sábado, 14 de junho de 2014

A Copa e o tráfico humano





(Por: Luciano Gomes dos Santos, sociólogo,  publicado no “Portal da ANDI”, 12/06/2014)


A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil promoveu, neste ano, a Campanha da Fraternidade sobre Tráfico Humano, que é o cerceamento da liberdade e o símbolo do desprezo do ser humano. A vida é reduzida a produto que pode ser negociado. O mau explora as pessoas em diversas atividades: construção, confecção, entretenimento, sexo, serviços agrícolas e domésticos, doações ilegais, remoção de órgãos e outras. Essa é uma discussão muito oportuna, especialmente em função da Copa do Mundo no Brasil. O tráfico humano gera, por ano, aproximadamente, R$ 65 bilhões no mundo. É uma cifra espantosa. As pessoas são atraídas por trabalho, porém, quando chegam ao destino, descobrem que serão exploradas, terão que se prostituir. O tráfico está vinculado à migração. Milhares de estrangeiros deixam suas culturas em busca de dignidade e, quando se encontram no novo país, tornam-se "escravos" em diversos trabalhos, principalmente se estiverem vivendo de forma ilegal.

No Brasil, temos nos deparado com a exploração de mulheres, crianças e adolescentes tanto no mercado do sexo quanto nas atividades produtivas agrícolas ou urbanas, nesta última, na confecção de roupas. Os traficantes se aproveitam da fragilidade econômica e social dos indivíduos em processo de migração para aliciá-los. Nessa perspectiva, o tráfico humano é crime que deve ser denunciado e eliminado de nossa sociedade. A pessoa é desonrada em sua dignidade, ferida em seus sentimentos. A sua vida é subtraída nos aspectos físicos e psicológicos. Destacam-se como formas de tráfico humano exploração no trabalho, exploração sexual, extração de órgãos e doação ilegal de crianças e adolescentes. Esses crimes aumentaram nos últimos anos devido à competição econômica e à mercantilização do trabalho. O Brasil, como sede da Copa do Mundo neste ano, torna-se vulnerável ao tráfico humano, principalmente no que diz respeito às explorações sexual e do trabalho. Milhares de brasileiros e estrangeiros estarão circulando pelas principais capitais do país. Nesse contexto, abrem-se diversas possibilidades para a exploração do ser humano. A Copa deve ser a oportunidade para denunciar e combater o tráfico humano, pois bilhões de pessoas estarão sintonizadas nos jogos no Brasil. A mídia, a política, a família, a escola e a religião devem unir forças para combater esse crime que vem destruindo a vida de milhares de pessoas em todo mundo. O período dos jogos da Copa poderá ser utilizado por todos nós, cidadãos brasileiros, buscando identificar causas, vítimas e causadores do tráfico humano.

Também podemos reivindicar programas de reinserção dessas vítimas na vida familiar e social, além de cobrar e promover ações de prevenção e de resgate da cidadania das pessoas em situação de tráfico. O tráfico humano deve ser combatido por toda a sociedade. O ser humano possui em si o pertencimento ao seu ser, nasceu livre e deve permanecer livre para construir sua vida no seio da humanidade. Ninguém merece ser reduzido a mercadoria. A pessoa é valorativa em si mesma e não pode valer por utilitarismo. Extirpar o tráfico humano deve ser o grande projeto da humanidade neste início do século 21. A Copa torna-se o grande espaço para promover não apenas os jogos e a interação de diversas culturas, mas o lugar da promoção da vida que se encontra na vulnerabilidade social.

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