“FIM DE
FESTA”...
Como me disse uma amiga,
“... ano velho acabou, festa e comilança
também, ano novo entrou e agora é que a ficha cai...”.
Dez dias entrantes no
2014, já passou a ressaca, se fez o rescaldo das festas, as “coisas” devagar
entrarão nos eixos, neste ano carnaval, Páscoa, copa do mundo de futebol,
eleições, batendo às portas?... Bom, carnaval e Páscoa todo ano tem, mas copa
do mundo e eleições gerais, só de quatro em quatro anos...
Fim de festa ou a festa continua,a festa não pode parar?...
A seguir, artigo da Carta Capital sobre o assunto, e boa
leitura...
(Eduardo Hirata)
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FIM DE FESTA
Nada há mais melancólico do que fim de festa. As duas
paisagens, a exterior e a interior, geralmente são desoladoras
(Por Menalton Braff — publicado 06/01/2014 , revista Carta Capital)
Nada há mais
melancólico do que fim de festa. As duas paisagens, a exterior e a interior,
geralmente são desoladoras. Foi bem isso que eu senti outro dia. Tive de voltar
na manhã seguinte ao local do crime e quase não acreditei no que vi. Em lugar
do brilho da véspera, seus arranjos com bandeirolas coloridas, suas fitas e
topes, em lugar das mesas organizadas segundo o mais apurado gosto, o que vi
parecia o campo devastado por uma guerra furiosa. Restos de comida jogados por
cima e por baixo das mesas; garrafas esparramadas; tocos de cigarro esmagados
dentro de copos plásticos ainda com restos de refrigerante. O salão, na
verdade, pareceu-me um imenso cinzeiro. Em lugar da multidão sorridente e
loquaz, um gato incomodado atravessou o salão solitário e silencioso e ganhou a
rua por uma janela entreaberta. Realmente um cinzeiro transbordando.
Depois de uma festa, é
difícil haver alguém que não sinta um pouco de remorso, tantos são os excessos
que o espírito festivo justifica. Durante a festa, aquela gula contida pelas
ameaças do senhor médico, a custo contida, diga-se de passagem, solta as
frangas, avança o sinal, empurra para um amanhã nem sempre provável todas as preocupações com a saúde (ou com a
estética), já que o instante é de euforia. Depois dela, da festa, aquele peso
no estômago, uma tremenda indisposição que nos faz sentir como um navio
encalhado em banco de areia. É um enfaro tão grande que, em comunicação, só
conseguimos enunciar alguns clichês.
A consciência, então,
como é que a consciência fica? A ciência do bem viver exige-nos contenção,
muita contenção todo dia o dia todo, para que o convívio social seja tolerável
ou apenas possível. Algumas pessoas, quanta ingenuidade, afirmam que são
autênticas (é essa mesma a palavra que usam), que dizem tudo o que pensam. E se
orgulham desta autenticidade. Algumas pessoas, umas poucas. Felizmente. Porque
a maioria, por instinto de sobrevivência ou por educação, não sai por aí dando
trombada em Deus e todo o mundo, agredindo sem necessidade, ofendendo quem lhe
aparecer pela frente. Parece incrível, pois estas últimas, quase sempre, são as
que mais têm do que se arrepender depois de uma festa. Se a festa é de
casamento, então, a situação piora consideravelmente. Parentalha, quando se
encontra, quer botar as fofocas em dia. Não há quem não saia um pouco ofendido,
com alguma mágoa engasgada na garganta.
Leitor apressado (essa
é machadiana), não me acuse de ser contra as festas só por ter feito as
considerações acima. Por pior que seja uma festa, ela é o condimento necessário
para os dias e noites brancos que temos de atravessar nesta vida. O que seria
do mundo sem um dia o peso no estômago, sem a mágoa de uma prima autêntica?
Mas o mais ridículo de
tudo, em passagem de ano, são os propósitos, sempre os mesmos, sempre repetidos
e jamais alcançados. E por uma razão bem simples: a única coisa que muda é a
folhinha na parede.
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