O CORONEL E O PRÊMIO NOBEL
por Izaias Almada, especial para o Viomundo, 22/03/2018.
Quero
começar o artigo transcrevendo o trecho que antecede uma carta escrita pelo
coronel Robson Rodrigues da Silva, oficial da PM do Rio de Janeiro, a um seu
colega de profissão também oficial da PM carioca:
“O cargo me obrigou a
assistir inúmeros enterros, de inúmeras vítimas policiais de uma guerra
fratricida que nos prostra enquanto seres humanos. Uma guerra inglória. Abri
uma exceção por um dever de consciência; para falar de uma amiga, a vereadora
Marielle, porque, se sua morte me impactou, muito mais tem impactado a forma
vil e cega e infame como ela vem sendo tratada por algumas pessoas nas redes
sociais. Pessoas que não conheceram Marielle.”
“Senti-me na obrigação de informar a amigos desinformados sobre
quem ela era; amigos que considero e que são bombardeados por bobagens e falsas
informações sobre a vereadora que não conheceram.”
A
íntegra da carta, que pode ser lida abaixo, é um documento que, acima de nobre,
nos dá a entender que nem tudo está perdido dentro de uma instituição como a PM
do Rio do de Janeira e, quiçá, de suas irmãs em todos os estados da Federação.
Vale a pena ser lida e divulgada.
Enquanto
isso o ex-presidente Lula começa novo giro pelo Brasil, dessa vez pelo sul do
país.
Mesmo
com a cara fechada de alguns pelo caminho, tudo leva a crer que terá a mesma
repercussão das caravanas que já foram feitas no ano passado, com enorme
afluência de brasileiros que já entenderam a diferença entre os oito anos de
seu governo e o desastre de apenas um ano do usurpador Michel Temer.
O
ex-presidente Lula não é só um candidato a candidato. Carrega na sua bagagem um
dos melhores governos do Brasil republicano, aquele que mais fez pelo povo
trabalhador humilde. Bater nessa tecla começa a ficar cansativo.
Mas
Lula carrega também junto a si o ódio e o preconceito de uma parte da elite
mais boçal que o Brasil encerra dentro de grandes mansões com muros de três a
quatro metros de altura espalhadas pelas principais capitais do país e de
algumas fazendas defendidas por jagunços armados, essa turminha da democracia
de mão única. Sem falar no caixa forte dos grandes bancos.
Prêmio
Nobel da Paz em 1980 o escritor argentino Adolfo Pérez Esquivel tomou a
iniciativa de indicar o ex-presidente Lula para a próxima reunião do Nobel,
sugestão logo em seguida apoiada por inúmeros parlamentares de países membros
do MERCOSUL, entre eles o deputado argentino Oscar Laborde que declarou: “a
exclusão de Lula das eleições presidenciais brasileiras seria um fato
gravíssimo não só para o Brasil, mas para toda a América Latina”.
Defender
Lula nesse momento não é mais uma questão partidária e não estou aqui dizendo
nenhuma novidade. É, sim, defender a democracia e a Justiça com J maiúsculo,
além de ser o candidato mais confiável de todos que vêm se apresentado para
disputar as próximas eleições de outubro.
Confiável
no sentido de que já demonstrou que é capaz de fazer um bom governo, enquanto
as alternativas no campo progressista são verdadeiras incógnitas, até pela
inexperiência política de alguns.
A
“aceitação” do golpe mequetrefe dado em 2016 é em meu modesto ponto de vista,
um contrassenso.
Todo e
qualquer golpe de estado é uma violência contra a democracia, mesmo a
democracia
burguesa já bastante viciada em muitas “alternativas” para a manutenção de
grupos economicamente fortes na defesa de interesses e de privilégios.
O
quadro político do momento está cheio de expectativas não muito interessantes
para o Brasil.
O
assassinato de Marielle demonstra o que pretendo dizer, esperando eu que esse
tipo de violência pare o quanto antes.
A carta
do coronel Robson Rodrigues da Silva e a caravana de Lula pelo sul do Brasil
são dois respiros de paz e vigência democrática sem o uso das aspas.
Que a primeira repercuta dentro
das instituições policiais brasileiras e que as caravanas de Lula sigam o seu
percurso em paz rumo às eleições de outubro próximo.
Que a
carta do Coronel Robson Rodrigues da Silva, o manifesto de Esquivel e a caravan
do Lula pelo sul sejam respiros de paz no conturbado e ensandecido Brasil de
hoje...
(Eduardo
Hirata)
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