domingo, 27 de julho de 2014

RÁDIO ARCA FM realizou o seminário “COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA CONTRA A VIOLÊNCIA À CRIANÇA E A ADOLESCENTE” na Vila Ildemar, Açailândia-MA








(Informe da Secretaria Executiva do Fórum DCA Açailândia – Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmen Bascarán)


A Rádio ARCA (Associação Rádio Comunitária de Açailândia) FM,  como parte do Projeto “Comunicação Comunitária Libertária”, aprovado  premiado pela organização “Brazil Foundation” (ong que apoia iniciativas da sociedade civil brasileira que propõem soluções criativas e diferenciadas para os desafios enfrentados por comunidades de todo o país), realizou na manhã do sábado, 26/07/2014, entre 0800 e 1130 horas, no auditório da Igreja São Sebastião, na Vila Ildemar, o seminário “Comunicação Comunitária contra a Violência à Criança e Adolescente”.

Participação de representantes de instituições públicas e não-governamentais, de atuação no SGD/Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes ( o advogado Ernos Sorvos, Presidente da Seccional Açailândia da  OAB/Ordem dos Advogados do Brasília  de Açailândia; o Assistente Judiciário Ronnedy Santos Carvalho, representando o Promotor de Justiça Gleudson Malheiros Guimarães, titular da 4ª PJA/Promotoria de Justiça de Açailândia; o Defensor Público Estadual do Núcleo de Açailândia, Vitor Eduardo Tavares de Oliveira; o Juiz de Direito do Trabalho Carlos Eduardo Santos, da Vara do Trabalho de Açailândia; o Major PM Eurico Alves, Comandante da 5ª CIA da Polícia Militar; o Padre Laerte, da Paróquia São Sebastião, o representante do CDVDH-CB/Centro de Defesa da Vida  dos Direitos Humanos Carmen Bascaran-Fórum DCA Açailândia e COMUCAA, este que vos escreve ) que em suas falas às cerca de sessenta pessoas presentes, entre elas @s Adolescentes e Jovens do “Projeto Comunicação Comunitária Libertária”, voluntári@s comunicadores(as) e técnic@s da Rádio ARCA FM, estudantes, pais e mães, professores(as), destacaram sobretudo os 24 anos do ECA/Estatuto da Criança e do Adolescente , o papel e a importância da família e da comunidade na garantia de Direitos e na busca de melhor qualidade de vida, segurança e paz.

O seminário foi apresentado e conduzido pela Coordenadora da Rádio ARCA, Brígida Rocha, apoiada por adolescentes e jovens do “Projeto” e da emissora comunitária.

Dr. Ernos Sorvos, da OAB-Açailândia, tratou sobre o ECA/Estatuto da Criança e do Adolescente e o Ato Infracional. Para Dr. Ernos Sorvos, “... o sistema não fecha – faltam locais, espaços adequados para a ressocialização de Adolescentes e Jovens. E ressocializar significa dizer que a socialização – que compete à família, à escola, à igreja, á sociedade - falhou”. O representante da OAB destacou pontos da Constituição Federal (artigo 5º, Direitos Fundamentais), do Código Penal, e ressaltou o papel pedagógico da medida socioeducativa, destinada a “punir” o ato infracional cometido por Adolescente.

O Assistente do MInistério Público Estadual/MPE- 4ª PJA, Ronnedy Santos Carvalho, ministrou sobre a violência sexual contra Crianças e Adolescentes. Iniciou com a fábula dos animais da fazenda, cuja “moral da história -  ...temos sim, que nos interessar pela sorte d@s outr@s”. Ele destacou os altos índices de violência sexual contra Crianças e Adolescentes, citando que mesmo nesta semana, três meninas de uma mesma família seriam vítimas deste crime, e por parte do pai, mas que é apenas a “ponta do iceberg”, pois ainda falta  conscientização para denunciar (falou do sistema do Disque 100). Ronnedy salientou que o sistema de atendimento ainda está muito a desejar, que falta estrutura a órgãos essenciais, como o Conselho Tutelar, o CREAS/Centro de Referência Especializado de Assistência Social. E ressaltou o papel d@s professor(a)s, para interromper o ciclo de violação, daí a importância da escola na prevenção, vigilante quanto a sintomas, sinais. (As consequências, disse Ronnedy, todos sabemos...).

O Defensor Público Estadual Vitor Eduardo Tavares de Oliveira tratou sobre o papel e as atribuições e funções da Defensoria Pública, a mais nova instituição do sistema judiciário brasileiro, principalmente na defesa dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes. Fez uma diferenciação entre advogado  e defensor público. Relatou o Defensor Público que em Açailândia a Defensoria vem buscando garantir os Direitos de Crianças em Acolhimento Institucional (abrigos), de adolescentes a quem se atribue ato infracional,  e intervindo muito nas questões de saúde, como na efetivação de consultas, exames, etc.

O Juiz de Direito do Trabalho, Carlos Eduardo Santos, foi enfático: “ Criança – a pessoa de zero a doze anos de idade incompletos-  não pode trabalhar de jeito nenhum. A Constituição, a lei, proíbe. Adolescente, a partir dos quatorze anos, pode ser aprendiz, mas com condições e restrições, só podendo ser o aprendizado em estabelecimento legalizado, monitorado, fiscalizado – e tem que estar na escola. A partir dos dezesseis, então o adolescente e o jovem podem trabalhar, mas também com restrições: não pode ser trabalho noturno – entre 2200 e 0600 horas- insalubre ou perigoso.” Dr. Carlos Eduardo tratou (e derrubou...)  vários mitos sobre o trabalho infantil ( “ eu não vou deixar meu filho em casa...; meu filho precisa aprender a trabalhar...; eu não vou criar vagabund@, etc) e destacou que atende muitos casos de adultos doentes, prejudicados ou impedidos de trabalhar, que “adquiriram” doenças quando crianças e adolescentes, trabalhando, fazendo esforços e atividades fisicamente inadequados.

O Major PM  Eurico Alves relatou sobre o papel  e a atuação da Polícia Militar em Açailândia. Alertou que as ocorrências de violência e criminalidade envolvem cada vez mais adolescentes, quase meio a meio com os adultos. Lamentou que vivemos uma época de consumismo desenfreado, e sem fazer apologia, isso acaba repercutindo no comportamento e nos índices de violência e criminalidade. “Alguma coisa está errada, quando um adolescente não está nem aí mas tem Iphone de ultima geração, moderníssimo, de três mil reais”, enfatizou o Major Eurico. Disse que é preocupante a situação da Vila Ildemar, a maior aglomeração humana do município, e o fato de 60% das famílias serem chefiadas por mulheres, que precisam trabalhar e como ficam os filhos? E que não há creches, escola em tempo integral, serviços e programas públicos eficientes para atender as demandas  sociais, e na falta de tudo isso, a PM é chamada para “resolver”. E nosso Major Comandante desabafou: “... cansei de hipocrisia, cansei de discurso...”. E que o maior índice de violência sexual no Maranhão – do qual Açailândia não está tão perto assim- é o de Pinheiro, onde trabalhou, e realmente se assustou. Justificou Major Eurico dizendo que em Açailândia, há maior visibilidade, mais discussão sobre o assunto, há o “sistema”  embora longe do funcionamento e da eficácia desejada.

Padre Laerte destacou nossa época de “cultura de morte, da desconstrução de valores, do ser econômico, do consumo e do prazer”. Lamentou a desorganização e a ineficácia das políticas públicas e das ações da sociedade, e da exposição e fragilidade das famílias –em flagrante violação dos Direitos Humanos á Convivência Familiar e Comunitária- chegando ao ponto de deixar para a escola, para a igreja a sua principal missão, que é a de formar as crianças para os valores humanos. Padre Laerte ainda abordou itens como “ a violência moral, a erotização precoce de nossas crianças pela mídia e publidade, a pornografia, a sexualidade deturpada, o mito de que adolescentes e jovens- em razão da tecnologia- são bem informad@s, a cooptação de adolescentes e jovens pelo crime organizado, sobretudo o das drogas; os sistemas penitenciário e de ressocialização, que não recuperam ninguém; o tráfico humano, o trabalho escravo e o trabalho infantil; o perigos da internet e da tecnologia, o preconceito contra os DH/Direito Humanos. Como o Major Eurico, Padre Laerte foi categórico em dizer que a “Vila Ildemar pode ser feliz sim, por que a Vila Ildemar não pode mudar para melhor?”.

Mas ambos salientaram que um dos problemas sérios que impedem Açailândia melhorar, é a pouca participação da comunidade nos estudos, nas discussões sobre seus problemas. Exemplo seria o próprio evento, que poderia ter um público bem maior.

(Essa falta de interesse das comunidades, da sociedade,  na “coisa pública, no bem comum, no controle social ”, de fato, é de lamentar.)

 O Conselheiro Presidente do COMUCAA/Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Ismael Martins de Sousa, também esteve presente no acolhida ao seminário,  mas em razão de compromisso inadiável, teve de retirar-se.


(Fotos de Brigida Rocha)
                                                            

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