 14 anos, por exemplo? De toda forma, propõe uma alternativa: “Quando um adulto alicia um menor para praticar um roubo e o adolescente mata uma pessoa, o adulto deveria ser responsabilizado pelo homicídio. O mesmo deveria valer para qualquer outro crime”.

A busca por opções também levou o vereador paulistano Ari Friedenbach (PPS) a propor outra inovação. Em 2003, ele sofreu com o brutal assassinato de sua filha Liana, de 16 anos, caso em que houve a participação de um adolescente. Defensor ardoroso da redução da maioridade penal, mudou de opinião. “É ineficaz, pois estimula os criminosos a recrutar adolescentes ainda mais novos”, pondera. “Mas não posso conceber que um estuprador ou um homicida de 16 anos cumpra no máximo três anos de internação. Por isso, acho que para cinco crimes de maior potencial ofensivo (homicídio, latrocínio, estupro, roubo à mão armada e sequestro) o adolescente deve, sim, ser julgado e condenado. Permanece numa instituição como a Fundação Casa até completar 18 anos e depois termina de cumprir a sentença num presídio comum.”

A proposta livraria da cadeia adolescentes envolvidos com pequenos furtos ou com tráfico de drogas, por exemplo. Estes continuariam a cumprir medidas socioeducativas nos moldes atuais. Mas o texto proposto pelo vereador ainda espera alguém disposto a apresentá-lo no Congresso. E os mais conservadores insistem na punição ampla e irrestrita. “Criança é quem toma mamadeira, faz xixi no colo da mãe e dorme no berço. Quem rouba, mata e estupra é bandido e ponto”, esbraveja o senador Magno Malta, autor de um projeto que prevê a responsabilização criminal de qualquer cidadão, independentemente da idade.

Da Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado estadual Campos Machado puxa um abaixo-assinado para tentar emplacar um plebiscito sobre o tema. “É uma forma de furar a blindagem do governo federal, que impede a discussão do tema no Congresso. Vamos deixar o povo decidir.”

Se a disputa política assemelha-se a uma briga de foice, no meio jurídico o cenário não é tão distinto. Ministros do Supremo Tribunal Federal, como Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello, já se manifestaram contra a alteração das regras.Mesma opinião tem o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Nelson Calandra. “O sistema carcerário está superlotado, não é possível botar mais gente.” Mas uma pesquisa feita pela entidade em 2006, com mais de 3 mil entrevistados, revelou que 61% dos juízes brasileiros são favoráveis à proposta.  Entre os promotores, a divergência também é grande. “Jogá-los na cadeia não resolverá nada, precisamos recuperar esses jovens”, opina o promotor paulista Fernando Henrique de Moraes Araujo, com 14 anos de experiência na Vara de Infância e Juventude. “É chocante a legislação permitir a impunidade dos adolescentes enquanto a violência está grassando na sociedade”, rebate o colega Oswaldo Monteiro da Silva Netto.

E um equívoco dizer que os menores infratores estão impunes. Se o cumprimento das medidas socioeducativas não está surtindo o efeito esperado, devemos reavaliar o trabalho feito com os jovens, e não jogá-los numa cela”, avalia a defensora pública paulistana Juliana Ribeiro. “As instituições que abrigam os infratores não funcionam adequadamente. Os monitores portam-se como carcereiros.

A escola reúne em uma mesma sala adolescentes de diferentes níveis de aprendizado. Os psicólogos e assistentes sociais estão sempre sobrecarregados. E são corriqueiras as denúncias de agressão contra os internos. Cansei de ver garotos com sinais de espancamento, cabeça rachada... É esse tratamento que precisa ser revisto, e não a legislação.”
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