domingo, 6 de agosto de 2017

Participação popular norteia debate no 3° Interconselhos do Maranhão










O evento teve a presença do escritor, teólogo e professor Leonardo Boff, que trouxe ao debate a sua experiência política, social e filosófica sobre a importância da manutenção da democracia e do levante popular. (Foto: Carlos Pereira)



Os desafios e perspectivas da participação popular mediante a conjuntura nacional e regional foi a agenda de discussão que mobilizou representantes dos mais de 38 conselhos estaduais a se reunirem durante o 3° Interconselhos do Maranhão, na tarde de terça-feira (1°), no auditório da Assembleia Legislativa do Maranhão, em São Luís.


O evento, promovido pela Secretaria Estadual de Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop), teve a presença do escritor, teólogo e professor Leonardo Boff, que trouxe ao debate a sua experiência política, social e filosófica sobre a importância da manutenção da democracia e do levante popular.

O secretário estadual de Direitos Humanos e Participação Popular, Francisco Gonçalves da Conceição, falou sobre a função dos conselhos na atual conjuntura política nacional. “O Interconselhos foi criado para ser um espaço de articulação das demandas da sociedade civil junto ao poder público. Não se muda a realidade de pobreza do estado sem o empoderamento dos movimentos sociais. Na história da democracia brasileira, os conselhos de direitos se tornaram um símbolo da participação popular e o debate de hoje é uma posição política do governo do Estado na defesa intransigente da democracia brasileira”, disse.

Na abertura do evento, a presidente do Conselho Estadual da Mulher, Lúcia Gato, cantou o hino nacional acompanhada de percussionista que executou ritmos da cultura popular e afro-brasileira, sugerindo ao debate um pensamento e debate regional para questões nacionais. “Temos uma grande missão que é trabalhar sem descanso para que as políticas públicas fiquem de pé. Estamos aqui em nome daquilo que a sociedade civil reivindica e quer executar: nenhum direito a menos”, pontuou Lúcia Gato.

Marta Bispo, representante do Conselho Nacional dos Bispos do Brasil, saudou as mulheres, comunidades, pastorais e educadores, ressaltando o valor da manutenção da democracia por meio da participação popular. “Nós continuamos a resistência em favor dos direitos e da participação popular, da democracia e da liberdade. Estão nos tirando o direito de ser cidadão no país”, falou Marta Bispo.


O desafio da crise nacional


O teólogo iniciou a palestra destacando a importância pedagógica e social da crise política nacional como uma oportunidade de repensar o modelo de desenvolvimento do Brasil. “A crise sempre aparece de tempos em tempos quando o povo adquire consciência de direitos”, disse Boff.

Para o escritor, três grandes sombras marcam a história brasileira: o genocídio indígena, a escravidão negra e forma violenta de colonização descrita no livro “Casa Grande e Senzala”, do historiador Gilberto Freire. “O Brasil se transformou numa empresa que reproduz a casa grande e senzala com concentração de renda a uma oligarquia que controla as políticas econômicas pautado num modelo patrimonialista”, explicou Boff.

Leonardo Boff propôs também a observação de pensar um novo modo de desenvolvimento social para o Brasil, considerado a 7ª economia do mundo, a partir da conjuntura geopolítica mundial, com os novos acordos políticos com a China e o BRICS e as estratégias de dominação dos Estados Unidos no controle territorial do Atlântico Sul. “Uma estratégia imperialista é desestabilizar todos os governos progressistas com o golpe parlamentar”, alertou.

A mensagem final do escritor foi a busca de caminhos e soluções que quebre com a hierarquia estabelecida. “Não esperem nada de cima. Inaugurem uma nova forma de democracia participativa, com a autoprodução e a cooperação de todos. Para viver com dignidade é necessário trabalho e renda para todos e os movimentos sociais poderem elaborar um novo projeto de Brasil”, finalizou.


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(Trecho de entrevista de Leonardo Boff a “Homem de vícios antigos- Leonardo Boff: Estamos indo ao encontro de alguma convulsão social,  

, publicada no DCM/Diario do Centro do Mundo, 03/08/2017. BOFF simplesmente se define como ‘“teólogo, filósofo, articulista semanal do Jornal do Brasil online e escritor”. Deixou de fora outros predicados, num gesto de desapego coerente com suas escolhas religiosas e políticas.)

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Você visita São Luís para participar do 3º. Interconselhos, o Encontro de Conselhos do Estado do Maranhão, reunindo diversas instâncias de participação popular. Conselhos de Direitos são uma importante conquista na democracia no que se refere à participação popular. Qual a importância destes espaços na atual conjuntura?
Não podemos esperar nada de cima, do Parlamento e dos que controlam as finanças e manipulam o mercado. Estes não estão interessados num projeto de nação, mas de garantir a natureza de sua acumulação, que é uma das maiores do mundo.
  Apenas 77.400 biliardários controlam grande parte de nossas finanças (0,05% da população). As mudanças vêm daqueles que precisam delas, que são as classes oprimidas, subalternalizadas no campo e na cidade, com os aliados que não sendo da mesma classe, assumem sua causa.
 Eu espero que esses movimentos se articulem, ganhem as ruas e praças, pressionem os poderes centrais de Brasília e consigam uma reforma política com outro tipo de democracia participativa, onde eles, os movimentos, ajudem a formular os investimentos, a realizá-los e a controlá-los.
 Aí sim, teríamos um outro Brasil, o Brasil das maiorias. Os neoliberais brasileiros querem um Brasil menor, para uns oitenta milhões apenas. Os outros, os 125 milhões que se lasquem.
 95% dos brasileiros avaliam mal o governo de Michel Temer, mas esta insatisfação generalizada não consegue extrapolar as redes sociais. Na atual conjuntura, qual o papel dos movimentos sociais, de defensores de direitos humanos, enfim, da militância, de modo geral?
Talvez uma frase do maior pensador cristão e africano, Santo Agostinho, do século V, nos dê a resposta: alimentar esperança, mas atender às suas duas belas irmãs: a indignação e a coragem. A indignação para rejeitar as coisas ruins. A coragem para mudá-las.
 Hoje os movimentos devem se indignar e mostrar isso nas manifestações, nas praças, nas redes sociais, nas rádios comunitárias e jornais dos movimentos e principalmente ter coragem para as mudanças que devem ser feitas na estrutura social. Esta é uma das mais injustas do mundo.
 Isso se faz pela política, participando, elegendo representantes confiáveis e querendo ter lugar nas decisões de governo, pois, a democracia implica participação.
 Sem isso ela é sua própria negação, senão uma farsa. Desenvolvi estas ideias no livro Virtudes para um outro mundo possível[Editora Vozes, 2005], em três pequenos volumes.
  

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* Quando em tempos de tantas e tantas criticas negativas pela ‘falta de participação popular, de controle social’, na política pública social de Açailândia do Maranhão – como bem se constatou na assembléia agosto do COMUCAA/Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, quinta-feira, 03/08, e também na assembléia agosto do Fórum DCA, 05/08 - , município com mais de vinte “conselhos’ criados legalmente e bem menos de dez funcionando aos trancos e barrancos, na maioria desvirtuados e desviados de suas verdadeiras atribuições e funções, a um custo bem caro aos cofres públicos, seria bom tom aprendermos e apossar-nos do que foi o 3º Encontro Interconselhos do Maranhão, com representantes açailandenses nos Conselhos Estaduais, e  da sabedoria e dos ensinamentos de Leonardo Boff.

(Eduardo Hirata)


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