sexta-feira, 28 de julho de 2017

A Infância Entra em Campo - riscos e oportunidades para Crianças e Adolescentes no futebol




A Infância Entra em Campo - riscos e oportunidades para Crianças e Adolescentes no futebol


Nestes dias 27 e 28 de julho, “era” para acontecer uma formação especifica sobre o tema, destinada a dirigentes, técnicos, preparadores, educadores, pais e Crianças e Adolescentes, das “Escolinhas de Futebol” de Açailândia-MA.

A formação foi decidida no primeiro trimestre deste 2017, reivindicada pelo CONTUA/Conselho Tutelar de Açailândia, e pela AEFA/Associação das Escolinhas de Futebol de Açailândia, e pouco depois,  também pela LEA/Liga Esportiva de Açailãndia, junto ao COMUCAA/Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Açailândia.

O COMUCAA, há muitos anos, financia, através  do FIA/Fundo Municipal para a Infância e Adolescência e conforme seu Plano de Ação e de Aplicação de Recursos, atividades desportivas educativas das “Escolinhas de Futebol”. Neste 2017, por exemplo, financia diretamente quatro delas ( Bola de Ouro, Bom de Bola Bom de Escola, Coração da Vila e Pé de Atleta), como também com atividade de futebol, a Associação de Moradores da Vila Capeloza, e de futsal, a Associação de Moradores do Pequiá de Baixo.Cada uma das Escolinhas de futebol e Associações receberá ao longo do ano, R$40.000,00 – quarenta mil reais.

No entanto, desde o assassinato de ‘VALDIR’,em 2007, fundador da “Escolinha Pé do Atleta”, pot um adolescente ex-atleta da Escolinha,  o tema tem sido objeto de discussões e polêmicas no “sgdca/sistema de garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes” local.

O COMUCAA, principal órgão do “sgdca” no município, de acordo com o ECA/Estatuto da Criança e do Adolescente, artigo 88,  discutiu  e se dividiu quanto á prioridade de destinação de recursos às Escolinhas, ou às atividades esportivas e de lazer educacionais; condenou as condições das praças e equipamentos para a prática salutar e segura das atividades; processou aplicação de recursos, punindo entidades e dirigentes.

O CONTUA sempre questionou a habilitação e qualificação dos recursos humanos, bem como a precariedade do atendimento, sobretudo diante da falta de ‘parcerias’, integração e eficácia da rede, uma das causas apontadas para o assassinato de VALDIR, um dos pioneiros das “Escolinhas de futebol”, e a “exaltação à competividade e ao sucesso profissional”, não só da parte de Escolinhas como de pais, o que estimula(va) a agressividade e a violência.

Recordo que a falecida conselheira do COMUCAA Maria do Carmo Marchezini criticava as péssimas condições dos gramados e das instalações onde as Crianças e Adolescentes ‘treinavam e jogavam’, o que favorecia lesões.

E o ex- conselheiro e presidente do COMUCAA recomendava, sem ser atendido pelo plenário, formação continuada a todo pessoal, inclusive pais e às próprias Crianças e aos Adolescentes.

Destaca(va)-se ainda o descaso do poder publico municipal com o esporte e o lazer ás Crianças e Adolescentes.

Conforme o CONTUA e a AEFA, nos últimos dois anos “os problemas” se ampliaram e  agravaram, envolvendo inclusive conflitos entre dirigentes e preparadores de Escolinhas, sobretudo diante das ações de “peneiras e empresários externos”,mas também disciplinares entre a garota praticante.

Daí a decisão de realizar (essa frustada) “formação específica” de dois dias, que envolveria toda comunidade diretamente envolvida e interessada em “Escolinhas de futebol/ esporte educativo e formativo e suas relações com os DCA/Direitos de Crianças e Adolescentes”. Que agora está ‘prometida” para daqui a um mês, atropelando ‘calendário’ de outras “formações especificas”...

A “formação continuada do sgdca” é uma atribuição do COMUCAA, no âmbito municipal, de acordo com as Resoluções, sobretudo as nº105, 112, 113 e 116, do CONANDA/Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, máximo órgão normativo em DCA.

Em tempo: o Barcelona, hoje um dos três times com maior torcida entre a garotada aqui em Açailândia ( com as do Corintians e do Flamengo...),  faz “marketing” do UNICEF/ Fundo das Nações Unidas para a Infância, que dispõe de uma excelente cartilha sobre o tema, “A Infância entra em campo: riscos e oportunidades para crianças e adolescentes no futebol”.

E Ministérios Públicos ( o federal do Trabalho e estaduais, como os do Pará, de Goiás, de Minas Gerais, de São Paulo) e Judiciários, tem atuando, intervindo e punindo entidades e clubes (como Galo mineiro, a Portuguesa Santista) por irregularidades e afrontas aos Direitos da Criança e do Adolescente quanto ao Esporte, ao Lazer,à Profissionalização, á Educação, á Convivência Familiar e Comunitária, ao Respeito- á Liberdade e á Dignidade.

A seguir, um artigo sobre UNICEF e sua cartilha.

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A Infância Entra em Campo - riscos e oportunidades para crianças e adolescentes no futebol


( Do MPEGO, 24/04/2014)


O sonho é comum a milhares de crianças brasileiras: passar pelas "peneiras" e entrar em um clube para, no futuro, jogar futebol profissionalmente. Com isso, completa o sonho ter a chance de viver do esporte e transformar a vida dos familiares, quase sempre de condições duras. As histórias de sucesso, contudo, encondem a realidade. 

 As oportunidades e os riscos a que estão expostos crianças e adolescentes que desejam ser jogadores profissionais de futebol são o foco da publicação "A infância entra em campo - riscos e oportunidades para crianças e adolescentes no futebol", que foi lançada na última semana na Arena Fonte Nova, em Salvador (BA).

O estudo realizado na Bahia com o apoio do UNICEF mostra que nem sempre os ambientes destinados à prática esportiva se constituem em espaços seguros, onde os direitos da infância e da adolescência são respeitados.

A publicação é uma iniciativa do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan (Cedeca/BA), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e da Secretaria Estadual para Assuntos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 (Secopa/Bahia). A iniciativa contou com o apoio da Associação Brasileira de Magistrados (ABMP), Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e da Juventude (ABMP).

O resultado, de acordo com os pesquisadores, é preocupante, pois muitos direitos se perdem à medida que o processo de profissionalização ocorre. "No País do futebol é natural que as crianças queiram (se tornar jogadores). Mas é preciso que o momento seja oportuno. E que não haja abdicação de nada. Todos os direitos precisam vir juntos", disse Fabiana Gorenstein, oficial da área de proteção do Unicef no Brasil.

De acordo com ela, a carreira de jogador do futebol apresenta "vulnerabilidades", impedindo a garantia integral de direitos à saúde, à educação, à convivência familiar e comunitária e à integridade física e psicológica. Em alguns casos, por exemplo, a convivência com a família é nula.

 Dessa forma, algumas crianças ficam até oito meses sem contato com os pais. "Isso prejudica a formação. Traz prejuízos graves à criança", ressalta Fabiana. A pesquisa mostra também que os meninos e meninas que frequentam centros de formação de atletas, como clubes e escolinhas privadas de futebol, são expostos a riscos como profissionalização precoce, exploração e abuso sexual e afastamento do ensino regular.

Também estão expostos à discriminação racial e de gênero e a riscos em relação à sua integridade física por conta de prática esportiva de alto impacto. Podem ainda ser afastados de suas famílias, o que facilita, dessa forma, a ação de aliciadores.

Denúncias

A ideia de realizar o levantamento surgiu após as denúncias anônimas recebidas sistematicamente pelo Cedeca. Ao longo de dois meses, foram entrevistadas 40 pessoas sobre a influência da prática do futebol na vida de meninas e meninos soteropolitanos. Entre os participantes da pesquisa, estão jogadores, familiares, dirigentes de clubes de futebol, técnicos, ex-atletas, diretores de ONGs que atuam com futebol, crianças e jovens participantes de programas esportivos e atores do Sistema de Garantia dos Direitos de Crianças e Adolescentes.

A pressão por resultados e os interesses econômicos, por parte da família e dos clubes, são destacados pelos entrevistados como as principais razões para o descumprimento da legislação.
"É alarmante observar que, a partir das respostas coletadas, o futebol aparece como um caminho de ascensão social mais atraente, em detrimento da educação formal no sistema público. Predomina a visão do estudo como obrigação, um mal necessário imposto pelas famílias e pelos clubes para obter a permissão de continuar jogando futebol", explica Maria Aparecida de Roussan, do Cedeca/Bahia.

De acordo com a pesquisa, as violações de direitos ocorrem em razão do desconhecimento sobre os direitos dos atletas por parte de atletas e familiares, dirigentes, treinadores e até mesmo os agentes. A ausência de uma legislação que especifique as particularidades na relação do atleta com o clube, determinando os direitos e deveres de ambas as partes, também contribui para que os abusos ocorram.

Na tentativa de mudar esse cenário, o estudo aponta a necessidade de aprovar uma legislação coerente com o Estatuto da Criança e do Adolescente, capaz de assegurar os direitos fundamentais desses jovens, protegendo-os de qualquer situação de vulnerabilidade. Recomenda ainda demarcar com clareza a distinção entre os esportes de alto rendimento, fortalecer os mecanismos de fiscalização e controle já em vigor nas esferas federal, estadual, distrital e municipal, além de promover o diálogo e integração entre escolas e instituições esportivas, assegurando a harmonização e o equilíbrio entre o esporte e o ensino formal.

Com o estudo, o UNICEF e seus parceiros nessa publicação propõem a criação de uma aliança entre os profissionais do futebol (clubes, centros de formação de atletas, empresários, dirigentes, gestores públicos, presidentes de federações), integrantes do Sistema de Garantia de Direitos, o Judiciário e o Legislativo para a construção de estratégias para garantir a prática do esporte de forma segura e inclusiva.

"Além de ser um direito, o esporte pode ser um fator decisivo para melhorar a qualidade de vida de crianças e adolescentes e oferecer condições para o seu pleno desenvolvimento", diz o representante do UNICEF no Brasil, Gary Stahl. "É fundamental que o mundo do esporte se una às organizações voltadas para a proteção de crianças e adolescentes para que possamos garantir a prática do esporte de forma segura para meninos e meninas atletas".

Causas

Fabiana Gorenstein (Unicef) explica que a realidade está ligada, sobretudo, à incompatibilidade entre a Lei Pelé e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Segundo ela, não há harmonia entre esses documentos no sentido de preservar o direito dos adolescentes que querem ingressar no esporte. "Há um desconhecimento mútuo: o mundo esportivo desconhece a garantia do estatuto. E existe um vácuo no estatuto. A criança não deixa de ser criança porque ela pratica esporte de alto rendimento."

A publicação traz, no total, cinco capítulos, além da introdução e da conclusão. Eles abordam, por exemplo, as diferenças entre esporte educacional e esporte de rendimento, além dos números, informações sobre a legislação brasileira e as principais ameaças aos direitos das crianças. A iniciativa de trazer à tona a realidade brasileira nas categorias de base está ligada também ao momento esportivo que o Brasil vive, pois a Copa do Mundo e a Olimpíada ampliam o sonho das crianças e adolescentes. Além disso, histórias de desrespeito aos direitos nos últimos anos têm se tornado fatos recorrentes.

"O diálogo está só no começo. É preciso compatibilizar esses dois mundos, mudar a mentalidade e instaurar na sociedade outra concepção. Garantir direito ao esporte seguro e protegido", conclui Fabiana.