quarta-feira, 14 de março de 2018

Quando a segurança pública é só caso de polícia, a violência juvenil explode





(Publicado na "Carta Maior")



Configura entrevista especial com David Levisky, psicanalista e professor da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo



A explosão hormonal e todas as transformações da adolescência levam os jovens a manifestar com mais facilidade os traços violentos inerentes ao ser humano. Entretanto, é desde muito cedo que se precisa estar atento, porque o fator ambiental é crucial e pode levar ao descontrole. “O que precisamos discutir é o que seria a violência própria do processo de desenvolvimento humano”, sinaliza o psicanalista David Léo Levisky. Para ele, a criança e o jovem que vivem num ambiente de negligências afetivas, sociais e até de infraestrutura naturalizam a violência e a tomam como única resposta. “Quando há um crime, é fácil identificar o motivo, a razão prática. Mas o que está subjacente, no contexto da malha social? Aquelas situações em que um garoto tem uma arma, naquele ambiente, é parte do processo de desenvolvimento e faz parte do rito de passagem”, analisa.


Na entrevista , concedida por telefone à IHU On-Line, Levisky ainda revela que a sociedade de nosso tempo cria cisões de mundos. Isso gera violência que acaba sendo naturalizada por todos. “E a nossa sociedade, ao criar uma cisão, fez com que o jovem fosse buscar na criminalidade uma valorização. E os líderes do tráfico de drogas sabem que podem contar com os jovens. A violência fica como um elemento do cotidiano dele”, provoca. É por isso que o psicanalista propõe outro conceito de segurança pública. “Para mim, o lixo abandonado na rua é questão de segurança pública; uma favela com esgoto correndo a céu aberto e as crianças brincando ali com todo o tipo de infecção, é caso de segurança pública. Afinal, nesses casos, você está desconsiderando o sujeito, agredindo a pessoa”, explica.


David Léo Levisky é psicanalista e professor da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Formado pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, possui especialização em Psiquiatria e nas áreas da infância e da adolescência. Também é doutor em História Social pela Universidade de São Paulo. Recentemente, teve seu artigo Uma contribuição psicanalítica para políticos e cidadãos publicado no livro Winnicott: integração e diversidade (Rio de Janeiro: Perspectiva, 2018), organizado por Anna Melgaço. Entre outras publicações, destacamos Adolescência e Violência: ações comunitárias na prevenção (São Paulo, Casa do Psicólogo. 2001) e Um monge no divã – a trajetória de um adolescer na Idade Média Central (São Paulo. Casa do Psicólogo. 2007).


Confira a entrevista na “Carta Maior”.

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·        Oportunidade para o “sistema de garantia de direitos de Açailândia do Maranhão” refletir e discutir sobre a “violência juvenil”, uma das questões mais explosivas, e urgentes,  da “questão social”, vinculado ao tráfico e à criminalidade.
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·        (Eduardo Hirata)
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