sábado, 24 de março de 2018

O CORONEL E O PRÊMIO NOBEL ( e MARIELLE e a caravana do Lula)








O CORONEL E O PRÊMIO NOBEL


por Izaias Almada, especial para o Viomundo, 22/03/2018.


Quero começar o artigo transcrevendo o trecho que antecede uma carta escrita pelo coronel Robson Rodrigues da Silva, oficial da PM do Rio de Janeiro, a um seu colega de profissão também oficial da PM carioca:
 “Cada morte violenta me arranca um pedaço da alma, pois os mais de 60 mil homicídios ao ano nos distanciam, e muito, do lugar civilizatório que, julgo, mereceríamos ocupar como país tão lindo como o nosso. Calo e sofro, choro em silêncio. Não me apraz falar, não me apraz comparecer a rituais de despedida fúnebre e sentir o sofrimento das pessoas, principalmente dos familiares, em respeito a suas dores.”

“O cargo me obrigou a assistir inúmeros enterros, de inúmeras vítimas policiais de uma guerra fratricida que nos prostra enquanto seres humanos. Uma guerra inglória. Abri uma exceção por um dever de consciência; para falar de uma amiga, a vereadora Marielle, porque, se sua morte me impactou, muito mais tem impactado a forma vil e cega e infame como ela vem sendo tratada por algumas pessoas nas redes sociais. Pessoas que não conheceram Marielle.”

“Senti-me na obrigação de informar a amigos desinformados sobre quem ela era; amigos que considero e que são bombardeados por bobagens e falsas informações sobre a vereadora que não conheceram.”

A íntegra da carta, que pode ser lida abaixo, é um documento que, acima de nobre, nos dá a entender que nem tudo está perdido dentro de uma instituição como a PM do Rio do de Janeira e, quiçá, de suas irmãs em todos os estados da Federação. Vale a pena ser lida e divulgada.

Enquanto isso o ex-presidente Lula começa novo giro pelo Brasil, dessa vez pelo sul do país.

Mesmo com a cara fechada de alguns pelo caminho, tudo leva a crer que terá a mesma repercussão das caravanas que já foram feitas no ano passado, com enorme afluência de brasileiros que já entenderam a diferença entre os oito anos de seu governo e o desastre de apenas um ano do usurpador Michel Temer.

O ex-presidente Lula não é só um candidato a candidato. Carrega na sua bagagem um dos melhores governos do Brasil republicano, aquele que mais fez pelo povo trabalhador humilde. Bater nessa tecla começa a ficar cansativo.

Mas Lula carrega também junto a si o ódio e o preconceito de uma parte da elite mais boçal que o Brasil encerra dentro de grandes mansões com muros de três a quatro metros de altura espalhadas pelas principais capitais do país e de algumas fazendas defendidas por jagunços armados, essa turminha da democracia de mão única. Sem falar no caixa forte dos grandes bancos.

Prêmio Nobel da Paz em 1980 o escritor argentino Adolfo Pérez Esquivel tomou a iniciativa de indicar o ex-presidente Lula para a próxima reunião do Nobel, sugestão logo em seguida apoiada por inúmeros parlamentares de países membros do MERCOSUL, entre eles o deputado argentino Oscar Laborde que declarou: “a exclusão de Lula das eleições presidenciais brasileiras seria um fato gravíssimo não só para o Brasil, mas para toda a América Latina”.

Defender Lula nesse momento não é mais uma questão partidária e não estou aqui dizendo nenhuma novidade. É, sim, defender a democracia e a Justiça com J maiúsculo, além de ser o candidato mais confiável de todos que vêm se apresentado para disputar as próximas eleições de outubro.

Confiável no sentido de que já demonstrou que é capaz de fazer um bom governo, enquanto as alternativas no campo progressista são verdadeiras incógnitas, até pela inexperiência política de alguns.

A “aceitação” do golpe mequetrefe dado em 2016 é em meu modesto ponto de vista, um contrassenso.

Todo e qualquer golpe de estado é uma violência contra a democracia, mesmo a
democracia burguesa já bastante viciada em muitas “alternativas” para a manutenção de grupos economicamente fortes na defesa de interesses e de privilégios.

O quadro político do momento está cheio de expectativas não muito interessantes para o Brasil.

O assassinato de Marielle demonstra o que pretendo dizer, esperando eu que esse tipo de violência pare o quanto antes.

A carta do coronel Robson Rodrigues da Silva e a caravana de Lula pelo sul do Brasil são dois respiros de paz e vigência democrática sem o uso das aspas.
Que a primeira repercuta dentro das instituições policiais brasileiras e que as caravanas de Lula sigam o seu percurso em paz rumo às eleições de outubro próximo.


Que a carta do Coronel Robson Rodrigues da Silva, o manifesto de Esquivel e a caravan do Lula pelo sul sejam respiros de paz no conturbado e ensandecido Brasil de hoje...

(Eduardo Hirata)

*