sexta-feira, 18 de julho de 2014

Como vivíamos sem? (ADMIRÁVEL MUNDO NOVO...)




Eu confesso, eu me rendo! Sou um excluído tecnocibernético, ou coisa que o valha! Hoje mesmo fiquei boquiaberto, espantado, em uma praça, um menino e uma menina não mais de dez anos, “operando” um celular (não é celular, moço, é um smartphone...) e um tablet.

 Meu filho baixa filmes na “netfix” e assiste no computador, e minha filha lava roupas na máquina de lavarnovinha  “curtindo um som” que sai do seu celular, em fones de ouvidos...

E já tentou me explicar mil vezes o que é o “whatsapp”, mas não entra em minha cabeça dura...

Minha caçula me deu seu celular, já meio defasado, mas devolvi, nunca aprendi a usar, passava vergonha, pedindo prá outras pessoas “pode ver essa mensagem prá mim?”.

Como vive dizendo o Faustão (que saudades dele do tempo improviso na Band, ops, digo TV Bandeirantes...), “... eu sou daquele tempo!...”.

E sou mesmo! Um velho custoso de se adaptar ao ADMIRÁVEL MUNDO NOVO! Tempos globalizados, pós-históricos, a tecnologia dominante... onde ainda  vamos chegar! Eu pelo menos, não chego longe, para mim bastou, não tenho pique prá acompanhar...


(Eduardo Hirata)


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COMO VIVÍAMOS SEM?


Como era possível viver num mundo sem essas coisas todas que existem hoje?


(Por Alberto Villas — publicado na “Carta Capital”, 17/07/2014)



No meu tempo não tinha televisão! Essa frase me perseguiu durante toda a minha infância. O meu pai dizia isso toda vez que percebia uma novidade no ar ou via uma pontinha de progresso entrando pela porta da sala da nossa casa.

Durante décadas e décadas, ouvimos que quando ele era menino, o sucesso era um rádio GE que ficava no saguão do hotel do seu pai, meu avô. Era dali que saiam as notícias da guerra, a sonoplastia bizarra das radionovelas, a voz de Aracy de Almeida cantando Palpite Infeliz e os gritos de gol de Oduvaldo Cozzi.

O meu pai parecia se orgulhar de ter vivido num mundo sem televisão. Quando os seus filhos se reuniam para ir ver Os Jetsons  na casa da vizinha, ele achava que o mundo estava acabando, que aquela invenção era a maldição do século, século passado.

Quando começávamos a comentar os programas como Bola Murcha, Agarre o que puder, quando começávamos a imitar os personagens da Rua do Ri Ri Ri ou Times Square, ele sempre voltava com aquela história de que no seu tempo não tinha televisão, não tinha essas bobagens.

Outro dia fui fazer uma palestra no interior do Paraná e as pessoas arregalaram os olhos quando comecei a listar as coisas que não existiam no meu mundo juvenil.

Vivíamos sem micro ondas, por exemplo. A comida era esquentada uma a uma no fogão. No meu tempo não tinha protetor solar. A lembrança que tenho dos nossos verões na Cidade Maravilhosa é de bolhas no corpo inteiro e muito Caladryl.

Fui revelando pra eles que não havia celular, apenas um telefone preto e fixo que ficava geralmente na sala. Não havia supermercado, as compras eram feitas em mercadinhos e se você quisesse um quilo de feijão, tinha que pedir ao vendedor.

- Um quilo de feijão, por favor!

Contei que no meu tempo não tinha controle remoto e nós ficávamos esperando alguém levantar para pedir.

- Aproveita que está de pé e muda o canal!

Não havia leite longa vida. Comprávamos leite todo dia e colocávamos pra ferver logo,  porque senão azedava rapidinho. Imagine que não havia cerveja em lata, só em garrafas de vidro e das grandes. Acredita que vivíamos sem código de barra?

Não havia cartão de crédito, nem caixa eletrônica. Se precisasse de algum dinheiro, era preciso ir ao banco, enfrentar uma fila enorme, entregar o cheque pro caixa, esperar ele ir lá dentro conferir o saldo e a assinatura numa ficha de cartolina.

No meu tempo não havia selfie. Lembro do meu pai reunindo toda a família, colocando a Rolleiflex dele num tripé, apertando o botãozinho e correndo pra poder sair bem na foto.

Não havia compra pela Internet. Em Belo Horizonte, a minha mãe ligava pra Drogaria Araújo e o cara vinha de fusquinha trazer o Benzetacil. Aquilo era o progresso, o começo de tudo.

Numa outra palestra no interior de Minas Gerais, quanto mais eu ia enumerando coisas que não havia no meu tempo de jovem, mais velho ia me sentindo. Quando eu fui explicando que vivíamos sem Instagram, sem Easy Taxi, sem e-mail, sem Google, sem Facebook, sem tudo isso, uma jovem levantou o dedo e perguntou:

- Não tinha Netflix?


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