domingo, 18 de março de 2018

Frei Betto: Direitos Humanos Questão dos direitos humanos se resume: aceito ou não que toda pessoa seja dotada de radical dignidade?

(Por O Dia, em 19/03/2016)

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Rio - A questão dos direitos humanos se resume: aceito ou não que toda pessoa seja dotada de radical dignidade? Como cristão, digo sacralidade.

Imagine um mendigo na esquina da padaria. O Estado ignora aquele homem deitado no chão. Algumas pessoas passam e deixam-lhe um dinheirinho. Sobrevive dessa esmola. O Estado não lhe estende o braço administrativo.

Porém, se um dia ele não ganhou nenhuma esmola e, à noite, sentiu muita fome e não resistiu à tentação daquela vitrine maravilhosa, com pães, tortas e doces, e atirou uma pedra no vidro, imediatamente o outro braço do Estado, o repressivo, aparece.

Ao falar de política e direitos humanos, há que perguntar: isso que os nossos políticos propõem é para aumentar o lucro de uma minoria ou defender os direitos de todos? É para favorecer um pequeno segmento de produtores e especuladores ou para que toda a nação seja contemplada?

Não sejamos ingênuos. Direitos humanos e sistema capitalista são incompatíveis, porque o próprio sistema proclama que o direito prioritário é acumulação privada da riqueza. Por isso é chamado de sistema do capital.

O maior valor do sistema, a competitividade, é contrário a este que, na família, na escola, na Igreja, ensinamos — a solidariedade. O sistema faz isso ao influir na mídia e até no material didático das escolas.

Nos livros didáticos, os revoltosos mineiros são chamados de inconfidentes. E o movimento, de Inconfidência Mineira. Inconfidente é o rótulo ofensivo que a Coroa portuguesa pôs nos revoltosos, para desmoralizá-los.

É diferente de delação premiada. Lamento que tenha esse nome, mas é justa e necessária. Alguém precisa denunciar. Ainda que seja bandido denunciando bandido. É omissão cúmplice saber de um caso de corrupção e ficar calado.

Os grandes fatores ideológicos que destilam o pior dos venenos à prática dos direitos humanos são o preconceito e a discriminação. Não se pode ter preconceito e nem discriminar ninguém. Volto a dizer: todos somos filhos da loteria biológica. 

Eu poderia ter nascido na Síria, igual a Assad; na África, como os etíopes que morrem de fome; na Guiné, contaminado pelo vírus ebola. E você também. Não dá para achar que somos superiores, melhores. 

Somos um sopro divino que dura poucos segundos nessa breve vida que temos.

Tudo tem começo, meio e fim. Todos haveremos de morrer. E ficamos alimentando preconceito, discriminação, ressentimento...
 
Todos nascemos livres e somos iguais em dignidade e direitos.

Todos temos direitos à vida, à liberdade e à segurança pessoal e social.

Todos temos direito de resguardar a casa, a família e a honra.

Todos temos direito ao trabalho digno e bem remunerado.

Todos temos direito ao descanso, ao lazer e às férias.

Todos temos à saúde e assistência médica e hospitalar.

Todos temos direito à instrução, à escola, à arte e à cultura.

Todos temos direito ao amparo social na infância e na velhice.

Todos temos direito à organização popular, sindical e política.

Todos temos direito de eleger e ser eleito às funções de governo.

Todos temos direito à informação verdadeira e correta.

Todos temos direito de ir e vir, mudar de cidade, de Estado ou país.

Todos temos direito de não sofrer nenhum tipo de discriminação.

Ninguém pode ser torturado ou linchado. Todos somos iguais perante a lei.

Ninguém pode ser arbitrariamente preso ou privado do direito de defesa.

Toda pessoa é inocente até que a justiça, baseada na lei, prove a contrário.

Todos temos liberdade de pensar, de nos manifestar, de nos reunir e de crer.

Todos temos direito ao amor e aos frutos do amor.

Todos temos o dever de respeitar e proteger os direitos da comunidade.


Todos temos o dever de lutar pela conquista e ampliação destes direitos.