domingo, 19 de janeiro de 2014

TRABALHO INFANTIL AUMENTA DURANTE FÉRIAS ESCOLARES (E na feira livre dominical de Açailândia tem demais...!)






TRABALHO INFANTIL AUMENTA DURANTE FÉRIAS ESCOLARES

                        (E na feira livre dominical de Açailândia tem demais...!)


(Eduardo Hirata)


Tenho escrito um bocado sobre o “trabalho infantil” em Açailândia do Maranhão, seja aqui no blog, ou nas páginas do semanário “Jornal do  Maranhão”. Divulgado muitas fotos. Trabalho infantil (e trabalho desprotegido de adolescente) é uma realidade terrível aqui no município.

Público, escancarado, explícito. Acintoso, desaforado, ao arrepio da lei, que o define como crime. Leis, decretos,normas, planos, regulamentos, portarias, programas, tem demais (Emenda Constitucional n.º 020, CLT, etc, etc). E aqui em Açailândia do Maranhão, legislação (a  lei complementar n.º 07/2007, por exemplo e o Plano Municipal de Prevenção e Erradicação do  Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente/PLAMETI). De quebra, um TAC/Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta, firmado pelo Município com o MPT/Ministério Público do Trabalho, e participação do MPE/Ministério Público Estadual.

Tem também duas das mais importantes politicas de enfrentamento, que são o “Bolsa-Família” e o PETI/Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. E a considerar o orçamento público, tem também uma ação da Assistência Social  de “abordagem de Crianças e Adolescentes”.

Leis, órgãos (Delegacia Regional do Trabalho, Conselho Tutelar, CREAS, CRAS, escolas públicas, etc., etc) tem sido em vão, sobretudo nas férias escolares, quando aumenta vertiginosamente  o número de Crianças e Adolescentes trabalhadores(as).

Por exemplo, na feira livre dominical, na “Praça do Mercado”, às margens da Rodovia Belém-Brasília. Neste domingo, 19/01, com excepcional movimento, ali entre 0830 e 0900 horas, quando por lá perambulei...

Mais de cinquenta Crianças e Adolescentes, em claras, evidentes situações de “trabalho”, e em todas as atividades de comércio e serviços da feira: meninas vendendo artesanato, meninos e meninos na venda de verduas e frutas; menino sozinho na banca vendendo cd; meninos e meninas nos “isopor” de peixes; menina na banca de confecções; meninos frentistas; meninos e meninas merendeiros(as)...

Tudo em meio á parafernália da feira: barulho, corre-corre, agitação, um ambiente certamente não recomendado para Crianças e Adolescentes: poluído sonora, ambientalmente, insalubridade, perigoso, que favorece o assédio, exposto ao sol e ao tempo, enfim, numa manhã de domingo, nesta cidade cristã e civilizada, com toda certeza lugar de Criança e Adolescente não seria, ali, “trabalhando” das sete ao meio dia...

E se fosse só a e na feira livre, mas no mercado também, na calçada da Marly Sarney ao lado do Bazar Bandeirantes, menino vendendo cd; na “Rua do Campo”, dois meninos com carrinhos de picolé/sorvete; na entrada do Conjunto Progresso II, à margem da BR-222, em frente a 2ª Delegacia de Polícia e a OAB, dois meninos vendendo laranja, em uma “saveiro”.... E.... e..., etc., etc.

Há alguns anos atrás, o MPE promoveu uma “blitz”, com o Conselho Tutelar, a Assistência Social, a Polícia; foi um estardalhaço momentâneo, “recolhendo e retirando” dezenas de Crianças e Adolescentes em “situações de trabalho”, ou “de rua”; chamou pais e responsáveis, e ficou por isso mesmo, isto é, nisto que aqui está...

Não passa da hora de uma ação efetiva para combater o trabalho infantil e zelar pelo trabalho de adolescente?

(Na foto, da professora Eline Nascimento, meninos na venda de ovos de codorna, passando pela Praça da Biblia).
  
 Aproveitemos o tema para uma leitura no artigo da Fundação ProMenino, a seguir.

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  (Promenino Fundação Telefônica,  15/01/2014)

Trabalho infantil aumenta nas praias durante férias escolares


Se você esteve em alguma praia durante o verão, pode perceber que não é difícil se deparar com algum adolescente desviando de guarda-sóis e de pessoas deitadas na areia, de um lado ao outro, servindo porções acompanhadas de caipirinha ou cerveja. Ou então crianças que, de ponta a ponta da praia, carregam nos ombros o peso da comida, bebida ou artesanato sob o sol e sobre a areia quente em troca de alguns trocados para complementar a renda da família.

O aumento do número de crianças e adolescentes trabalhando na época do verão é uma forte tendência, principalmente no litoral, de acordo com o coordenador do Projeto de Fiscalização do Trabalho Infantil no Rio Grande do Sul (SRTE/RS), Roberto Padilha. “Aumenta muito o número de trabalho infantil durante esse período. Existe um fluxo migratório de famílias inteiras que saem da capital e interior para trabalharem nas praias.”

Por meio das ações de fiscalização e das entrevistas nas praias, Padilha também percebe que a ausência da escola no período de férias se soma à demanda e exploração de trabalho. “Muitas dessas crianças estudam em suas cidades de origem, mas em épocas de recesso escolar aproveitam para terem renda extra. 

Um dado que nos chamou atenção é que há crianças e adolescentes que descem do Nordeste até aqui, passando por toda a costa litorânea como vendedores ambulantes.” O coordenador da SRTE/RS também se preocupa com esse fluxo nas cidades-sede da Copa do Mundo. “A nossa perspectiva é que esse comportamento migratório para trabalhar se repita durante os jogos do Mundial.”

A coordenadora do Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil da Organização Internacional do Trabalho (IPEC/ OIT), Maria Cláudia Falcão, concorda que as férias podem ser um agravante para o trabalho infantil. “Nesse período há mais comércio por conta do turismo, então há uma demanda e um envolvimento maior de crianças no verão, principalmente em serviços de ambulantes”. Maria Cláudia afirma que o maior tempo na escola ajuda a evitar o envolvimento de crianças e adolescentes com o trabalho. 

“Estamos lutando cada vez mais por uma escola de tempo integral, a educação é uma das principais alternativas para atingir a população que está inserida no trabalho infantil.”

Riscos e consequências

Fadiga, desidratação, lesões musculares e problemas de desenvolvimento são apenas alguns dos riscos que crianças e adolescentes correm devidos às extensivas jornadas de trabalho, longas caminhadas carregando peso e sem proteção solar. “Essas crianças do comércio ambulante e que atuam como garçom nos bares, quiosques e restaurantes têm contato com álcool e outras drogas e diversos problemas físicos e psicológicos. Se para o adulto já é agressivo, para a criança em desenvolvimento é muito pior”, explica a coordenadora do IPEC.

Além disso, a falta de proteção e garantia de direitos acaba deixando a criança vulnerável. “O menino ou menina que está na rua também está exposto à violência sexual e outros tipos de exploração e abusos”, atenta Padilha.

Não à toa, o comércio ambulante e outras atividades realizadas em ruas e vias públicas estão na Lista de Piores Formas de Trabalho Infantil (Lista TIP), da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Entre as agressões à saúde, as crianças e adolescentes ficam expostas à violência, drogas, doenças, gravidez indesejada, assédio sexual e tráfico de pessoas; exposição à radiação solar, chuva e frio; acidentes de trânsito; atropelamento, entre outros. Outro ponto importante é que é em estabelecimentos que há venda de bebida alcóolica, é proibido o trabalho de pessoas com menos de 18 anos, sem exceções.

O que fazer?

Como forma de erradicar essa prática, o coordenador do Projeto de Fiscalização do Trabalho Infantil afirma que fiscalizar e autuar empregadores são as ações que mais surtem efeito. “É o terceiro ano consecutivo em que buscamos o explorador do trabalho infantil, que sofre consequências legais, e houve bastante redução no número de crianças trabalhando nesse período.” 

Além dessas ações, as famílias também são orientadas. “Fazemos os encaminhamentos para a rede de atendimento para que a família seja incluída no Sistema de Garantia de Direitos e em programas de transferência de renda.”

Enquanto cidadão, a pessoa que identificar qualquer situação de trabalho infantil, não deve comprar nenhum produto oferecido e denunciar imediatamente, como explica Maria Cláudia Falcão. “A denúncia é o mais importante e o mais eficaz, seja por meio do Disque 100 ou indo ao conselho tutelar mais próximo, para que essa criança possa ser encaminhada e inserida em programas sociais”. Outro caminho de denúncia é o aplicativo Proteja Brasil. Lançado para tablets e smartphones, a ferramenta pode ser baixada gratuitamente e apresenta, de forma simples, informações sobre os tipos de violência e os serviços e telefones mais próximos para a denúncia.

Para Maria Cláudia, campanhas contra trabalho infantil devem ser feitas o ano todo, sendo fonte de informação e sensibilização da sociedade. “As pessoas precisam compreender que nas férias essas crianças e adolescentes deveriam estar brincando, e no resto do ano na escola. Devemos exigir, enquanto cidadãos, que esses meninos e meninas estejam estudando e brincando, e não sendo explorados.”


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