sábado, 3 de agosto de 2013

(Em relação a mais um assassinato de jovem em Açailândia, nesta sexta-feira 02/08/2013)



O FUTURO DOS JOVENS EM RISCO?


(Daniel Cerqueira e Rodrigo Leandro de Moura, pesquisadores)


Desde sempre se fala que os jovens são o futuro da nação. Mas o que nós estamos fazendo com os nossos jovens no Brasil? Os dados sobre mortalidade violenta juvenil mostram uma realidade trágica. Por exemplo, em Alagoas a taxa de vitimização violenta letal de homens de 20 anos ultrapassou o incrível patamar de 456 por grupo de 100 mil indivíduos. A violência perpetrada contra jovens é, porém, um fenômeno disseminado no País e que tem crescido substancialmente nas últimas décadas. A cada ano, uma maior proporção de jovens é assassinada. Mais do que isso, as vítimas são cada vez mais jovens: a idade da taxa máxima de homicídios que era de 25 anos em 1980 passou para 21 anos em 2010. Qual o perfil desses jovens vitimizados? São tipicamente homens, pardos, com 4 a 7 anos de estudo, mortos nas vias públicas, por armas de fogo, nos períodos onde há maior interação social.
Extremamente preocupante também são as mortes ocasionadas por acidentes de transporte. Nos anos 2000, com o aumento da renda do brasileiro e o aprimoramento do mercado de crédito, sobretudo para aquisição de veículos automotores, muitos indivíduos tiveram acesso a automóveis e motocicletas. Provavelmente, tal fenômeno colaborou para que a taxa de óbitos em acidentes de trânsito envolvendo jovens aumentasse 44,6% na última década. Nesse caso a vítima típica é de jovens, brancos e com maior nível de escolaridade.
São incomensuráveis as perdas dessa tragédia, em termos de dor, sofrimento, e desestruturação familiar. Por outro lado, esses óbitos geram perda de expectativa de vida e, consequentemente, um custo econômico de bem-estar para a sociedade que pode ser expresso monetariamente. Nossos cálculos mostraram que as violências podem fazer reduzir a expectativa de vida ao nascer em até quase três anos para os homens, dependendo do estado. Economicamente, o custo anual com a vitimização violenta dos jovens pode corresponder até 6% do PIB estadual (no caso de Alagoas). No geral, a morte prematura de jovens devido às violências custa ao País cerca de R$ 79 bilhões a cada ano, o que corresponde 1,5% do PIB nacional. O que fazer para reduzir a mortalidade? Trata-se de uma tarefa complexa, que passa por um maior comprometimento político das autoridades, reestruturação completa do nosso combalido sistema de segurança pública e melhoria educacional, não apenas em anos de estudo, mas também em qualidade. Investir no jovem é fundamental, não apenas para reduzir a dramática taxa de vitimização violenta, mas para garantir o futuro da nação, com indivíduos mais educados e produtivos.
O artigo acima é baseado no estudo preliminar "Custo da Juventude Perdida no Brasil", realizado pelos pesquisadores e divulgado em seminário sobre juventude realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento Internacional (IDRC, Canadá) e o Centro de Estudios Distributivos Laborales y Sociales (Cedlas).

Daniel Cerqueira
Pesquisador do IPEA-RJ
Rodrigo Leandro de Moura

Pesquisador do IBRE/FGV-RJ