quinta-feira, 14 de abril de 2016

Como tratar de política com as crianças?,



Como tratar de política com as crianças?


Por: 
Maria Alice Setubal*, no “Blog da ANDI/Agência de Notícias dos Direitos da Infância”.
14/04/2016.


A crise política vivenciada pelo Brasil tem se mostrado repleta de radicalismos e polarizações, abordados por inúmeros artigos e reportagens na mídia. A gravidade da intolerância e das discriminações, assim como da incapacidade de ouvir o outro, são evidentes não apenas dentro do Congresso, mas no dia a dia das pessoas comuns. Um exemplo é o caso relatado nas redes sociais de uma médica pediatra que recusou atendimento à filha de uma vereadora do PT. Tamanha violência tem influenciado até mesmo discussões desvinculadas da política, levando a casos extremos, como o da invasão de um gabinete de uma juíza por um homem que tentou queimá-la viva.
Toda essa violência e intolerância também interferem no universo infantil, e atualmente vemos crianças xingando políticos (muitas vezes encorajadas pelos pais) ou mesmo agindo de formas mais agressivas com seus colegas. Em meio a um cenário tão conturbado, como as famílias e as escolas devem tratar de política com os pequenos?
Recentemente, li um post muito simples, mas muito coerente, que pode servir de referência nesse momento. Ele sugeria que, junto às crianças, o adulto:
1.      Não use frases de violência
2.      Não use xingamentos ao se referir a pessoas contrárias à sua posição ideológica
3.      Fale sobre a necessidade de conviver respeitosamente com todos, inclusive aqueles que não concordam com você
4.      Ensine sobre respeito ao outro
5.      Aja de forma pacífica, mesmo em casa assistindo aos noticiários
6.      Tenha paciência para responder aos muitos porquês
7.      Mostre esperança e confiança no futuro
Os adolescentes e jovens também precisam de apoio e orientações em momentos políticos e sociais tão conturbados. Para eles, o exercício da cidadania implica autonomia, empoderamento e participação. O desejo de agir junto à sociedade é expresso por muitos jovens na criação de coletivos, escolas de ativismo e movimentos que cobram transparência da ação pública e buscam intervir na política. É importante que todas essas ações encontrem espaços dentro da escola. Para que os jovens possam colaborar com a construção de uma sociedade mais justa e sustentável, é necessário que a eles sejam oferecidas condições para o desenvolvimento de sua autonomia, de modo que sejam capazes de atuar em prol de mudanças de outros mundos possíveis.
Um bom começo pode ser a implementação de grêmios dentro das escolas, de projetos de educomunicação ou ainda o incentivo à criação de intervenção nos problemas da comunidade. Neste contexto, as tecnologias (como celulares, computadores e máquinas fotográficas e filmadoras) podem possibilitar que as novas gerações exerçam o papel de protagonistas nas comunidades, reais ou virtuais. Exemplos são a criação de petições e abaixo-assinados para a resolução de problemas, as campanhas de financiamento coletivo para a realização de ações culturais e sociais e a criação de reportagens e vídeos nos quais as opiniões dos jovens são expressas. Assim, as conexões entre indivíduos são facilitadas, e criamos espaços de debate e convergência de interesses.
Para participarmos da vida em sociedade de forma mais cidadã, precisamos retomar o espaço comum, a busca pelo diálogo, pela cooperação e pelo compromisso. Afinal, como podemos educar nossos filhos sem darmos o exemplo de racionalidade e ponderação política? Novos mundos podem ser possíveis se fundamentarmos nossas ideias em valores relacionados ao cuidado de si, dos outros e do planeta. Para isso, as relações devem ser mais horizontais, voltadas ao coletivo e não centrada no indivíduo; pautadas pelo respeito, e não pelo ódio.
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*Maria Alice Setubal, a Neca Setubal, é socióloga e educadora. Doutora em psicologia da educação, preside os conselhos do Cenpec e da Fundação Tide Setubal e pesquisa educação, desigualdades e territórios vulneráveis.

Postei no facebook, que em plena semana santa/Páscoa, aqui em Açailândia do Maranhão, na igreja matriz São Francisco, noite de quarta-feira, nos bancos na fila de espera à confissão, um menino, não mais de seis anos de idade, duas baquetas à mão, como se fossem fuzis, metralhadoras ou escopetas, dizia e repetia alto e bom, à pergunta que se fazia o que queria ser quando “grande”: “... vou ser policia federal, pra prender Lula, Dilma, PT, botar tudo na cadeia”... Chamei-lhe a atenção, fazia se acompanhar de uma senhora, idosa, ou avó ou tia.

Pelo menos, este menino “tomou” uma posição,pois a esmagadora maioria de nossa infância e juventude,”... não tá nem aí prá política, pro azar quevier!”, como a maioria de seus pais, suas mães, seus ‘educadores’, suas ‘educadoras’...

E assim caminha a criação de nossos filhos e nossas filhas, netos e netas...

(Eduardo Hirata)


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Por: 
Maria Alice Setubal*, no “Blog da ANDI/Agência de Notícias dos Direitos da Infância”.
14/04/2016.


A crise política vivenciada pelo Brasil tem se mostrado repleta de radicalismos e polarizações, abordados por inúmeros artigos e reportagens na mídia. A gravidade da intolerância e das discriminações, assim como da incapacidade de ouvir o outro, são evidentes não apenas dentro do Congresso, mas no dia a dia das pessoas comuns. Um exemplo é o caso relatado nas redes sociais de uma médica pediatra que recusou atendimento à filha de uma vereadora do PT. Tamanha violência tem influenciado até mesmo discussões desvinculadas da política, levando a casos extremos, como o da invasão de um gabinete de uma juíza por um homem que tentou queimá-la viva.
Toda essa violência e intolerância também interferem no universo infantil, e atualmente vemos crianças xingando políticos (muitas vezes encorajadas pelos pais) ou mesmo agindo de formas mais agressivas com seus colegas. Em meio a um cenário tão conturbado, como as famílias e as escolas devem tratar de política com os pequenos?
Recentemente, li um post muito simples, mas muito coerente, que pode servir de referência nesse momento. Ele sugeria que, junto às crianças, o adulto:
1.      Não use frases de violência
2.      Não use xingamentos ao se referir a pessoas contrárias à sua posição ideológica
3.      Fale sobre a necessidade de conviver respeitosamente com todos, inclusive aqueles que não concordam com você
4.      Ensine sobre respeito ao outro
5.      Aja de forma pacífica, mesmo em casa assistindo aos noticiários
6.      Tenha paciência para responder aos muitos porquês
7.      Mostre esperança e confiança no futuro
Os adolescentes e jovens também precisam de apoio e orientações em momentos políticos e sociais tão conturbados. Para eles, o exercício da cidadania implica autonomia, empoderamento e participação. O desejo de agir junto à sociedade é expresso por muitos jovens na criação de coletivos, escolas de ativismo e movimentos que cobram transparência da ação pública e buscam intervir na política. É importante que todas essas ações encontrem espaços dentro da escola. Para que os jovens possam colaborar com a construção de uma sociedade mais justa e sustentável, é necessário que a eles sejam oferecidas condições para o desenvolvimento de sua autonomia, de modo que sejam capazes de atuar em prol de mudanças de outros mundos possíveis.
Um bom começo pode ser a implementação de grêmios dentro das escolas, de projetos de educomunicação ou ainda o incentivo à criação de intervenção nos problemas da comunidade. Neste contexto, as tecnologias (como celulares, computadores e máquinas fotográficas e filmadoras) podem possibilitar que as novas gerações exerçam o papel de protagonistas nas comunidades, reais ou virtuais. Exemplos são a criação de petições e abaixo-assinados para a resolução de problemas, as campanhas de financiamento coletivo para a realização de ações culturais e sociais e a criação de reportagens e vídeos nos quais as opiniões dos jovens são expressas. Assim, as conexões entre indivíduos são facilitadas, e criamos espaços de debate e convergência de interesses.
Para participarmos da vida em sociedade de forma mais cidadã, precisamos retomar o espaço comum, a busca pelo diálogo, pela cooperação e pelo compromisso. Afinal, como podemos educar nossos filhos sem darmos o exemplo de racionalidade e ponderação política? Novos mundos podem ser possíveis se fundamentarmos nossas ideias em valores relacionados ao cuidado de si, dos outros e do planeta. Para isso, as relações devem ser mais horizontais, voltadas ao coletivo e não centrada no indivíduo; pautadas pelo respeito, e não pelo ódio.
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*Maria Alice Setubal, a Neca Setubal, é socióloga e educadora. Doutora em psicologia da educação, preside os conselhos do Cenpec e da Fundação Tide Setubal e pesquisa educação, desigualdades e territórios vulneráveis.



Postei no facebook, que em plena semana santa/Páscoa, aqui em Açailândia do Maranhão, na igreja matriz São Francisco, noite de quarta-feira, nos bancos na fila de espera à confissão, um menino, não mais de seis anos de idade, duas baquetas à mão, como se fossem fuzis, metralhadoras ou escopetas, dizia e repetia alto e bom, à pergunta que se fazia o que queria ser quando “grande”: “... vou ser policia federal, pra prender Lula, Dilma, PT, botar tudo na cadeia”... Chamei-lhe a atenção, fazia se acompanhar de uma senhora, idosa, ou avó ou tia.

Pelo menos, este menino “tomou” uma posição,pois a esmagadora maioria de nossa infância e juventude,”... não tá nem aí prá política, pro azar quevier!”, como a maioria de seus pais, suas mães, seus ‘educadores’, suas ‘educadoras’...

E assim caminha a criação de nossos filhos e nossas filhas, netos e netas...

(Eduardo Hirata)


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