domingo, 30 de março de 2014

PESQUISA APONTA QUE 70% DAS VÍTIMAS DE ESTUPRO SÃO CRIANÇAS E ADOLESCENTES







(Informe da Secretaria Executiva do Fórum DCA Açailândia – Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmen Bascaran)



O “Portal do Veras” divulga pesquisa do IPEA, com dados alarmantes sobre a violência sexual que atinge sobretudo Crianças e Adolescentes e mulheres.
                                                                                 
Aqui em Açailândia do Maranhão, essa violência sexual aparentemente não tem controle tampouco limites, estimulada pela própria cultura, pelo “modus vivendi”.

Embora situações isoladas, aqui e acolá, de âmbito judicial ( Professor Francisco, as condenações de Elisangela e João Gonçalves, em primeira instância, pelos assassinatos da  adolescenteMaria Marta, e das jovens Edinete e Gerlene, a sentença do Tribunal de Justiça confirmando a da Comarca de Açailândia em relação ao caso que chamamos “CPI 2003-2004”, a esmagadora maioria dos(as) presumidos(as_ agressores(as) e violadores(as) sexuais continuam livres, leves e absolutamente impunes.

E o pior é que as centenas de vítimas, suas famílias e comunidades, relegadas ao esquecimento, ao abandono, ao descaso, à falta de atenção, devida por lei, e sem a justiça de suas reparações necessárias. A “rede de atendimento” é francamente uma “piada”, e os praticamente inexistentes mecanismos  de atenção às vitimas, absolutamente ineficazes...

O “sistema”,composto por órgãos públicos municipais, estaduais e federais, e ongs, não consegue falar a mesma língua, constituir protocolos de atendimento, e desobedece, por desconhecimento e falta de interesse e compromisso, ao que se tem nas leis, nos planos de enfrentamento ( aqui temos o nosso desde 2004...).

Tanto que ano passado a Promotora de Justiça Camila Gaspar chegou a “baixar” uma recomendação à policia civil, determinando que no transcorrer do inquérito policial, se assegurasse o encaminhamento de vítimas de violência sexual ao CREAS/Centro de Referência Especializado de Assistência Social, que “em parceria” com o Conselho Tutelar/CONTUA, tem a obrigação institucional de atender, “em primeira mão”, as situações se violência contra Crianças e Adolescentes...

E a “rede de atendimento psicossocial” ainda se justifica, dizendo que tudo depende do juiz...É de se questionar: “... então, qual é o seu papel, qual a responsabilidade de cada um no enfrentamento da violência sexual? Ou é na base do cada um(a) por si e Deus por todos(as)?

(Eduardo Hirata)




PESQUISA APONTA QUE 70% DAS VÍTIMAS DE ESTUPRO SÃO CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Pesquisa divulgada na tarde de quinta-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que 70% das vítimas de estupro são crianças e adolescentes e 89% são do são do sexo feminino, possuem em geral baixa escolaridade.
A pesquisa revela que em 50% dos incidentes totais envolvendo menores, há um histórico de estupros anteriores.
“Trata-se de dados alarmantes, pois sabe-se que o estupro, além das mazelas de curto prazo, gera consequências de longo prazo, como diversos transtornos, incluindo depressão, fobias, ansiedade, abuso de drogas ilícitas tentativas de suicídio e síndrome de estresse pós-traumático. Tal fato, ocorrendo exatamente na fase da formação individual e da autoestima, pode ter efeitos devastadores sobre a sociabilidade e sobre a vida dessas pessoas.

Sobre os elementos situacionais relacionados a tais eventos, um terço dos casos está associado à ingestão de bebidas alcoólicas”, diz o relatório da pesquisa.
Segundo a pesquisa do Ipea, a coação por ameaça, força física e espancamento é o padrão, só havendo maiores alterações quando a vítima é adulta e o agressor é desconhecido, caso em que a arma de fogo estava presente em 23,3% dos crimes. Sobre o padrão temporal das ocorrências, um detalhe chama a atenção: a prevalência dos estupros segue de maneira inversa à dos incidentes letais violentos, como homicídios, acidentes de trânsito e outro,que ocorrem mais nos fins de semana e meses de primavera e verão.

No caso dos estupros, a frequência é maior nos meses de inverno e às segundas-feiras.
Os crimes em que há penetração vaginal, em adolescentes entre 14 e 17 anos, redunda em uma grande taxa de gravidez, que ocorre em 15% dos casos. Possivelmente este indicador, acima do encontrado na literatura, seja decorrente de eventos repetidos, tendo em vista o histórico de violência sexual intra familiar.

Dentre as mulheres adultas que engravidaram, 19,3% fizeram aborto legal. Esse indicador cai para 5% quando a vítima possui entre 14 e 17 anos. A prática de aborto legal só é possível em menores quando tanto a vítima como o responsável legal estão de acordo com o procedimento. Tendo em vista que uma significativa parcela dos estupros de adolescentes é perpetrada pelos próprios pais ou padrastos, possivelmente esses dois fatos ajudam a explicar a menor taxa de abortos legais nessa faixa etária.

No estudo, os pesquisadores investigaram ainda os condicionantes associados à probabilidade de a vítima: 1) sofrer estupros repetidos; 2) contrair DST; 3) passar por tratamento profilático contra DST; 4) fazer aborto legal; e 5) ser encaminhada pela unidade de saúde a outros órgãos públicos.

Utilizamos modelos de regressão logística para entender como cada variável ou característica, isoladamente, afeta tais probabilidades, em que alguns dos principais resultados foram reportados abaixo.

Foi verificada que a probabilidade de a vítima sofrer estupros recorrentes é positivamente associada à relação de dominação doagressor perante a vítima. Ou seja, quanto menor for a chance de a vítima ser capaz de denunciar o agressor, maior será a probabilidade que estupro seja recorrente. Em particular, quando o agressor é familiar, a chance de recorrência é 3,47 vezes maior em relação à situação em que a vítima conhece o agressor, não sendo esse parente, cônjuge, ou namorado. Residir fora da área urbana faz com que a probabilidade de estupros recorrentes aumente 20%.

Nos cálculos sobre a probabilidade de a vítima contrair DST em consequência do estupro estão totalmente em linha com o que foi evidenciado na literatura médica.

Alguns resultados que merecem destaque são: i) agressores desconhecidos fazem com que a chance de contrair DST aumente 45% em relação à situação em que a vítima conhece o agressor, não sendo este parente, cônjuge, ou namorado; ii) as vítimas que sofreram lesões nos órgãos genitais apresentam probabilidade de contrair DST 46% maior que as vítimas sem esse tipo de lesão; e iii) o estupro recorrente faz aumentar em 43% as chances de DST.

No que se refere à análise acerca da probabilidade de a vítima de estupro passar por profilaxia contra DST, de modo geral os resultados foram compatíveis com o procedimento preceituado pelo Ministério da Saúde. Inexplicável contudo, é o fato de indivíduos com menor escolaridade sofrerem um tratamento diferenciado no SUS, o que revela uma desigualdade incompatível com o princípio da universalidade e isonomia do sistema.

Outro ponto que merece ser salientado diz respeito à menor chance de tratamento por residentes em regiões rurais, o que deve estar refletindo as mais escassas condições de oferta qualificada de serviços públicos nessas regiões.

Por fim, acerca da probabilidade de a vítima ser encaminhada a outros órgãos públicos, como polícia, ministério público e outros, chama atenção o resultado em que se o agressor foi cônjuge ou namorado, tais chances diminuem 45% em relação aos casos nos quais o perpetrador é conhecido, embora sem relação de parentesco. Como nas situações que envolvem indivíduos adultos essa é uma decisão pessoal, não há qualquer necessidade de o sistema de saúde fazer tal denúncia. Tal indicador revela, de certa maneira, a dificuldade do Estado em romper um ciclo de violência que ocorre dentro dos lares.


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