sexta-feira, 3 de março de 2017

Estudo confirma danos à saúde dos moradores de Piquiá de Baixo




Estudo confirma danos à saúde dos moradores de Piquiá de Baixo


·         Mais de vinte anos – vinte anos! – de luta do bravo povo do Piquiá de Baixo, ‘distrito industrial’ (que ironia – esse povo já tinha o lugar como moradia tantos anos antes da primeira indústria chegar, da AMZA, do projeto Grande Carajás, da estrada de ferro, da Vale ainda Valeriodoce estatal, bem antes de Açailândia ‘emancipada’...)  de  Açailândia do Maranhão.

A ‘banalidade do mal’ de que trata Hanna Arendt está toda estampada naquela comunidade devastada pelo capital predatório das riquezas das ‘veias abertas da América Latina’.

Apesar de dezenas, centenas de reuniões, audiências, protocolos, compromissos, acordos, termos, denúncias, dezenas e dezenas de ‘visitas e inspeções demagógicas de parlamentares municipais, estaduais e federais, principalmente e naturalmente às vésperas de eleições, parlamento algum de verdade tomou alguma providência pertinente a “resolver” a situação escabrosa e desumana de existência de mais de mil seres humanos.

Tampouco a justiça (estadual, federal; promotorias, etc) não conseguiram levar ação a bom final, efetivando a tal ‘justiça’, mas todos os Direitos Humanos básicos e ‘especiais’ foram acintosa e desaforadamente violados.

Direitos à vida, à saúde, à conviv~ebncia familiar e comunitária, à moradia., ao meio ambiente saudável e sustentável, à educaçãoi, ao trabalho, ao lazer e ao esporte, à segurança, à ‘justiça’...

Tanta gente – bebês, crianças, adolescentes, jovens, mulheres, homens, idosos(as) – sofreram, adoeceram,’ comeram o pó que o diabo expeliu’, agonizaram e morreram,  sob os braços cruzados e os olhares complacentes das ‘’excelentissimas autoridades judiciárias’, nem aí para as leis que deverim fazer cumprir.

Os governos (federal, estadual, municipal) sempre ajoelharam diante dos interesses empresariais, locupletando-se em nome do tal “progresso”.

Revoltante a maioria do “não tô nem aí” pro Piquiá de Baixo, mas nada surpreendente nesta nossa nação que “não tá nem aí pro caso de um menino assassinado porque ousou ‘frequentar’ a Habib’s – e poderia ser o Bob’s, ou a MacDonald’s, ou o Kings Burger...- ou que tira selfies e abraça um assassino como Bruno, e a imprensa ainda repercute em manchete e clubes de futebol o querem de volta jogando bola e defendendo gols... OU nada surpreendente em uma cidade em que três mil ‘casas populares’ estão sendo ‘construidas a mais de cinco anos e nem se sabe quando serão entregues...

Mas há um alento, e a esperança move o povo do  Piquiá de Baixo e seus/suas apoiadores(as): a Justiça nos Trilhos, os combonianos como Padre Dario, que escreve a matéria a seguir, que reproduzo homenageando na figura deste, sim, este sim, herói, todo o bravo povo do Piquiá de Baixo.

E que o “resto” tome vergonha na cara,  sobretudo os que tem dever de ofício para ‘resolver” aquela situação abominável e respeitar os Direitos Humanos do povo violado.

(Eduardo Hirata)



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Estudo confirma danos à saúde dos moradores de Piquiá de Baixo


(Da ‘Justiça nos Trilhos – Imprensa . 02/03/2017)



O caso da comunidade de Piquiá de Baixo (Maranhão, Brasil) foi tema de estudo e debate no Seminário “Poluição provocada por instalações siderúrgicas e saúde respiratória” organizado pelo Istituto dei Tumori de Milão e realizado no dia 1 de março, com significativa presença de médicos, pesquisadores e estudantes do Instituto.

A técnica de laboratório Carla Valenti apresentou a metodologia utilizada para o estudo: ao longo de vinte dias de trabalho, em 2013, foram aplicados 220 exames de espirometria junto a moradores e moradoras dessa comunidade afetada por atividades de empresas de mineração e siderurgia, para avaliar a capacidade pulmonar das pessoas e eventuais consequências provocadas pelas emissões industriais.

A médica pneumologista Alessandra Busia apresentou o estudo resultante, “Doenças respiratórias e poluição ambiental causada por empresas siderúrgicas: o caso de Piquiá de Baixo, Brasil”. Suas conclusões detectaram situações patológicas em 28% das pessoas examinadas, sendo essas doenças respiratórias de tipo restritivo ou obstrutivo.

Joselma de Oliveira, membro da Associação Comunitária dos Moradores do Pequiá, participou do encontro oferecendo seu testemunho: “Há mais de vinte anos estamos denunciando os impactos da poluição sobre nossa comunidade, mas nossa voz é silenciada ou desconsiderada. Não há dados consolidados sobre a saúde dos moradores, talvez porque essas informações viriam a contestar o licenciamento ambiental dessas empresas. As pesquisas internacionais têm a liberdade e a competência para demonstrar os verdadeiros impactos da mineração e da siderurgia sobre nossas vidas”.

Mais informações sobre o caso:

Piquiá de Baixo é um povoado de cerca 1.100 habitantes, no Estado do Maranhão, onde empresas de mineração e produção de ferro-gusa e aço operam ao lado das casas há cerca de trinta anos.

Os moradores são vítimas de doenças respiratórias, aos olhos e à pele, câncer e diversos tipos de incidentes provocados por atividades industriais que não respeitam medidas de cuidado com a saúde e a segurança.

Nos últimos dez anos, a comunidade de Piquiá de Baixo está lutando por imediata reparação, mitigação da poluição e reassentamento coletivo numa área limpa e em boas condições de saúde.

Esse é também o objetivo de Joselma de Oliveira, apoiada pela rede Iglesias y Minería, que está realizando uma série de encontros na Europa em nome da Associação Comunitária dos Moradores do Pequiá. Encontrou-se no dia 27 de fevereiro em Genebra (Suíça) com as equipes dos Procedimentos Especiais das Nações Unidas atuantes nesse caso desde 2014 e com a Missão Permanente do Brasil à ONU.

( Por Dário Bossi)



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